Bahia mostra como o futebol está parado no tempo
O veto do Bahia à Itaipava Arena Fonte Nova é apenas mais um capítulo nas brigas que os clubes de futebol têm travado com os novos donos dos estádios.
Os baianos juntaram-se à lista que já tinha Corinthians, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Inter e Palmeiras. Esses clubes estão usando estádios novos sem terem precisado pagar por ele, ou ainda sem precisar pagar, casos de Grêmio e Corinthians. Só que esses clubes não entenderam que, pelo modelo de negócios implementado, eles não são mais os únicos donos do espaço (o Grêmio, após a desistência da OAS, é a exceção a essa lista).
Quando o Bahia decide romper com a Fonte Nova por não aceitar, entre outras coisas, que a empresa administradora do estádio tenha mais interesse em realizar outros eventos do que os jogos do clube, ele literalmente joga para a torcida. O problema não é o tratamento “injusto'' que é dado ao Bahia, mas o próprio produto que o clube tem a oferecer a seus consumidores.
Em 2015, foram oito partidas disputadas na Itaipava Arena Fonte Nova sob mando do Bahia. Desse total, sete por competições oficiais (Baianão e Copa do Nordeste) e um amistoso, contra o Shakhtar Donetsk.
Metade dos jogos deu prejuízo, enquanto metade das partidas deu lucro. Dos jogos lucrativos, dois foram irrisórios (R$ 27 mil e R$ 5 mil). Só o duelo contra o Campinense pela Copa do Nordeste, no sábado passado, e o amistoso contra o Shakhtar, em janeiro, deram pelo menos mais de R$ 200 mil de lucro.
O Bahia se ofende por ser preterido para uso da Fonte Nova. O clube reclama que o espaço é usado para casamentos e festas, sem receber a “massa'' torcedora. Só não enxerga, ou não quer falar, que é mais negócio emprestar o estádio outros eventos do que abrir para partidas de futebol.
O que os cartolas do futebol parecem não ter percebido é que nunca houve um investimento privado tão alto na modalidade quanto agora. Logicamente turbinado pela Copa do Mundo, mas esse investimento representa uma nova realidade para o esporte. Não há mais estádio “público''. Os espaços hoje têm um dono que precisa ter retorno sobre o investimento que foi feito. Por isso, ele precisa ver o que é mais vantajoso para o seu negócio.
Ao romper com a Fonte Nova, o Bahia dá um recado amedrontador para a indústria. Os clubes usam a força da torcida para se dizerem vítimas de uma realidade. Só não percebem que eles são incompetentes também para promover um espetáculo mais interessante para o público.
Faltam bons motivos para os torcedores irem aos jogos de futebol. Quem é responsável por pagar a conta desses estádios sofre, na pele, essa realidade. Os clubes, como sempre, não estão preocupados com quem irá pagar a conta. Não dá para culpá-los. Foi assim que viveu o futebol brasileiro desde os anos de Getúlio Vargas, que usava o circo do esporte para entregar entretenimento gratuito às pessoas.
A chave é que o presente mudou. Hoje, ter um estádio novo significa gastar bastante para construí-lo e mais um tanto para mantê-lo. Como não é mais o ente público o responsável por isso, alguém precisa pagar essa conta. O futebol precisa entregar um produto melhor para ser interessante para um estádio ter o time jogando nele. Do contrário, será muito mais negócio receber casamentos, shows, festas religiosas, etc.
O Bahia romper com a Fonte Nova alegando que está fazendo um mau negócio só mostra que o clube segue parado no tempo. O público já cansou do produto que o futebol entrega para seu torcedor. É preciso melhorar a entrega. Foi isso que os clubes ingleses e alemães perceberam há 20 anos. E é por isso que eles são os que têm melhor média de público e renda nos estádios de futebol pelo mundo…