Postado por - Newton Duarte

Com depoimento de Aranha, agressores poderão ser punidos por 'Injúria Racial'

Goleiro Aranha presta depoimento na polícia e agressores já podem ser punidos

Com o boletim de ocorrência, o Ministério Público poderá abrir processo de injúria racial contra os torcedores que forem identificados como participantes da agressão

O atleta prestou depoimento durante 40 minutos e saiu sem falar com a imprensa. O delegado Herbert Moura Ferreira, entretanto, afirmou que o goleiro relatou ofensas durante toda a partida, acrescentando que os xingamentos se acirraram na metade da segunda etapa.

Com o boletim de ocorrência, o Ministério Público poderá abrir processo de injúria racial contra os torcedores que forem identificados como participantes da agressão. A pena para esse tipo de crime é de um a três anos de reclusão.

A partida foi vencida pelo Santos por 2 a 0. As agressões foram registradas por uma câmera da ESPN, que flagrou torcedores posicionados atrás do gol de Aranha ofendendo o atleta e imitando gestos de macacos.

Indignado, o goleiro reclamou para o árbitro e chegou a interromper a partida, mas Wilton Pereira Sampaio não registrou o episódio na súmula preenchida logo depois do jogo. Tão logo soube da repercussão do caso, porém, o juiz enviou um email à CBF relatando o incidente. As imagens mostram uma torcedora gritando a palavra "macaco" ao goleiro santista e outros gremistas gritando "uh, uh, uh" para Aranha.

O delegado que ouviu o atleta do Santos disse que ainda não conseguiu localizar a única torcedora identificada até agora no incidente, mas afirmou que ela irá responder pela acusação de injúria qualificada. Patrícia Moreira, de 23 anos, é auxiliar terceirizada de saúde bucal do Centro Médico Odontológico da Brigada Militar (BM) e foi identificada logo após o término da partida com a ajuda de redes sociais. Ela foi afastada de suas funções ainda de madrugada, conforme comunicou oficialmente a cooperativa em que Patrícia trabalhava.

Ferreira disse que já solicitou imagens das 24 câmeras de segurança do clube e de emissoras de TV que estavam transmitindo o jogo para identificar os outros agressores. O promotor de Justiça do Torcedor, José Francisco Seabra Mendes Júnior, anunciou que ingressará com uma medida cautelar para impedir que os torcedores envolvidos no episódio frequentem estádios de futebol.

O procurador-geral do Tribunal de Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul (TJD), Alberto Franco, disse que o Grêmio deverá ser punido pelos atos de injúria racial. O clube, que já foi multado em R$$ 80 mil por ofensas dirigidas por torcedores ao zagueiro Paulão, do Inter, na decisão do Gauchão, em março, pode perder mandos de jogo ou até ser excluído da Copa do Brasil.

Franco explicou que o Grêmio pode ser enquadrado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que classifica a prática de "ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante" relacionado a preconceito de origem étnica, de raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.

O Grêmio emitiu um comunicado oficial em que se solidariza com Aranha e com o Santos e atribui os atos racistas a "atitudes individuais e isoladas". O clube informou que está tomando todas as medidas possíveis para que os envolvidos sejam identificados e para que os materiais disponíveis sejam enviados às autoridades policiais, a fim de tomarem as providências cabíveis no âmbito criminal. "Caso os responsáveis identificados sejam sócios do clube, serão imediatamente suspensos do Quadro Social e proibidos de ingressar no estádio", completa o comunicado.

Em nota, a secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado repudiou e lamentou as ofensas contra Aranha. "O ato representa a ignorância de uma minoria da sociedade. Tal atitude já está sendo investigada pelo órgãos policiais do governo com o rigor e a presteza que o tema requer", sustenta o texto.