Postado por - Newton Duarte

Clubes x Clubes: Modelo atual trás a 'espanholização' do futebol Brasileiro?

Dinheiro da TV coloca clubes em confronto. Afinal, há "espanholização" no Brasil?

Cresce a discussão sobre a distribuição do dinheiro da TV entre os clubes brasileiros. Embora os números ainda mostrem certo exagero nas afirmações de que o país já vive uma espécie de "espanholização", tal tese provoca debates cada vez maiores.

Os acordos com a Rede Globo foram assinados após a implosão do Clube dos Treze (detonado pelos dirigentes, mas não todos), que negociava pelo grupo. Com seu fim, os times passaram a discutir isoladamente, cada um negocia seu próprio contrato.

Era um momento no qual a Rede Record entrava na disputa com muito dinheiro. Para não perder o "produto", a emissora que há décadas detém os direitos elevou sua oferta e o faturamento cresceu. É evidente que os bastidores foram intensos.

Público que manuseia o controle remoto diante da TV tem grande peso no orçamento

Público que manuseia o controle remoto diante da TV tem grande peso no orçamento - Reprodução

Virou um cada um por si. Com isso, clubes mais populares abocanharam fatias mais gordas, se afastando dos demais. Pior para os menores ou de alcance mais regional. A disparidade se ampliou e com ela veio a discussão crescente.

Dos cerca de R$ 1,255 bilhão a serem distribuídos em 2016 na Série A, dois clubes levarão mais de um quarto (27%). Mas a diferença entre os mais abastados e os menos favorecidos ainda não deverá atingir os níveis da primeira divisão espanhola.

O bog Dinheiro em Jogo, de Rodrigo Capelo, publicou, em maio, comparativo da distribuição de receitas de TV em algumas das principais ligas do mundo — clique aqui e leia. Decantado, o modelo inglês, mais justo, envolve negociação em grupo.

As pressões sobre Corinthians e Flamengo dificilmente surtirão efeito. Como acreditar que os presidentes dos dois endividados clubes abrirão mão de receita garantida por contrato. E mais: eles têm tal direito? Imaginem a cobrança interna.

Digamos que os dois cartolas à frente dos clubes com as maiores torcidas do Brasil, num rasgo de grandeza e generosidade, abrissem mão de parte de suas cotas. O que aconteceria? Os conselhos deliberativos concordariam? E os torcedores?

Pedidos de impeachment surgiriam e a briga interna seria insustentável para qualquer dirigente, que seria acusado de trabalhar contra a própria agremiação. Então qual a saída para os demais? Uma discussão em conjunto, em grupo.

Se quiserem uma distribuição "à moda inglesa" ou algo próximo, que reduza abismo existente, caberá aos clubes trabalhar para o futuro, pensando no próximo contrato. Mas se não forem capazes de negociar em bloco, nada mudará.

E o momento é favorável, com a entrada do Esporte Interativo, do grupo Turner, na disputa pelos direitos de campeonatos brasileiros futuros — clique aqui e leia. Mas será que finalmente os dirigentes saberão encaminhar bem tal negociação? 

Receitas de TV para 2016:

Flamengo e Corinthians - R$ 170 milhões

São Paulo - R$ 110 milhões

Palmeiras - R$ 100 milhões

Santos - R$ 80 milhões

Atlético-MG, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Botafogo e Fluminense - R$ 60 milhões

Atlético-PR, Coritiba, Sport e Vitória - R$ 35 milhões

América-MG, Ponte Preta, Chapecoense, Figueirense e Santa Cruz - R$ 25 milhões*

* o blog adotou o valor próximo, provável, pelas negociações, em andamento

Percentual de cada um:

Flamengo e Corinthians - 13,5% cada

São Paulo - 8,7%

Palmeiras - 7,9%

Santos - 6,3%

Atlético-MG, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Botafogo e Fluminense - 4,7% cada

Atlético-PR, Coritiba, Sport e Vitória - 2,8% cada

América-MG, Ponte Preta, Chapecoense, Figueirense e Santa Cruz - 2,0% cada

Diferença de quem ganha mais para quem ganha menos:

Inglaterra - 2,2 vezes

Itália - 6,6 vezes

França - 6,4 vezes

Brasil - 6,8 vezes*

Espanha - 10,4 vezes

* se o clube que menos receber fechar por R$ 20 milhões a diferença será de 8,5 vezes