Postado por - Newton Duarte

Beleza e muita paixão: Cada vez mais as mulheres ocupam os Estádios

Não basta torcer, elas querem ir ao estádio

FANÁTICA

A estudante Marta Nunes, de 20 anos, faz parte de uma torcida organizada do Santos. Desde agosto, ela viu 16 jogos no estádio

Uma pesquisa com moradoras do Rio de Janeiro e de São Paulo mostra que as torcedoras da atualidade são mais jovens e apaixonadas pelo esporte


Já faz tempo que futebol não é coisa de homem. Em 1991, a FIFA organizou a primeira Copa do Mundo feminina. Hoje, na glamourosa premiação de Melhor Jogador do Planeta, a melhor atleta de chuteiras divide os mesmos holofotes que sua contraparte masculina. É uma mudança que não se restringe às quatro linhas.No início de novembro, o suíço Joseph Blatter, presidente da Fifa, viajou a Teerã para apelar ao presidente iraniano, Hassan Rohani, que alterasse uma lei que impede as mulheres de ir aos estádios. Para Blatter, a presença das mulheres nas arquibancadas “também é futebol feminino”. Sete meses antes da Copa de 2014, as mulheres ocupam cada vez mais espaço entre os torcedores da versão masculina do esporte – ainda a mais popular e rentável. Seja nos estádios mundo afora ou nas partidas do Campeonato Brasileiro, a torcida feminina é uma força crescente.

Uma pesquisa encomendada pela Rádio Globo à agência Box1824 sobre o perfil da torcedora de futebol investigou o fenômeno. Depois de anos reduzido pela violência de torcidas organizadas, o interesse das mulheres nas arquibancadas ressurgiu entre torcedoras apaixonadas e jovens. Segundo a pesquisa, que ouviu 461 moradoras dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, 59% das que se dizem torcedoras costumam assistir a partidas de futebol até duas vezes por semana – entre os homens, são 40%. Nada menos que 74% das torcedoras têm entre 18 e 39 anos, em comparação com 60% dos homens nessa faixa etária (leia mais dados no gráfico abaixo). Isso não quer dizer que as mulheres só passaram a gostar de futebol agora. No início do século passado, as partidas eram eventos da alta sociedade, e a mulher cumpria um papel importante. “A ideia era copiar os hábitos ingleses e tornar a prática restrita a uma determinada elite”, afirma Leda Maria da Costa, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre esporte e sociedade da Universidade Federal Fluminense (UFF). Quando o Fluminense (um dos clubes mais antigos do Brasil) recebia algum jogo entre as décadas de 1910 e 1920, os jornais estampavam fotos com mulheres para dizer que o futebol era um programa para a família. O esporte ajudou a mulher a fazer parte do ambiente público. “Estar nos estádios era uma forma de paquerar, namorar e participar de um evento sem ser questionada”, diz Costa.

Paixão e graça nas arquibancadas

O afastamento da mulher dos estádios deu-se nas décadas seguintes, com a popularização do futebol pelo país. Elas não tinham independência, social ou financeira para ir aos estádios por conta própria. A violência selou a distância. As mulheres mantiveram viva sua paixão pelos clubes e pela Seleção Brasileira por meio da televisão. O retorno gradual das jovens às arquibancadas foi ajudado pelas melhorias nas estruturas dos estádios. Para Carmen Rial, professora de antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e estudiosa do futebol, o recente aumento de mulheres nos estádios reflete suas conquistas numa sociedade ainda machista. “A presença feminina espelha uma mudança geral, em que a mulher é mais reconhecida socialmente e pelos poderes públicos.”

Torcedora do Bahia mostra todo seu amor ao clube

A estudante de relações internacionais Marta Nunes é filha única, e seus pais e primos nem sequer gostam de futebol. Moradora de São Bernardo do Campo, São Paulo, Marta tem 20 anos e acompanha o Santos Futebol Clube desde os 15. “Morava num prédio com muitos moleques e comecei a acompanhar futebol por causa deles”, afirma. O amor pelo time de Pelé e Neymar nasceu depois de um vizinho e seu pai a levarem para assistir a uma partida do Santos contra o Fluminense em 2008, na Vila Belmiro. “De agosto para cá, fui a 16 jogos.” Ela considera o estádio um ambiente ainda machista – a torcida organizada proíbe mulheres de ir a certas partidas. Marta atribui às companheiras responsabilidade por parte do preconceito. “Tem mulher que se filia só para encontrar namorado e aí vai para os jogos para conversar com as amigas.” É possível – e ninguém pode culpá-las. Alguns jogos de futebol são tão monótonos que um bate-papo é bem-vindo. Na hora de um ataque perigoso ou do grito de gol, a conversa acaba, e a emoção toma conta de homens e mulheres no estádio. Com elas na arquibancada, a festa fica cada vez mais completa.


Fonte: Felipe Pontes - Época

Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA e Reprodução