Com faturamento de R$ 150 mil, rede de restaurante alavanca receita dos clubes
Com Grêmio como precursor, clubes firmam parceria com empresa para abertura de lanchonetes e cantinas. Franquia pode custar até R$ 350 mil para o empreendedor
O setor alimentício é a bola da vez nos clubes de futebol. Depois de Grêmio, Bahia e Cruzeiro, foi a vez de o Palmeiras confirmar a abertura de sua própria rede de restaurante para o segundo semestre deste ano e reforçar a tendência de um novo modelo de negócio como fonte promissora de receita.
O potencial visto pelas equipes de futebol é reflexo de um grande impacto gerado pelo setor na economia do país. De acordo com uma pesquisa feita pela Assert (Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador), o ramo de alimentação e bebidas foi responsável por 31%, quase um terço da inflação, do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) em 2014. O número de pessoas que comem fora de casa também cresceu e hoje representa o equivalente a 76% do salário mínimo nacional (R$ 788).
A possibilidade de investimento foi detectada por Fernando Ferreira, sócio proprietário da Sport Food, após diversas análises realizadas para a Pluri Consultoria – empresa a qual também é dono - sobre o nível de engajamento dos torcedores brasileiros e potencial de consumo deles.
“Os clubes têm torcedores com índice de consumo muito grande, mas são poucos os recursos disponíveis a eles. Os clubes de futebol, apesar de terem importância emocional com essas pessoas, não conseguem efetivamente ter receitas com a exploração justamente porque não oferecem produtos no mercado. O licenciamento das linhas têxtil e souvenirs ainda é um mercado pequeno e que não consegue gerar recursos suficientes para a marca”, afirmou Ferreira em entrevista exclusiva ao iG.
Torcedor do Internacional na Hamburgueria 1903, do Grêmio. Cerca de 15% dos clientes da lanchonete são colorados - Divulgação
Foi olhando para este mercado que o Grêmio se tornou pioneiro no Brasil ao abrir a primeira rede de hamburgueria em Porto Alegre (RS), em setembro do ano passado. Em parceria com a empresa de Fernando, a equipe gaúcha inaugurou a Hamburgueria 1903, que em menos de um ano de funcionamento ganhou 11 novas unidades, sendo seis delas na capital e outras cinco em cidades do interior do Estado, e se tornou referência para os outros times.
O sucesso precoce faz parte de um conceito da Sport Food, que aposta no resgate da história do clube e as características da região para determinar a linha alimentícia e design da loja. Pela tradição dos gaúchos com o churrasco, a hamburgueria foi o caminho do Grêmio, enquanto o Palmeiras - devido à origem italiana - apostou na rede de cantinas. Estratégias para aproximar do torcedor e atrair também novos consumidores, não necessariamente fã dessas equipes.
A qualidade do serviço oferecido na Hamburgueria 1903 conseguiu até mesmo superar a acirrada rivalidade no sul do país. De acordo com Fernando Ferreira, 15% dos clientes da lanchonete são torcedores do Internacional. “A maioria não tem rejeição. O hambúrguer é saboroso, e os gaúchos, que são conhecidos por serem muito exigentes, apreciam. Quem pensa que só gremista vai à lanchonete, não sabe a verdade. A hamburgueria virou uma opção gastronômica. Em dias da semana, é comum você ver homens de terno e gravata e mãe com os seus filhos”.
Para o empreendedor que deseja investir neste tipo de negócio, será necessário desembolsar cerca de R$ 350 mil para abrir uma franquia em shopping ou rua. Se optar por algo mais compacto, a opção é o food truck, que tem o investimento inicial estipulado em R$ 150 mil. O primeiro modelo tem um faturamento médio mensal também de R$ 150 mil.
A expectativa segundo Beto Carvalho, executivo de marketing do Grêmio, é abrir de cinco a oito lojas ainda neste ano na capital e mais duas no interior. No Nordeste, o Bahia prevê a abertura de 30 unidades do Caldeirão Tricolor em cinco anos, enquanto o Cruzeiro diz que a primeira lanchonete (também de hambúrguer) será inaugurada em agosto. Para os clubes, ganhar dinheiro agora depende também da fome.