Postado por - Newton Duarte

Crise de gestão

Crise de gestão

O Bahia chutou o balde na luta contra o rebaixamento: improvisou o ex-diretor de negócios Pablo Ramos como diretor de futebol e acumulou a gerência e supervisão do setor com Lucas Magalhães até o fim do Brasileiro. Usar do jeitinho na área mais importante do clube, em reta final de campeonato e com o time na vice-lanterna, permite entender por que o Bahia faz mais uma temporada com resultados ruins.

Estas escolhas da diretoria não vêm de planejamento e gestão estratégica, mas do desespero. Ramos não se preparou para entrar no dia a dia do futebol. Há dois meses, acompanha mais de perto porque a diretoria não confiou na própria escolha com Rodrigo Pastana, de questionável currículo como gestor e que responde por improbidade administrativa em ação pendente de julgamento, e Marcus Vinícius. Janela fechada e eleições em dezembro, o trabalho será gerir pessoas. Que tenha sucesso!

Na área de negócios, sua responsabilidade nos últimos 14 meses, o clube tem arrecadado abaixo do previsto no orçamento. O Bahia não tem patrocinador máster e não apresentou nenhum novo e grande parceiro comercial. Ainda assim, acredito que vai deixar uma estrutura  melhor do que  encontrou. Mas é pouco. E, ao invés de encerrar o ciclo na área que coordenou durante todo mandato de Fernando Schmidt, encara desafio de tapar buraco onde não tem culpa pelos fiascos da temporada.

O maior erro da nova diretoria está na sua própria composição, com mistura de grupos políticos que lutaram pela democracia, mas não têm afinidade de ideias e projetos. Nem confiança em quem senta ao lado. E, sem dúvida, faltou quem tenha vivência no mercado do futebol - ou até mesmo na área esportiva.

Era possível trazer pessoas com esta bagagem e características através de cargos específicos, como assessoria, consultoria ou valorizando a figura do auxiliar-técnico, porém as escolhas da equipe para o mandato tampão privilegiaram, primeiramente, o lado político.

Na Europa, gigantes europeus como Real Madrid, Barcelona, Bayern e Milan são hábeis em ter ex-jogadores colaborando na administração. Raros sentam no computador e desenvolvem projetos técnicos. Funcionam como espelho para os atletas mais jovens, avalizam futuras contratações de atletas, servem para medir as reações no vestiário, que tem seu próprio código de conduta, e são iscas para ações de relacionamento com clientes, patrocinadores e torcedores. Fazem política. Mas não se envolvem na política. São ídolos acima dos problemas de gestão. São a memória afetiva preservada da passagem tempo.

É fácil notar que o Bahia entra nos últimos 30 dias e seis jogos do Brasileiro em crise administrativa. Enquanto o discurso prega modernização, as ações são contraditórias. O corpo diretivo move-se pela emoção em áreas técnicas. Diferentemente de Botafogo e Coritiba, companheiros de Z-4, a panela de pressão tricolor ferve mais nos gabinetes do que em campo. O foco da crise são os erros de gestão.

O elenco não aparenta racha ou boicote de grupinhos à diretoria ou à comissão técnica. Os episódios de Rhayner, quando tentou agredir Pastana, e de Diego Macedo, reclamando teatralmente após um treino, ambos problemas de semanas atrás, são exceções à regra. Atraso de salário é irresponsabilidade da direção.

Qual outro fato negativo veio a público desde a parada da Copa, quando o rendimento já era ruim? Não há brigas em treinos e os jogadores não questionam o técnico Gilson Kleina. Lideranças do vestiário e titulares por longo tempo, Titi e Fahel encararam a reserva com discrição. Aparentemente, é bom convívio entre os jogadores - e inversamente proporcional à pontuação na tabela.

Não falta compromisso. Tem faltado é qualidade. Dentro e fora do campo. Com cada pessoa capacitada escalada na sua posição.