Crônica de um anti-herói: joia tricolor, Jean vive o peso da desconfiança
Aos 19 anos, goleiro está na lista dos atletas que vão disputar o Mundial Sub-20 com a Seleção Brasileira, mas mostra falta de confiança e tem recebido críticas da torcida
Jean tem sido alvo de críticas da torcida do Bahia (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)
Calça de homem não veste menino. Era contra esse dito tão bem empregado pela sabedoria popular que Jean lutava para mostrar que pode, sim, segurar a barra de vestir a camisa número 1 do Bahia aos 19 anos. O cenário era perfeito. Decisão contra o Ceará, casa do adversário abarrotada de gente e palavras nada agradáveis proferidas contra ele. Final com cara de final. Se vence, com direito a defesa que garante o título, vira herói. Se perde, falhando ou não, sente o fogo amigo lhe queimar a carne. O leitor mais atento já sabe, mas vai aí um spoiler: o goleiro tricolor não deixou o Castelão nos braços do seu torcedor.
Aqui, uma contextualizada. Como perdeu na Fonte Nova por 1 a 0, o Bahia chegou a Fortaleza precisando do triunfo para levantar seu terceiro título da Copa do Nordeste – caso devolvesse o placar do jogo de ida, os baianos levariam a decisão para as penalidades. Em campo, o que se viu foi um amontoado de tricolores presos na teia montada por Silas, treinador adversário. O Vozão soube novamente fazer valer o seu jogo, envolveu os visitantes e deixou campo com um 2 a 1 maiúsculo e a cobiçada taça da região mais efervescente do país.
Voltemos a Jean. Logo que entrou em campo para realizar o aquecimento, atrasado como o resto do time que ficou preso nas ruas da capital cearense momentos antes da decisão, o jovem goleiro do Bahia ouviu da torcida da casa: “Frangueiro! Frangueiro!”. Os gritos, cruéis, remetiam a uma semana antes, quando ele deixou passar por entre as pernas uma bola chutada quase que despretensiosamente pelo meia Ricardinho. O famoso "peru".
Interessante foi a reação de Jean diante das provocações alvinegras. Como o mais experiente dos goleiros, ignorou os rivais e passou na frente dos bravos tricolores posicionados próximo a uma das quatro bandeiras de escanteio, cerrando os punhos e batendo no peito, como se dissesse: “Deixa que eu resolvo”. Fez isso para, logo em seguida, realizar parte do aquecimento próximo a alguns alvinegros, encarando-os e desafiando-os com o olhar confiante de quem viveria, ali no Castelão, um dos tantos dias de inspiração do outro Jean, seu pai.
Quando a bola rolou, a confiança se esvaiu. Em um dos lances do primeiro tempo, Magno Alves foi lançado em velocidade, a bola correu para a grande área, Bruno Paulista demorou a cortar, Jean demorou a sair do gol e, por pouco, o mal não estava consolidado. Contrariado, o goleiro cobrou do lateral improvisado, que lhe devolveu a cobrança. As saídas do gol eram outra preocupação. Mas as cabeçadas certeiras de Charles e Gilvan não ficam na conta do goleiro: essas são responsabilidade do sistema defensivo como um todo.
O apito final do árbitro foi a confirmação de um título mais do que merecido para o Ceará. Assim que terminou a partida, Jean saiu de campo apressado e perdeu a roda feita pelo elenco no centro do gramado. Nela, o capitão Titi valorizou o trabalho realizado pelo grupo e tentou levantar o ânimo dos jogadores.
Goleiro tem confiança da comissão técnica e preparadores do Bahia (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)
Por mais inseguro que pareça nesse momento, é bom que se diga: Jean tem a confiança dos profissionais que trabalham para aprimorar o gol tricolor. É considerado uma joia, talento promissor. Talvez só não seja esse o momento de assumir a responsabilidade de guardar a meta do Bahia. Nada impede que, daqui a algum tempo, pouco que seja, ele trilhe o mesmo caminho do pai, que iniciou a carreira com falhas, foi emprestado e voltou para ser um dos grandes goleiros da história do clube.
Nota Luis Peres @BahiaClub:
Omar: Sempre foi um goleiro tranquilo e com uma qualidade rara hoje em dia: Não dava rebotes.
De repente, após à tentativa estapafúrdia de saída para Flu-RJ e para o futebol Português. Também, uma uma cirurgia simples que nunca se curava, se transformou num goleiro lento e sem reflexos apurados.
Douglas Pires: Goleiro “raçudo”, com boa técnica, fez ótimas partidas.
De repente, após uma infelicidade, se transformou num goleiro inseguro, nervoso e contestado.
Jean: O mais técnico e moderno dos três. Convocado para a Seleção Brasileira Sub-20. Sondado por um gigante Europeu. Patrimônio do clube
De repente, toma um gol, originado numa falha coletiva que começa no lado direito da defesa ainda no meio campo e vira o culpado por tudo de ruim que há no Esquadrão.
Eu só gostaria que alguém me apontasse um goleiro melhor que esses três, disponível no mercado, dentro do orçamento do clube, observado o fair-play trabalhista.
Seguramente, aqueles empresários oportunistas, que sempre tentam empurrar suas broncas no Bahia (são tantas), já devem estar na porteira do ‘Fazendão’ com suas listinhas, oferecendo uma promoção: Leve um goleiro caro e meia-boca e pague por mais 3 porcarias para o elenco 2015 obritóriamente.
Vamos continuar a queimar o que pode vir a ser a solução para alguns problemas financeiros do Bahia. Seus empresários agradecem efusivamente.
Depois, ninguém pode reclamar.
O máximo, é tentar fingir que o pré-aposentando que virá, virou ídolo e passar a chamá-lo de novo Paredão.
Se TODOS os goleiros, antes chamados de confiáveis, deixam de sê-lo, melhor ver se o problema está em TODOS eles...