Postado por - Newton Duarte

Como as 'novas orientações' são passadas aos árbitros brasileiros?

Como as novas orientações são passadas aos árbitros brasileiros?

A arbitragem do Brasil se reúne

De repente, o futebol brasileiro foi inundado por pênaltis. Qualquer bola que resvalasse nas mãos do marcador rendia um chute direto da marca de 11 metros. Isso causou prejuízos a Coritiba, Palmeiras, Flamengo, São Paulo e vários outros clubes. A impressão é que os árbitros haviam decidido ignorar a intenção nesse tipo de jogada. Bateu no braço, marca de cal.

Não foi bem assim, explicou explicou o chefe de arbitragem da CBF, Sérgio Corrêa da Silva, depois da enésima polêmica em semanas no Campeonato Brasileiro. O que a Fifa determinou, depois de uma reunião com 72 árbitros e 26 vídeos, em abril, foi apenas aumentar o número de elementos para o árbitro tomar a decisão. Ao invés de se basear apenas na subjetiva intenção, ele pode avaliar a velocidade da bola, a movimentação do jogador, entre outras coisas. A ideia era simplesmente diminuir um pouco o peso da interpretação nesses lances e unificar os critérios quando a bola está no ataque e na defesa. Cabe debate se são boas ideias ou não, mas o problema é que a mudança de postura pegou todos de surpresa: jogadores, público e imprensa.

Uma vez por ano, há uma reunião da International Board, os “velhinhos da Fifa”, que definem as mudanças para a temporada seguinte. Nem sempre são alterações de regras, geralmente apenas alguns ajustes. Essas informações são passadas pela entidade às federações nacionais, que têm a responsabilidade de encaminhá-las aos árbitros e jogadores. Pelo menos no Brasil, isso não é feito com muita clareza e poderia ser anunciado, por exemplo, em uma entrevista coletiva pelo chefe de arbitragem. “Eles falam que fica disponibilizado no site, mas é pouco. Não basta o texto da regra. Precisa ter também as orientações”, comenta o ex-árbitro Sálvio Spinola Fagundes Filho, comentarista dos canais ESPN.

Para achar as “Orientações técnicas, disciplinares e gerais para 2014″ no site da CBF, é necessário entrar no menu “Ofícios e Circulares”. O documento, de julho, fala apenas em “mão indiscutível e deliberada”. Curiosamente, existe também uma seção “Orientações”, em que ficam os livros de regras de cada temporada. O de 2012/13 e o de 2013/14 falam as mesmas coisas sobre esse estilo de lance. O mais atual, publicado em 16 de junho deste ano (portanto depois da reunião de abril), não está disponível na língua portuguesa. Apenas em espanhol e inglês.

“A Fifa divulga as regras e instruções nos idiomas oficiais: inglês, alemão, francês e espanhol”, conta Sálvio. “Quando há grandes alterações, traz problemas. Quando não tem, não afeta em nada. Todo ano, sai uma publicação nova do livro de regras. Em anos de Copa do Mundo, não costuma haver grandes alterações.”

Ocorreu, entre o fim de agosto e o começo de setembro, uma reunião na Granja Comary, em Teresópolis, com um instrutor de arbitragem da Fifa. Jorge Larrionda explicou, entre outras coisas, as novas instruções para bolas que eventualmente toquem o braço do defensor dentro da área. Depois disso, a média de pênaltis marcados subiu de 1,85 por rodada para 3,7. É natural que haja um período de adaptação, mas esse tipo de marcação dobrou. Houve um exagero.

A surpresa foi geral quando o chefe de departamento de arbitragem da Fifa, Massimo Busacca, disse que o conceito de bola na mão “não mudou” e que a intenção continua sendo uma parte muito importante de avaliação. Essa declaração fez Sérgio Corrêa voltar atrás na declaração que apoiava todas as decisões dos seus árbitros e admitir que “houve equívocos de interpretação”.

Depois que a confusão já foi armada e consumada, a CBF convocou a imprensa e os capitães dos 20 clubes da Série A para uma reunião técnica, na próxima quinta-feira. Serão apresentados vídeos com decisões corretas dos árbitros brasileiros e um critério deve ser uniformizado. Tudo será esclarecido, mas agora já é tarde para os times que sofreram gols de pênaltis que não deveriam ter sido marcados.