Postado por - Newton Duarte

Como é dividido o 'bolo' da TV na Argentina; Parte 2

Governo argentino aumenta dinheiro de TV para impedir que opositor assuma a AFA

Marcelo Tinelli, vice-presidente do San Lorenzo

Uma das principais reclamações dos clubes argentinos é o dinheiro pago pelos direitos de transmissão do Campeonato Argentino e a AFA (Asociación del Fútbol Argentino) tratou de cobrar mais dinheiro pelo Fútbol para Todos no Twitter, publicamente. O governo argentino resolveu agir e injetará mais dinheiro na compra dos direitos para 2015, mas exigirá uma contrapartida, que lhe favorece nas eleições da AFA em 2015.

O governo de Cristina Kirchner está preocupada com a ascensão de novos dirigentes que liderem os clubes argentinos. Segundo o site canchallena.com, o governo usará uma injeção de dinheiro nos clubes como forma de barganha para impedir que dirigentes chamados de “os renovadores” ganhem poder no futebol argentino na eleição da AFA, em 2015. Nomes como Marcelo Tinelli, vice-presidente do San Lorenzo, presidente do San Lorenzo, e Juan Sebastián Verón, recém-eleito presidente do Estudiantes, querem mudanças mais fundas no futebol argentino que vão contra o interesse do governo em relação ao programa Fútbol para Todos, que transmite o futebol argentino.

O alvo do governo Kirchner é, especialmente, Marcelo Tinelli. Ele que também é apresentador de TV tem usado o seu espaço na mídia para criticar o governo. A relação entre Tinelli e o governo azedou quando o produtor fazia parte do projeto Fútbol para Todos (FPT) e queria renovar o futebol estatal e as ideias não foram bem aceitas. Acabou expulso do FPT por pressão de Máximo Kirchner, filho da presidente Cristina Kirchner, que não concordou com as nomeações feitas por ele. Carlos Zannini, secretário legal e técnico do FPT, também era favorável a colocar jornalistas “kirchneritas”.

Tinelli é visto como um potencial presidente da AFA pelo próprio Matías Lammens, que é o presidente do San Lorenzo. “Se Marcelo tiver vontade, oxalá seja presidente da AFA alguma vez, seria uma possibilidade muito boa. O que temos que buscar é gente capaz e preparadas para assumir um desafio de tamanha magnitude. O que tem que ser prioridade é a forma de conduzir e gerir”, disse Lammens à rádio Delta FM 90,3, em setembro. Lemmens já falava em apoiar Luis Segura para ser o presidente temporário da entidade até a eleição, em 2015, em um governo de transição.

Com Tinelli ganhando força e Verón vencendo a eleição no Estudiantes, o governo então resolveu tentar matar dois coelhos com uma cajadada só. Cada clube receberá $ 220 milhões de pesos a mais em 2015. Fará isso com uma medida simples: os clubes adiantaram o dinheiro de TV do próximo ano, mas o governo perdoará essa dívida e fará o pagamento como se o dinheiro não tivesse sido adiantado. Por isso, será um dinheiro a mais. Mas é claro que isso não vem de graça: a condição do governo é que não se revogue a exigência de quatro anos como dirigente de clubes para o candidato concorra à presidente da AFA.

A medida afeta diretamente Marcelo Tinelli, que assumiu o cargo de vice-presidente do San Lorenzo em 2 de setembro de 2012. Ou seja, em 2015, quando as eleições acontecerem, terá só três anos no cargo e não poderá concorrer. E o governo Kirchner sabe que o dinheiro ainda é a maior arma para uma negociação, ainda mais em tempos de crise como esse.

Tudo isso porque nesta quinta haverá uma assembleia importante, que deve definir Luis Segura como presidente interino até 2015. Também começará a ser discutido um novo estatuto do futebol argentino, que poderá ser refeito em dezembro. Por isso é tão importante que o governo consiga impedir que a regra seja mudada e impedir a candidatura de Tinelli no próximo ano. As articulações já estão acontecendo e em um país em crise, o dinheiro é uma grande vantagem a ser negociada.