Arena Pantanal vazia é a prova da desconexão de nossos dirigentes com a realidade
Depois de um bom tempo sem futebol, o calendário nos presenteia com o retorno da liga nacional. Festas espalhadas por todos os cantos do país, torcidas animadas e repletas de projeções para a campanha a seguir. É o reencontro com o futebol gerando uma grande repercussão. Essa narrativa é atraente e se repete em diversos países do mundo, mas sabemos que ainda não é nossa realidade. Neste domingo, o jogo considerado pela CBF como abertura do Brasileirão, entre Cruzeiro e Corinthians, serviu mais como um banho de água fria, um lembrete ingrato: temos um péssimo produto, e seus responsáveis não conseguem reconhecer isso.
Forçada a atuar fora de Minas Gerais por punição imposta ainda no ano passado, a Raposa entrou em acordo com o ex-jogador e hoje empresário Roni para, por R$ 1 milhão, levar o jogo até Cuiabá, na Arena Pantanal. Nenhum problema até então. Foi na decisão do preço dos ingressos que os dirigentes, mais uma vez, erraram na mão. Enquanto o mais barato saiu por R$ 50, o mais caro chegava a R$ 160. Tudo isso para um duelo entre reservas. O resultado completamente previsível foi de que, durante o jogo, diante do público de apenas 11.733 pessoas, pudemos ver mais uma vez como a escolha das cores dos assentos da Arena Pantanal foi bem feita. O mosaico formado pelas cadeiras é realmente muito bonito.
No meio da semana, o Cruzeiro foi derrotado pelo São Paulo por 1 a 0 na partida de ida da Libertadores. Precisava preservar seus principais atletas neste final de semana para chegar bem ao jogo de volta, no Mineirão. Mesmo que tivesse vencido, provavelmente teria entrado com os reservas, afinal não dá para comparar um mata-mata de continental com a primeira rodada do nacional. Já o Corinthians caiu diante do Guaraní, do Paraguai, por 2 a 0, e tem missão mais difícil. Evidentemente entraria sem seus melhores jogadores. Todos sabiam de todas essas informações, então por que pagariam entre R$ 50 e R$ 160 para ver um duelo desses?
A desconexão dos dirigentes com a realidade é gritante e parece que levará um bom tempo para ser corrigida. Os dois times que se enfrentaram em Cuiabá, neste domingo, são ótimos exemplos disso. Enquanto o Cruzeiro teve de ver um grande setor do Mineirão vazio durante um dos maiores clássicos da história com o Atlético Mineiro, na final da Copa do Brasil do ano passado – por culpa da Minas Arena, é verdade –, o Corinthians, partida após partida, lota seu estádio, exceto pelo setor em que os preços praticados chegavam à casa dos R$ 350, até o mês passado. Apenas em duelos importantes pela Libertadores conseguiu preencher as cadeiras que ficam do lado das cabines de transmissão e dos bancos de reserva.
Conheça seu produto e atribua a ele seu valor justo. Só assim os estádios lotados poderão voltar a ser regra, e não exceção, no futebol brasileiro. É verdade que os estádios caros precisam de uma manutenção igualmente cara, mas primeiro se oferece algo de qualidade para então se cobrar um preço elevado, e não o contrário.