Batuque, festa e frustração: show da torcida do Bahia na Copa São Paulo
Tricolores que moram em São Paulo fazem a festa contra o Flamengo e se mostram empolgados com desempenho do time, mesmo com eliminação nas quartas de final
Josélio Mendes da Cunha, eletricista, 43 anos, mora em Guarulhos há 20 e sempre vai aos jogos do Bahia, seja em São Paulo ou no Rio de Janeiro, mesmo sendo da base. Tranquilo no trato, ele se transforma quando o assunto é o Tricolor. É mais um brasileiro que vibra, xinga, discute (sem violência) e vive intensamente os 90 minutos de seu time. E na disputa de pênaltis alterna momentos de otimismo, medo, angústia e tristeza ou alegria – como qualquer torcedor. A esperança foi a última a ir embora no passo apressado após o pênalti perdido por Lucas Sebastian, que deu a vitória por 3 a 2 ao América-MG, eliminando os baianos da Copa São Paulo nesta quarta-feira, em Mogi das Cruzes.
Josélio (o penúltimo da esquerda para a direita) ao lado de Binha, torcedor-símbolo do Bahia - (Foto: Pedro Venancio)
A história de Josélio, um baiano que vive em São Paulo, faz parte da biografia de milhares de brasileiros. E enquanto a esperança do título inédito da Copinha existiu para o Bahia e para o Nordeste, a torcida tricolor apoiou com força total. Compareceu à partida contra o Flamengo, no estádio Nicolau Alayon, e, mesmo em minoria, fez mais barulho do que a rival com seus instrumentos de percussão e a vocação para a alegria. Foram 90 minutos de batuque.
– Somos baianos que não nos conhecíamos na Bahia, e hoje, em São Paulo, somos uma grande família – diz Marcelo Bogobil, analista de sistemas, um dos organizadores da Embaixada Bahêa-Sampa (com o "ê" mesmo) e também um dos mais animados na arquibancada. Morador de São Paulo há dez anos, ele estava na final entre Bahia e Flamengo em 2011, vencida pelos cariocas por 2 a 1.
O paulista Rodrigo Oliveira era outro que fazia a festa. Filho de nordestinos, ele explica o motivo pelo qual torce pelo Bahia.
– Precisamos manter nossas raízes, mesmo que não seja diretamente. Pode ser em um vínculo com um time de futebol ou uma comida típica. É importante continuar com nossas tradições. A interação é grande, e como hoje é domingo e tínhamos um tempo a mais, jogamos um "baba" (N.R: pelada, para os baianos) antes de virmos para cá.
Presença menor em Mogi
Nesta quarta-feira, contra o América-MG, os torcedores voltaram a marcar presença, mas em menor número. O jogo no meio de semana, à tarde, dificultou a ida de muitos que foram ao estádio no domingo, mas o Bahia ainda era maioria nas arquibancadas. O batuque, no entanto, saiu de cena. Apareceram os gritos, a galhofa, a apreensão, a alegria e a tristeza. Tudo em torno de um time que acabou de sair dos juvenis e faz a transição para os juniores. A pouca idade, a raça e o ímpeto ofensivo dos comandados de Edson Fabiano, que marcaram 22 gols em sete partidas, cativaram os torcedores.
Josélio, o eletricista, chegou em grupo com alguns amigos, bem antes de o jogo começar. O estádio estava com os portões fechados, então eles foram para o bar ao lado fazer o tradicional "aquecimento". Era uma tarde fria em Mogi das Cruzes. O tempo estava fechado, e uma garoa tímida ia e voltava. Nada que brecasse a euforia dos baianos e o otimismo na vitória e no título da Copinha.
– Vai ser 2 a 1 para o Bahia, de virada! – disse Josélio, antes da partida.
Rodrigo Oliveira, filho de nordestinos, comanda o batuque baiano na Copinha (Foto: Pedro Venancio)
A convivência com a torcida do América-MG, que dividia o mesmo espaço das arquibancadas, foi pacífica. Um alento para os habitantes de Mogi das Cruzes, que no domingo viveu cenas de terror protagonizadas pelas torcidas organizadas do São Paulo na partida contra o Rondonópolis. O clima era de paz total. E galhofa.
– Vão pular carnaval! – gritavam os mineiros para os baianos.
A resposta vinha na hora.
– Vão comer queijo!
Torcedor-símbolo do Bahia, Binha de São Caetano viajou de Salvador até São Paulo para acompanhar o clube na Copinha. E ele provocava, com bom humor, a torcida feminina do América-MG, em parte formada por parentes dos jogadores que lá estavam.
– Isso é mãe! Não é torcedor, é mãe! Eu sou Bahia, três vezes campeão brasileiro, campeão do mundo!
E todo mundo caía na risada.
Da calmaria à emoção
Se no primeiro tempo o jogo foi morno, sem muitos lances de perigo e com leve superioridade do América-MG, no segundo a coisa esquentou. Os torcedores do Bahia se desesperaram quando o América-MG abriu o placar, mas logo depois fizeram a festa com o empate. Quando Geovane Itinga fez o segundo gol aos 41 minutos do segundo tempo, Josélio não se conteve. Sua previsão acabava de se tornar realidade.
– Eu disse lá no início que seria 2 a 1 de virada! Bora, Bahêa!
Antes que acabasse de falar, o América empatou o jogo.
Josélio, que acompanhou o jogo todo colado no alambrado e gritava com os jogadores a todo instante, manteve a fé na vitória nos pênaltis. Mas tinha medo. Afinal, as cobranças dos baianos contra o Flamengo não haviam sido boas. E quis o destino que justamente Cristiano e Geovane Itinga, os dois melhores jogadores do Bahia em campo, perdessem suas cobranças. O Bahia foi eliminado da Copinha, e Josélio saiu rapidamente do estádio, assim como os outros torcedores do Tricolor. Tristes, mas com a certeza de que sempre haverá uma próxima vez. E que a aventura de ir a Mogi das Cruzes valeu a pena.
Torcedores de Bahia e América-MG fazem a festa juntos na Copinha (Foto: Pedro Venancio)