Postado por - Newton Duarte

Conflito ético coloca semifinais do Nordestão sob desconfiança

Conflito de ética deixa semifinais do Nordestão sob desconfiança

Portela no Barradão, ao lado de Marin, Del Nero e Ednaldo Rodrigues - Divulgação

As semifinais do Nordestão começam nesta quarta-feira em meio a insinuações de um possível favorecimento ao Vitória. O desconforto de Bahia, Sport e Ceará, os outros clubes ainda na briga, acontece por conta de declaração recente do presidente da Liga do Nordeste, Alexi Portela, de que voltaria a atuar no futebol rubro-negro e que a equipe entraria na fase final do regional para ser campeã.

Ex-mandatário, Portela comanda atualmente o Conselho Fiscal no Barradão.

A sua afirmação foi feita na última semana, durante as eleições presidenciais do Vitória, encerradas com o triunfo de seu candidato.

"O Vitória tem que ganhar a Copa do Nordeste para sair da situação em que está. E não tenho dúvida de que a gente vai formar um grande time para subir para a Série A, que é o intuito de todos", disse Alexi Portela, em entrevista à Rádio Itapoã, durante o evento.

A reação dos demais times envolvidos na Copa do Nordeste foi praticamente imediata.

Em troca de telefonemas, o presidente do Bahia, Marcelo Sant'Ana, do Ceará, Evandro Leitão, e o vice do Sport, Arnaldo Barros, discutiram, então, entre domingo e segunda-feira o que poderia ser feito a respeito da situação. A princípio, a ideia inicial era que o trio emitisse uma nota conjunta de desagravo a Portela.

Leitão, no entanto, pediu para conversar com Alexi e o convenceu a escrever carta aos filiados explicando o episódio.

"Foi uma postura equivocada e que me decepcionou. Eu acredito que toda pessoa que está no futebol tem clube. Desconfio, na verdade, de quem não tem um. Mas o papel de Alexi nesse caso é o de defender seus filiados. Esse tipo de opinião não poderia ser externada. É a mesma coisa que (Michel) Platini dizer na Uefa que faria bem ao futebol francês que Mônaco e PSG vencessem a Champions League. Ou que o presidente da CBF falasse o mesmo aqui. É um comportamento que não podemos aceitar", afirma Marcelo Sant'Ana ao ESPN.com.br.

Essa não é a primeira vez que a ligação de Alexi Portela com o Vitória gera incômodo no torneio

Em crise, o Vitória enfrenta o Ceará nas semifinais - Gazeta Press

"Temos que buscar ao máximo a neutralidade. O futebol é carregado de carga emotiva e não podemos dar espaço para qualquer especulação. Quando acontece esse tipo de declaração, Bahia, Ceará e Sport ficam inseguros. Falhas acontecem no futebol e você põe na cota do erro humano. A partir do momento em que as circunstâncias são essas, preocupa", completa.

Essa não é a primeira situação em que a ligação de Alexi Portela com o Vitória gera incômodo nos membros da Liga dos Nordeste.

No último mês de fevereiro, a partir do anúncio da CBF de que repassaria R$ 1 milhão para ser dividido entre os clubes, ele solicitou aos filiados que respondessem através de e-mail ou carta se concordavam com o formato acordado. Detalhe: o endereço para envio das correspondências era da sede administrativa do rubro-negro baiano, em Salvador.

Não passou despercebido.

"Nós achamos que Alexi foi infeliz na declaração dele porque ele é o atual presidente da Liga, entrei em contato com ele e não vamos adotar qualquer postura mais ofensiva. Confio em sua lisura e sei que é um sujeito decente e honesto", afirma Evandro Leitão, mandatário do Ceará.

João Humberto Martorelli, do Sport, preferiu pôr um ponto final no assunto a partir da carta de Alexi.

"Foi no calor da campanha, a declaração dele se deu no contexto clubístico, certamente não influenciará. Ele é um homem sério e passou uma carta explicando a todo mundo o que ocorreu. Não tem qualquer espécie de sequela", diz.

Bahia e Sport se enfrentam na Ilha do Retiro nesta quarta-feira, a partir das 22h. No mesmo horário, entram em campo Ceará e Vitória na Arena Castelão.

Alexi Portela se manifestou sobre o assunto através de nota oficial. Confira abaixo:

Estamos na terceira edição da Copa do Nordeste, desde a volta da competição, endossada, apoiada e organizada pela CBF. No primeiro ano, em 2013, trabalhei em dupla função: fui presidente do Vitória e da Liga do Nordeste. Sou a favor de outras pessoas contribuírem com as instituições, sei que fiz um bom trabalho no clube e saí com a certeza de que era preciso continuar colaborando com os clubes nordestinos e também brasileiros à frente da Liga do Nordeste.

Faço esses esclarecimentos iniciais para lembrar que nunca tive minhas decisões e minhas intenções questionadas por nenhum clube ou dirigente. Durante todo o período de retomada da Copa do Nordeste, de ajustes iniciais para o primeiro e o segundo anos e, logo depois, para as revisões que incluíram os estados do Maranhão e do Piauí na competição, tive minha honra inabalada. Recebi oposição, discordâncias, opiniões diferentes. Convenci e fui convencido, mas, ainda que com opiniões contrárias, a integridade das decisões apoiadas pela Liga do Nordeste jamais foram questionadas.

Outro ponto importante é relembrar que quem organiza a Copa do Nordeste é a CBF. Quem configura as regras, define datas, arbitragem, tabela e qualquer outro fator relativo à competição é a CBF.

Sempre fui próximo do Vitória, mesmo depois de deixar o mandato. A gestão do clube é um fator importante para mim como profissional e como torcedor e não sou do tipo de se omite. Nos últimos dias, o torcedor do Vitória precisou conviver com uma sequência de más notícias, que não tem sido fácil digerir. A eliminação do Campeonato Baiano culminou com a não-classificação para a Copa do Nordeste de 2016. O trágico episódio contou ainda com a renúncia do presidente do clube no meio do mandato. Estava fora do país e, assim que retornei, fui tomar pé da situação. Apoiei um candidato que foi eleito, prometi contribuir com o departamento de futebol do clube e dei, sim, a declaração de que "vamos entrar para ser campeões da Copa do Nordeste e fazer o time para subir para a Série A". É o mínimo que eu posso desejar ao Vitória nesse momento difícil que tem enfrentado. Não consigo ver na intenção de fazer o melhor pelo clube, qualquer sinal de má intenção com relação aos adversários.

Futebol se resolve dentro de campo e é só no gramado que vejo a saída para o Vitória. A equipe foi eliminada duas vezes na Copa do Nordeste pelo Ceará, nas quartas de final, nos dois anos anteriores. Durante meu mandato, aliás, a eliminação se deu dentro de casa, no Barradão.

Termino esse esclarecimento, garantindo que pela minha cabeça não passa nenhuma possibilidade que não seja ganhar na bola. Minha história no futebol poderia me isentar de ter que dar esse tipo de declaração, mas acho importante reforçar, já que nem todos têm obrigação de conhecer o meu histórico. Por isso, reitero que honestidade para mim não é decisão, é obrigação. E serei coerente com isso sempre.