Postado por - Newton Duarte

Com Williams em festa, Felipe Massa crava: 'A perspectiva para 2015 é a melhor possível'

Williams faz merecida festa e deixa Felipe Massa animado para 2015

Equipe comemora excelente temporada após corrida em Abu Dhabi e piloto brasileiro prevê um futuro vitorioso pela frente: “A perspectiva para 2015 é a melhor possível”

Duras horas depois de terminada a corrida, havia duas grandes festas no paddock do Circuito Yas Marina, neste domingo, em Abu Dhabi. Na área do segundo box, Lewis Hamilton, Nico Rosberg, Toto Wolff, Niki Lauda, dentre outros, celebravam efusivamente, com todos os méritos, a conquista de todo o possível este ano: o Mundial de Pilotos com Hamilton e o de construtores, para Mercedes, com números notáveis. Mas no outro extremo do paddock, 200 metros adiante dos boxes da Mercedes, destinado aos últimos colocados na temporada anterior, cerca de 70 pessoas também festejavam o encerramento do campeonato. Tão entusiasmadas quanto os campeões do mundo. Era o pessoal da Williams. Comemoravam com menos pompa da Mercedes, mas com discursos de uma profundidade capaz de emocionar seus integrantes, como Felipe Massa e Valtteri Bottas, seus pilotos, por exemplo, e a quem assistia a tudo.

“O nome mais apropriado para definir nossa equipe é família. O que conseguimos hoje e ao longo deste ano, partindo de onde estávamos há apenas um ano, só é possível quando todos agem com membros de uma família muito unida”, disse Claire Williams, diretora da escuderia. “Falei com Frank Williams, que está no hospital, e ele está orgulhoso de cada um de vocês.”

Não é para menos. Em 2013, a Williams disputou a pior temporada de sua história, tendo somado apenas cinco pontos, 9ª colocada entre os construtores, à frente apenas dos dois times de menores recursos na Fórmula 1, a Marussia e a Caterham. Este ano, contudo, contrariando a história da F-1, de que saltos de desempenho excepcionais quase instantâneos são muito raros, a Williams foi a terceira colocada entre os construtores, com impressionantes 320 pontos e oito pódios ao longo da temporada.

Felipe Massa celebra o pódio no GP de Abu Dhabi, o último da temporada da Fórmula 1 (Foto: Getty Images)

Desde 2003 a Williams não ficava entre os três primeiros. Em 2002, foi segunda. E nos anos 90 teve tanto sucesso, quatro títulos de pilotos e cinco de construtores, que recebeu o título simbólico de “escuderia da década”. A imprensa italiana utilizou o exemplo da Williams para mostrar para a Ferrari ser possível uma equipe sair do fracasso para o sucesso de um ano para o outro. Desde que seu departamento de projeto conceba um carro rápido e confiável e a gestão do time seja eficiente.

O GloboEsporte.com estava na cerimônia da Williams e ouviu seus integrantes com exclusividade. “Eu tenho 30 anos de F-1, já fui campeão do mundo, com a Benetton e a Renault. Mas eu nunca aproveitei tanto cada dia de trabalho como este ano, com essa equipe, um grupo no verdadeiro sentido da palavra. Nosso orçamento é a metade do das grandes equipes, porém ficamos à frente da maioria e hoje enfrentamos a Mercedes, que ganhou tudo, de igual para igual, sem que nenhuma circunstância extra nos favorecesse”, disse Pat Symonds, diretor técnico, tido como o maior responsável por tamanho avanço de um campeonato para o outro. “O que fiz? Defini melhor a função de cada um no grupo técnico e estabeleci alguns conceitos básicos de aerodinâmica na concepção do carro”, explicou, rindo. Curiosamente, o modelo FW36-Mercedes foi desenhado exatamente pela mesma dupla de engenheiros do carro do ano passado, o de pior desempenho da Williams, o desenhista-chefe Ed Wood e o responsável pela aerodinâmica Jason Somerville.

Claire Williams festeja boa fase da equipe e diz que quer mais (Foto: Getty Images)

Estima-se que o orçamento da Williams este ano seja de 120 milhões de euros, enquanto Mercedes, RBR, Ferrari e McLaren invistam pelo menos o dobro. Symonds, no entanto, comenta ser realista. "Em 2015, vamos enfrentar Ferrari, McLaren, Lotus... bem mais preparadas do que agora. Nosso desafio será maior, mais difícil. Mas nosso grupo é competente e o mais unido aqui"

Massa e Bottas agradeceram muito a todos da Williams. Mas eram interrompidos por mecânicos, engenheiros, pessoal de serviços gerais com frases como “obrigado a você”. Massa lamentou não ter conseguido vencer o GP de Abu Dabi. Chegou perto. Recebeu a bandeirada 2 segundos e 576 milésimos atrás do vencedor, Lewis Hamilton. Bottas foi o terceiro, apesar da má largada, que o mandou para a oitava posição. Massa afirmou, ainda: “Hoje mandamos uma mensagem aos nossos adversários. Já somos um time de ponta. Em 2015, vamos lutar pelas vitórias, pelo título.” Suas palavras foram recebidas com gritos carregados de entusiasmo.

Para o chefe de operações da Williams, Rob Smedley, com larga experiência na Ferrari, um dos fatores de alta relevância para a Williams inspirar todos, hoje, na F-1, foi a impressionante fidelidade entre os dados obtidos nos experimentos de túnel de vento e os resultados obtidos nas pistas. “Nesse nível de perfeição eu não havia visto ainda. Cada peça que produzimos recebemos a indicação de que tornará o carro dois, três décimos mais rápido. Vamos para a pista e é exatamente o que acontece. Por isso somos o time que melhor desenvolveu o carro desde o início do campeonato.”

A experiência de Massa, obtida em oito anos como titular da Ferrari, de 2006 até 2013, tem grande peso no relançamento da Williams à equipe capaz de lutar com regularidade pelo pódio. É o que conta o seu engenheiro, Andrew Murdoch. “Felipe facilitou minha vida. Tem grande conhecimento. Sabe que se fizermos isso vai acontecer aquilo, ganhamos tempo e qualidade com sua experiência. Isso faz com que a Williams seja o time que talvez melhore o carro ao longo do fim de semana”, diz. “Na melhor forma de explorar os pneus, por exemplo, Felipe sabe como ajustar o carro. E vimos hoje, pela corrida que fez, que ainda é um piloto muito rápido.”

Se Massa não tivesse errado em algumas etapas, fosse mais consciente de que teve responsabilidade em alguns incidentes e não enfrentasse as panes mecânicas que teve, fazendo-o não marcar pontos em 8 das 19 provas, a Williams teria terminado o Campeonato de Construtores em segundo. A RBR, vice-campeã, somou 405 pontos, apenas 75 a mais.

Como de hábito acontece na sua carreira, Massa disputou uma segunda metade de Mundial com eficiência bem maior da primeira, a exemplo das três últimas etapas, Estados Unidos, Brasil e Abu Dabi, sempre melhor que o ótimo Bottas. Mas como o próprio Massa lembrou, “a perspectiva para 2015 é a melhor possível”.

Valtteri Bottas e Felipe Massa: dupla fez da Williams uma equipe competitiva em 2014 (Foto: Getty Images)