Postado por - Newton Duarte

Cristóvão: 'Queria continuidade na carreira no Bahia'

Poucos conhecem crise no Bahia como Cristóvão; técnico comenta bastidores


Cristóvão Borges foi o primeiro técnico do Bahia, desde Evaristo de Macedo, em 2001, a sobreviver a todas as rodadas da Série A



Cristóvão Borges é o único técnico do Bahia que viu dois presidentes e um interventor. E foi  o primeiro desde Evaristo de Macedo, em 2001, a sobreviver a todas as rodadas da Série A. De sua casa, no Rio, usou a conhecida tranquilidade quando Juninho Pernambucano, seu ex-jogador no Vasco, começou a coletiva para falar da aposentadoria, segunda-feira. “Posso te ligar depois? Juninho acabando, eu ligo”. Ligou. Pode ler.

Você chegou na maior crise política dos últimos 20 anos. Como foi trabalhar com a crise?

A chegada foi bastante preocupante. Com os problemas, a autoestima era baixa nos jogadores e a torcida estava sem esperança. Começamos o Brasileiro com Público Zero, briga pelo poder e dois grupos treinando em turno distinto, a goleada para o Vitória... Mas conversamos com a intervenção e os jogadores sabiam que havia relação entre o trabalho técnico e o político. E deram a resposta.

Você encontrou um grupo de líderes: Fahel, Lomba, Titi, Souza. Como foi lidar?

Eles têm influência e são importantes. Os mais experientes dão sustentação se têm liderança positiva e são a chave. Chamei, quis saber o que acontecia e olhei no dia a dia.

Souza é um problema?

As pessoas têm dificuldade de conviver com a diferença. Se for diferente, acaba marginalizado. Souza é isso; tem a história dele. São 30 jogadores, cada um com um jeito. Os jogadores acreditaram em mim.

O Bahia jogava no 4-3-3 ou 4-1-4-1. Sabia-se onde iniciava a marcação, quem fazia cobertura, a saída de bola. Mas, no fim do ano, era criticado por ser previsível. A crítica é bipolar?

Eu não montei o elenco. Recebi e treinei. O elenco era bom, mas muito desequilibrado. A coisa bipolar é o envolvimento emocional. Quem pensa com a emoção exagera para o bem e para o mal. Critica forte e elogia maravilhas quando não existe maravilha. Os melhores resultados foram com três volantes, mas parecia que eu inventava. Quando mudei para 4-2-3-1, 4-4-2, 3-5-2 foi pior. Um pessoal busca arrumar rótulo para ver se pega. Havia outras coisas, mas os aproveitadores, por outros interesses, não falavam. O Bahia era previsível, mas era onde era melhor. Com o elenco do Barcelona, eu nunca ia ser previsível.

A atual Fonte Nova tem a mística da antiga? Ou quem tinha mística era o Bahia?

Você disse exatamente o que eu ia falar. Não tem como olhar e não ver tudo diferente. Mas a mística e a energia quem faz são as pessoas. Eu fiquei triste naquele último jogo (derrota por 2x1, de virada, para o Fluminense). Seria uma escrita importantíssima. O Bahia, ganhando, ia terminar na primeira página da tabela, algo que o Bahia não conseguiu nos pontos corridos. Ia ser excepcional. A gente começou com a campanha Público Zero e terminou com a Fonte Nova cheia.

Saiu pela demissão do diretor de futebol Anderson Barros?

Foi única e exclusivamente devido à não permanência do Anderson. O trabalho foi muito difícil. No Bahia, a competência dele foi mostrada, e foi importantíssimo pra mim. No fim do ano, a diretoria tinha a oportunidade e o direito de colocar as coisas no jeito dela. A intenção é muito boa e o Bahia tem excelente chance de parar de jogar o Brasileiro para não cair. Mas a nossa relação é muito boa.

Chegou a planejar 2014?

Muito antes de acabar o Brasileiro eles fizeram tentativas, mas deixei em segundo plano. Houve conversas, mas eu não queria desviar o foco até cumprir a nossa missão.

Os jogadores não vêm ao Nordeste por falta de grana ou pela ausência de perspectiva de disputar título, Libertadores...?

Primeiro, no Bahia, é o financeiro. O Nordeste tem Bahia, Vitória, Sport que chamam atenção, o Náutico, o Santa Cruz subindo. Dá para investir. Agora, com grande nível, tem que ter força. Depois do Brasileiro, era a grande oportunidade do Bahia dar um salto de qualidade, se planejar e montar um elenco para uma grande temporada.

O Brasil tem muitos técnicos jovens em times de ponta. É um momento de transição?

É natural. A coincidência é o número alto. Só não acho que seja uma revolução. São treinadores bem preparados e com pensamento diferente dos atuais. Os técnicos ganhadores tiveram uma temporada sem sucesso. Mas são nossa inspiração e aprendemos. São os mais ganhadores dos últimos 20 anos.

Como você, ex-jogador e técnico, vê o Bom Senso FC?

O que é mais certo, e quem é profissional do futebol não vai ser contrário jamais, é mudar o calendário. Futebol é um mercado com tanto dinheiro que o produto tem que ser mais bem cuidado. Eu apoio. Quem está no futebol sabe que tem que melhorar a estrutura, a organização, mas, principalmente, o calendário. O jogador cai de rendimento com a sequência, o espetáculo cai e perde valor.

Como está agora a carreira?

O que mais eu queria era dar continuidade na carreira no Bahia ou outro clube. Recebi propostas boas e uma muito boa, mas era forte financeira e nem tanto de trabalho.  Quero condição de trabalho.


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Fonte: Marcelo Sant’Ana – Correio*

Foto: Robson Mendes – Correio*