Dirigentes apontam ações ilegais no comando do futsal brasileiro
Dezoito das 27 federações que formam a Confederação Brasileira de Futsal (CBFS) protocolaram na última terça (23) pedido de instauração de inquérito nas polícias Civil e Federal, no Ceará.

Elas apontam irregularidades nas gestões de Aécio de Borba, que renunciou em meados de 2014, e de Renan Tavares e Louise Bedé, atuais presidente e vice.
Estados do Sul, Sudeste, Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país denunciam desvio de verba, lavagem de dinheiro e pagamentos feitos aos dirigentes por empresa que devia prestar serviços.
Uma das queixas diz respeito ao pagamento mensal feito aos chefes da entidade por uma empresa do genro do ex-mandatário da CBFS.
"Documentos comprovam pagamentos mensais de R$ 10 mil durante todo o ano de 2013 ao presidente [Tavares], à mulher dele [Edileide Menezes] e à vice [Louise]", diz o presidente da Federação Mineira de Futsal, Marcos Madeira, líder da oposição.
Segundo Tavares, esses pagamentos referiam-se à "gratificação pecuniária [ou seja, remuneração por serviços extras] devida aos integrantes do Comitê Executivo da Liga Nacional de Futsal".
A versão é contestada pelas federações porque outros dirigentes não receberiam tais pagamentos.
Em relação ao cheque emitido em nome de sua mulher, o presidente da CBFS diz que ocorreu "apenas em razão de sua conta ter sido indicada para a realização do depósito dos valores então devidos".
A Folha teve acesso às cópias de cheques e recibos de março, abril, maio e junho referentes a pagamentos da empresa ARFE - Produção e Logística de Eventos Ltda às três pessoas citadas por Madeira.
Sócio da ARFE, José Armando Silva Gondim é genro de Aécio de Borba, ex-presidente da CBFS. Eles não foram encontrados para comentar o caso.
Há ainda na queixa feita à polícia a cópia de um contrato para empréstimo de R$ 2,5 milhões da ARFE para a CBFS, assinado por Gondim e Borba, em 2013.
As federações contestam um contrato de empréstimo neste valor com uma empresa e não com um banco. Outro contrato menciona que a ARFE – aberta em 2012– tem "ampla experiência em recursos para suas realizações".
Renan Tavares, ainda como vice-presidente da CBFS, discursa na festa do hepta mundial - Foto: Luciano Bergamasch/Divulgação/CBFS
A EXEMPLO DO VÔLEI
O advogado Eugênio Vasques, que representa as 18 federações oposicionistas, afirma que o caso do futsal é "semelhante ou até pior" que o do vôlei nacional.
Após reportagens feitas pela ESPN Brasil desde o início do ano, a Controladoria Geral da União (CGU) examinou as contas Da Confederação Brasileira de Volei (CBV) e detectou irregularidades com recursos públicos.
Para o advogado, o caminho da investigação no caso do futsal deve ser o mesmo, pois se repete o "modus operandi" nas entidades.
"É um escândalo. São fortes indícios de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, troca de favores, favorecimento em contratos, uma série de crimes a serem apurados pelo Ministério Público Federal", diz Vasques.