Postado por - Newton Duarte

Barça nas sombras: A história obscura por trás do clube catalão

O lado obscuro do Barça: Conheça a história obscura por trás do clube catalão

Como negócios suspeitos como o de Neymar, assédio a atletas jovens e a nebulosa política interna do clube estão minando a boa imagem blaugraná

Time foi punido pela Fifa por aliciamento de menores

A administração de Sandro Rossell deixou o Barça em xeque | Crédito: Getty Images

De 2008-2013, quando o Barcelona ganhou uma enxurrada de títulos (15, média de três por ano), a projeção global de sua imagem evoluiu em progressão geométrica. Não havia marca ou instituição que não desejasse associar seu nome ao do clube. Além de representar um futebol de alta qualidade, simultaneamente o Barça vendia um pacote de correção ética, uma agenda filantrópica e supostos diretores transparentes.

Bastou, porém, aparecer um certo “Caso Neymar” para que esse mar de rosas fosse acometido de uma tempestade, que em janeiro afundou Sandro Rosell, presidente que estava no cargo desde julho de 2010, incapaz de explicar a quantia paga na aquisição do astro brasileiro no ano passado. A crise foi ampliada em 2 de abril, quando a Comissão Disciplinar da Fifa sancionou a entidade com multa de aproximadamente 370.000 euros e a proibição de contratar por um ano, devido a irregularidades em transações envolvendo dez estrangeiros menores de 16 anos de 2009 a 2013. O Barça teria violado regulamento que só permite as negociações internacionais com jogadores maiores de 18 anos. Rosell renunciou.

A resposta veio em seguida por meio de seu novo presidente, Josep María Bartomeu, que defendeu a integridade de La Masia — o mítico celeiro de craques — e insinuou complô que poderia envolver agremiações adversárias. Três semanas mais tarde, o órgão máximo do futebol mundial concedeu efeito suspensivo: o Barcelona poderia reformular um elenco estelar, mas combalido, e contratando craques como Luis Suárez, mesmo sob uma rigorosa suspensão de oito partidas dada pela mesma Fifa. A entidade, no entanto, confirmaria a suspensão e a multa pouco antes do fim da última janela, em agosto.

Para completar, em 25 de abril, morreu aos 45 anos Tito Vilanova, que mantivera o nível da equipe após a saída de Pep Guardiola, na temporada 2012-2013, em decorrência do câncer na glândula parótida que vinha combatendo há anos. Um quadrimestre para os barcelonistas esquecerem.

Esse “lado negro da força” do Barça não vem de hoje e abrange uma verdadeira linhagem de dirigentes envolvidos em negócios obscuros. Eleito em 1978, o construtor Josep Lluís Núñez se tornaria o mais longevo (22 anos) presidente blaugraná. Ganhou a primeira das quatro Ligas dos Campeões (em 1992) e expandiu o clube, ampliando o Camp Nou, erguendo La Masia e o fabuloso museu. “Seus avanços foram a mentalidade empresarial, de resultado”, afirma Carles Santacana Torres, historiador do Barça. A mancha em seu currículo, porém, viria em 2011, quando foi condenado a seis anos de prisão — pena posteriormente reduzida em dois terços — por sonegação e subornos a fiscais da receita federal espanhola.

O advogado Joan Laporta, fervoroso opositor de Núñez, venceu as eleições de junho de 2003. Vieram duas etapas de ouro, o período Ronaldinho/Rijkaard e a primeira metade da era Messi/Guardiola. Fora das quatro linhas, impulsionou-se a imagem “solidária” do clube. Em setembro de 2006, o Barcelona assinou com o Unicef, que teria a logomarca na concorridíssima camisa e ainda receberia 1,5 milhão de euros por ano. O orçamento anual incrementou em mais de 200%, superando os 400 milhões de euros.

Entretanto, apesar de triunfante, a trajetória de Laporta foi balançada por diversas controvérsias: vieram à tona as regalias dadas a alguns jogadores, incluindo viagens em voos individuais e um suposto déficit de 77 milhões de euros em seu último ano no cargo. Em 2009, foi divulgado que tramava negócios com Gulnara Karimova, filha de Islam Karimov, ditador do Uzbequistão. No ano seguinte, recebeu críticas por seu uso político do Barcelona quando concorreu ao governo catalão. “Não foi seu único erro, mas com certeza o pior”, diz Agustí Benedito, segundo colocado nas eleições de 2010, vencidas por Sandro Rosell.

No dia 30 de setembro de 2013, o farmacêutico Jordi Cases e o gerente de bancos aposentado Joan Armés compareciam ao Camp Nou. Representando o grupo GO Barça, apresentaram um pedido formal de explicações em assembleia dirigida a Sandro Rosell e a três vice-presidentes, Josep María Bartomeu (atual presidente), Javier Faus e Jordi Cardoner. O documento esmiuçava 11 tópicos de supostas irregularidades, todas envolvendo Rosell e associados. Entre elas, a “pouca transparência” na venda do espaço de camiseta à Qatar Airways, em 2011, substituindo o Unicef. Contudo, o ponto principal da carta do GO Barça era o questionamento sobre a compra de Neymar. Havia uma disparidade de valores revelados por catalães (57,1 milhões de euros) e santistas (17,1 milhões). O caso foi levado em 5 de dezembro à Audiência Nacional da Espanha.

Rossell e Neymar na chegada do atacante, cuja compra expôs as sujeiras do Barça

Rossell e Neymar na chegada do atacante, cuja compra expôs as sujeiras do Barça | Crédito: Diário AS

“No dia 24 de dezembro enviaram uma carta, assinada pelo [então porta-voz do Barcelona Toni] Freixa, ameaçando Jordi Cases, dizendo que iriam arruiná-lo e ir atrás dele”, lembra o advogado de Cases, Filipe Izquierdo, sobre a guerra que se travou nos bastidores entre a ida de seu cliente ao tribunal e o anúncio, em 20 de janeiro deste ano pelo jornal madrilenho El Mundo, de que o órgão investigava a compra de Neymar. A reportagem do jornal trazia uma bomba bem maior: Rosell havia pagado 95 milhões de euros pelo prodígio santista, não 57,1 milhões. Três dias depois, Rosell anunciou sua demissão. Já no dia seguinte, o recém-empossado Bartomeu convocou a imprensa para repassar os números da operação. Segundo o clube, os 95 milhões alegados pelo periódico não correspondiam à verdade, porque tal conta incluía o salário anual do jogador, 8,8 milhões de euros. Mas a nova versão do valor, 86,2 milhões de euros, excedia os 57,1 milhões anunciados.

“A demissão de Rosell nos pegou de surpresa”, admite Joan Armés. Para Armés, não foram apenas as maracutaias que derrubaram Rosell. “Antes ninguém se metia no vestiário. A turma de Rosell gere a herança muito mal. Eles agiam por ressentimento, para desmontar o que veio antes, como a disciplina imposta pelo Pep [Guardiola]. E o fato de o Neymar ganhar mais que todos é uma bomba-relógio. Disfarçaram de muitas maneiras, mas é ele quem recebe mais.”

Para detratores como Armés ou o grupo No a La Reforma — que questiona a já aprovada obra do Camp Nou, avaliada em 600 milhões de euros —, a batalha ainda continua. Afinal, quem manda agora é Bartomeu, braço direito de Rosell, e outros velhos conhecidos, Javier Faus e Jordi Cordoner, permanecem vice-presidentes. “Apesar de que os estatutos permitam que Bartomeu seja presidente, entendemos que é preciso convocar eleições”, diz Armés. “Bartomeu era seu homem de confiança.”

LAMA NO CAMP NOU

Sonegação

Ao comprar Neymar, o Barcelona divulgou ter gastado 57,1 milhões de euros. A quantia exata, no entanto, era quase 30 milhões de euros maior. Ao esconder o valor real, o clube teria driblado a Receita em 9 milhões de euros.

Apropriação Indébita

Quando era presidente do clube, Joan Laporta é acusado de embolsar 3 milhões de euros de comissões pagas pelo Bunyodkor-UZB, que deveriam ter ido para o Barça.

Ricardo Teixeira se envolveu em negócios do Sandro Rossell

Ricardo Teixeira se envolveu em negócios do Sandro Rossell | Crédito: Revista Placar

Desvio de Dinheiro

Sandro Rosell teria feito sociedadecom o ex-presidente da CBF,Ricardo Teixeira, em uma empresade fachada que comprou osdireitos de um amistoso do Brasil contra Portugal, em Brasília. Rosellé acusado de depositar 7,7 milhõesde euros na conta da flha de 10 anos de Teixeira.

Laporta também é acusado de se beneficiar

Laporta também é acusado de se beneficiar | Crédito: Revista Placar

Uso da Máquina

Laporta também é acusado de ter usado sua gestão como trampolim para disputar a presidência da Catalunha, na Espanha, em 2009.

Espaço publicitário na camisa do clube teria sido usada de forma irregular

Espaço publicitário na camisa do clube teria sido usada de forma irregular | Crédito: Revista Placar

Irregularidades Diversas

Rosell ainda respondeu por mais 11 irregularidades, entre elas a venda do espaço publicitário à Qatar Airways, o primeiro da história do clube.

Clube tem ligação com ditaduras no mundo

Clube tem ligação com ditaduras no mundo | Crédito: Revista Placar

Ligação com Ditaduras

O mesmo Laporta teria negociado com o Uzbequistão, cujo governo é uma ditadura militar-religiosa acusada de explorar o trabalho infantil e governada pelo mesmo presidente, Islam Karimov, desde a independência da antiga URSS, em 1991.

Rombos no Caixa

Laporta também foi acusado de deixar um déficit de 77 milhões de euros em seu último ano de gestão.

Time foi punido pela Fifa por aliciamento de menores

Time foi punido pela Fifa por aliciamento de menores | Crédito: Revista Placar

Aliciamento de Menores

Clube foi condenado pela Fifa por aliciar dez estrangeiros menores de 16 anos. Clube foi multado em 450.000 francos suíços e proibido de contratar jogadores nas próximas duas janelas de transferência.