Postado por - Newton Duarte

Campeã mundial, Ana Marcela fala da preparação para a olimpíada no Rio

Baiana campeã mundial, Ana Marcela fala de preparação para Jogos Olímpicos no Rio

Tricampeã do Circuito Mundial, medalha de ouro no Mundial de Esportes Aquáticos de Barcelona e pentacampeã da Travessia Mar Grande-Salvador, a baiana Ana Marcela Cunha conversou com o Bahia Notícias sobre a sua atual temporada e os planos para o Mundial de 2015 e as Olimpíadas de 2016. Além disso, também falou um pouco sobre o cenário nacional e estadual da modalidade, que cresce a cada ano e já produz novos talentos para a Maratona Aquática.

Bahia Notícias: Esse ano você já assegurou o titulo do Circuito Mundial, vem liderando o Nacional e foi indicada ao prêmio de melhor atleta do ano pela FINA. Mesmo sem terminar a temporada, já daria para fazer um levantamento do seu desempenho em 2014?

Ana Marcela: 2014 foi um ano bom. Eu consegui conquistar quatro das seis provas que tiveram na copa do mundo e subi no pódio em todas. Nas provas do brasileiro foram quatro provas e eu venci todas. E ainda teve os 36km da Capri-Napoli que eu venci, que era um desafio para a gente. Também é uma honra muito grande concorrer mais uma vez ao prêmio, sendo escolhida entre tantos outros atletas. O que demonstra que o nosso trabalho vem sendo bem feito, o que mostra que estamos no caminho certo. Então, esse é um dos melhores anos em relação ao esporte para mim. Estou bem feliz.

BN: Você venceu a Travessia Capri-Napoli, quebrando o recorde da prova, e ainda fez uma homenagem ao tricampeão da Fórmula 1, Ayrton Senna. De onde surgiu a idéia de fazer esse tributo ao Senna?

AM: Eu acho que tinha tudo a ver com a prova, por ser um desafio que nós não estávamos acostumados e estávamos levando a sério. Homenagear o Senna nos deu uma inspiração a mais para conquistar a travessia, aquela força no final de você lembrar tudo que o Ayrton fez e de todo legado que existe até hoje. Começou pelo meu pai que sempre foi fã e viu bastante da carreira do Ayrton. Eu não acompanhei tanto (pela idade), mas sei da história dele e achamos por bem prestar essa homenagem a ele. Deu certo.

BN: Você falou após a vitória, onde também quebrou o recorde da travessia, que a prova era bastante complicada. Quais foram às dificuldades apresentadas na Travessia Capri-Napoli?

AM: Bom, a maior dificuldade que tive foi quando perdi o pelotão masculino e tive que terminar a última 1h40 praticamente sozinha nadando. Essa parte ainda era a mais difícil, porque estou acostumada com prova de duas horas, mas essa tinha 6h24, sendo que a ultima parte é a mais cansativa. Claro que, além disso, tem a correnteza e o mar agitado, mas para mim a maior dificuldade é ter o psicológico para acabar a prova sozinha.

Touca em homenagem a Ayrton Senna

BN: E que tipo de provas prefere?

AM: Na verdade, a prova dos 36km é um desafio maior de completar, a de 10km eu me dou super bem e as de 25km são uma vez a cada dois anos quando tem o Mundial.  E concorro na prova dos 36km para justamente chegar à prova dos 10km e achar que nadar ¼ do que a gente já nadou é mais fácil.

BN: Fazendo uma retrospectiva de sua carreira, você estreou em Jogos Olímpicos nas Olimpíadas de 2008, em Pequim, quando tinha só 16 anos. Antes disso, já tinha deixado Salvador para treinar. Essa decisão foi tomada por achar que era preciso sair da cidade para se condicionar melhor aos eventos que disputava?

AM: Eu me mudei em 2007, para a disputa dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, mas antes de me mudar eu já estava em seleções absolutas e tinha disputado o sul-americano e o mundial. Como eu cheguei em um bom nível com pouca idade, recebi uma proposta que não tinha nem comparação ao que eu tinha na Bahia. Tem uma organização maior, toda uma infraestrutura melhor por trás do atleta e você não tem que se preocupar em fazer nada. Hoje, por exemplo, vejo o Allan (do Carmo) que graças a Deus ta conseguindo cada vez melhores resultados. Mas ele faz musculação em um lugar, treina em uma piscina, preparação física em outro lugar... aqui eu vou andando pro meu clube, faço tudo lá e depois volto pra casa. Ficou tudo mais fácil.

BN: Falando no Allan, você acompanha o que acontece no cenário estadual? Ainda tem contato com nadadores que continuam por aqui?

AM: Não perdi o contato por aí. Converso muito também com o Luis Rogério Arapiraca, que nada algumas provas de maratona, mas nada mais em piscina de fundo, tem o Allan também... A gente conversa bastante quando tem viagem, da realidade que é, como acontecem as coisas. Mas assim, o Allan tem um patrocínio que ajuda ele bastante desde novo, talvez seja o maior motivo dele não ter mudado. Quando me mudei, vim com os meus pais e foi mais fácil pra mim.

Allan do Carmo e Ana Marcela na Copa do Mundo

BN: Saindo um pouco da estrutura, o Brasil tem apresentado uma boa geração nessa modalidade, mesmo sem um planejamento da CBDA. Você acredita que a partir de agora existirá uma maior atenção a maratona aquática no país?

AM: Nós já estamos crescendo. Depois de 2006, com a participação minha, do Allan e da Polyana (Okimoto) no Mundial, nós estamos juntos na seleção até hoje e isso demonstra que não é um trabalho de uma hora para outra. Não foi uma coisa conquistada de uma coisa para outra e estamos batalhando ainda para chegar cada vez mais longe, mesmo com as dificuldades que existiam. Hoje melhoramos bastante juntos a CBDA, tendo uma ajuda maior e já dizendo o que a gente quer durante o ano, as viagens, competições, treinamento em altitude, e eles vêm ajudando a gente da melhor forma possível.

BN: E você já enxerga alguma melhora em relação às gerações futuras? Existe algum nome de destaque nas futuras gerações?

AM: Hoje está tudo mais fácil. Nesses anos que temos evoluído, as seleções juniores da maratona tem tido melhores “regalias”, vamos falar assim. Quando eu comecei, não existiam campeonatos mundiais júnior, por exemplo, e eles estão podendo aproveitar. É muito capaz que a maratona cresça mais a partir de agora, com todo mundo participando de uma seleção da categoria e a CBDA levando para as competições. Como estamos bastante adiantadas, não acredito que os atletas juniores consigam chegar a 2016. Mas em 2020 existe.

BN: No final do ano teremos mais uma edição da maratona Mar Grande-Salvador. Tem previsão de participar do evento? Quais são suas expectativas de participar de mais uma edição da prova?

AM: Eu pretendo nadar. É uma questão de saber quando vai acontecer para organizar o calendário para poder participar. É um torneio de alto nível que infelizmente tem poucas meninas, mas eu sempre termino nadando com os meninos e sempre é bom voltar à terrinha, rever os familiares e comer um pouco da comida baiana (risos).

Ana Marcela na Travessia Mar Grande-Salvador

BN: Voltando ao cenário baiano, você se destacou inicialmente nas maratonas aquáticas ou migrou das piscinas para o mar?

AM: Na verdade, todo mundo que compete sempre começa pelas piscinas. Mas eu comecei a apresentar resultados na maratona. Sendo assim, não sou um caso de atleta de piscina que foi para a maratona e sim de uma atleta do mar que de vez em quando compete em provas de piscina. Eu me considero mesmo uma maratonista.

BN: Nessa época, Salvador já estava deficitária em relações a equipamentos esportivos aquáticos. Isso ajudou a sua decisão de ir para o mar ou foi mesmo uma questão de adaptação?

AM: Foi mais uma questão de escolha mesmo, de já ter resultados e praticar provas maiores. Na minha época ainda peguei um pouco de estrutura, ali no centro olímpico da antiga Fonte Nova. Para mim o maior motivo sempre foi mesmo de gostar de provas mais longas e se adaptar a isso.

BN: E em relação ao futuro, como está o planejamento?

AM: Hoje estou bem passo a passo mesmo. A próxima competição que estamos pensando ainda são as provas que faltam do Circuito Mundial onde queremos chegar ao pódio e a medalha de ouro. E depois vamos pensar até Kazan (sede do Mundial de 2015, na Rússia) onde teremos 10 meses de treino até a competição. Temos que investir bastante para conseguir bons resultados e depois criar um planejamento até 2016.

BN: E em relação às Olimpíadas, como são definidos os representantes brasileiros pra competição?

AM: Vai ter uma seletiva masculina que será disputada em Dezembro, para a Copa do Mundo de Kazan. Eu e Poliana já estamos classificadas no feminino. No masculino, vai ter uma seletiva que será disputada no dia 7 de dezembro e dela saem quatro selecionados. Eles vão para uma etapa da Copa do Mundo, onde sairão os dois classificados para a fase final em Kazan. Lá, os 10 melhores do torneio vão as Olimpíadas e daí tem outra seletiva onde classificam outros 15 para o Rio 2016. Porém, se um brasileiro ficou entre os 10 da Copa, não se pode ter outro brasileiro na segunda tentativa. A única chance de se ter os dois brasileiros é deles estarem classificados pela Copa do Mundo.

BN: Na sua carreira você conseguiu várias medalhas em copas do mundo ou circuito mundial. Já tem pensado na Olimpíada como um desafio a ser batido?

AM: Eu treino bem passo a passo, justamente para não acontecer o que aconteceu em 2011 quando fiquei de fora de 2012. Estou bem realista e quero hoje fazer etapa por etapa para chegar lá na frente cumprindo essas etapas e estar mais preparada para a meta final.