Postado por - Newton Duarte

Daniel Alves quer ser Dirigente do Esquadrão

"Quero seguir no Bahia após encerrar", diz Daniel Alves


Lateral revelado pelo Bahia foi eleito melhor do mundo na posição pela quarta vez em premio da FIFA

Que Daniel Alves - o filho mais famoso já produzido pelo Bahia  - quer encerrar a carreira no clube que o revelou o mundo já sabia. Porém, em entrevista exclusiva ao A TARDE, o jogador foi além: disse que deseja também assumir o posto de dirigente do Tricolor após a sonhada despedida da carreira, de preferência como meia.

O baiano de Juazeiro também falou sobre a honra de ter sido eleito o melhor lateral-direito do prêmio Bola de Ouro pela quarta vez, fruto dos feitos em sua trajetória no futebol. Daniel já fez 73 jogos pela Seleção Brasileira e 276 com a camisa do Barcelona, sendo o terceiro estrangeiro que mais atuou pelo clube na história.

Você foi eleito pela quarta vez, a terceira seguida, o melhor lateral-direito do mundo pela Fifa. Isso é uma prova inconteste que você está entre os grandes jogadores do planeta?

Para mim, os troféus, por si só, não representam uma grande conquista. Eles são importantes como um reconhecimento à minha dedicação e às privações pelas quais eu passei para chegar até aqui. É para que as pessoas que me admiram e acompanham o meu trabalho vejam que ele está tendo um reconhecimento. No final das contas, é um prazer, um privilégio, estar na seleção dos melhores do mundo.

Que privações são essas às quais você se refere?

Falo das coisas que todo jovem gosta de fazer. Muitas vezes, você sente a vontade, mas não pode fazer. Quando você tem uma profissão que lhe exige uma série de coisas para que seu rendimento não seja comprometido, é preciso ter essas privações. A recompensa vem depois. Quando eu ganho um prêmio, toda a minha história de vida está embutida ali.

Embora seu talento seja indiscutível, algumas pessoas falam que você só é eleito o melhor lateral-direito do mundo por falta de concorrência na posição. Concorda?

Quando você ganha alguma coisa, sempre surgem todos os tipos de opinião. É preciso respeitá-las, mas o que te leva a alguma coisa é sempre a forma como você faz o seu trabalho. As pessoas que te criticam muitas vezes só veem o final da história. Não sabem de todo o sacrifício que você faz para chegar até ali. Para se ganhar um jogo no fim de semana, você tem que ralar muito ao longo da semana. Isso as pessoas desconhecem. Daí, vêm algumas críticas. Geralmente, de leigos. Quanto à lateral, discordo que seja uma posição carente no futebol. No Brasil, há uma meninada muito forte surgindo para dar conta da Seleção Brasileira. Tem também Maicon, da Roma. No mundo, admiro jogadores como Lichtsteiner (suíço, da Juventus), e Zabaleta (argentino, do Manchester City).

Voltando ao prêmio, achou justa a eleição de Cristiano Ronaldo o melhor jogador do mundo em 2013?

O prêmio já foi dado. Então, eu acho que é um debate que não deve mais existir. Agora, não concordei com a escolha. Futebol é coletivo. Como um jogador que não ganhou nada em 2013 pode ser eleito o melhor do mundo? É preciso ganhar títulos se quiser ser alguém. É um extraordinário jogador, mas me custa a entender porque o escolheram. Infelizmente, o futebol hoje vai muito além das quatro linhas. Há muitos interesses envolvidos. Coisas que não vale nem a pena perder tempo falando, pois acho que é uma guerra perdida. Para mim, o melhor tem que ser alguém que vença. Aqui no Barça, meus companheiros sempre me falam: "Jogar no Barcelona é fácil, difícil é ganhar pelo Barcelona". No futebol, infelizmente é assim: se você não ganha títulos, você não é recordado. Por isso que eu trabalho para ganhar. Não quero ser só mais um que passou pelo futebol.

Que interesses são esses que você fala?

São interesses demais. É difícil ficar falando. O que se percebe é que futebol hoje não se resume a dentro das quatro linhas. Mas o fator esportivo, no campo de jogo, ainda é grande o suficiente para ser maior que tudo.

Piqué, zagueiro do Barcelona, já declarou que, para ele, Messi é o maior jogador de todos os tempos. Você concorda?

É difícil responder por eu só ter 30 anos. Não vi Pelé jogar. Dos que eu vi jogar, Messi é o melhor. Para ser o melhor de todos, ele está a caminho. Pode ser, mas ainda me parece que não é. Agora, eu acho Messi o melhor desta década. Futebol é feito de décadas. Cada uma com seus destaques. E, cá entre nós, esta década já é de Messi, mesmo que não ganhe uma Copa do Mundo. Messi é um gênio, um produto da natureza que, com o dom que tem, faz encantar o mundo inteiro. Eu diria que Messi é um brasileiro que foi criado na Argentina (risos).

Como é a convivência com o Messi? É tranquilo lidar com ele fora de campo?

Não adiantaria você ser um grande jogador dentro de campo se tivesse um mau comportamento fora dele. Você acabaria odiado. E Messi é assim: uma grande pessoa fora de campo também. Há uma convivência tranquila entre todos os atletas do Barça, e que foi amadurecendo com o tempo. Como profissional, Messi tem caráter, é sério e muito comprometido. Por isso, é o melhor jogador de futebol da atualidade.

Você é o atleta que mais deu passes para gol na carreira de Messi. É uma honra?

Sim, são coisas que você vive na carreira e que nunca vai esquecer. No futuro, quando Messi for uma lenda e estiverem passando os gols dele na TV, eu direi para meus filhos: "Messi fazia os gols, mas quem dava assistências era o papai! (risos)".

E Neymar, como está aí em Barcelona?

Muito feliz. Bem adaptado e começando a construir uma história aqui. Todos no clube querem o bem dele e eu fico muito satisfeito de, como brasileiro, ter ajudado na adaptação dele à cidade e ao clube. Está gradativamente conquistando as coisas dele e eu fico feliz por isso. É um moleque merecedor.

Há cinco dias, o presidente do Barcelona renunciou ao cargo por denúncias de apropriação indébita dos valores referentes à negociação de Neymar. Como você  encara esta situação?

Eu prefiro não comentar. Isso foge da questão esportiva. Prefiro ficar distante disso. A única coisa que quero é que o Barcelona não perca seus grandes jogadores e siga forte dentro de campo.

Saindo de sua fase atual e falando agora de passado e futuro ao mesmo tempo. Você segue com o desejo de encerrar a carreira no Bahia?

Sim, claro! O sonho continua e não há porque mudar. E sonho também em, após encerrar a carreira, seguir no clube. Quero tomar parte em alguma coisa. Penso em, de alguma forma, ajudar o Bahia a voltar a ser tão grande quanto o seu torcedor. Por tudo que envolve a grandeza do Bahia, ele merece muito mais do que tem. Não cabe a um clube como o Bahia ficar todo ano lutando pra não cair. As pessoas que tomam conta do Bahia precisam entender que o ele precisa ser tratado e encarado da forma que ele merece.

Qual é o posto que você gostaria de ocupar? Pensa em ser presidente do Bahia?

O cargo não importa muito. O que eu quero é estar presente e seguir no Bahia após encerrar minha carreira de jogador. Quero tomar parte em alguma coisa. Não tive oportunidade de estudar, mas tenho uma grande experiência no futebol, o que pode ser muito útil. Quero compartilhar com o Bahia. Desejo ajudar quem me ajudou no passado. Eu nunca vou esquecer o Bahia. Você sabe como é, né? A gente pode sair da Bahia, mas a Bahia nunca sai da gente. Amo minha terrinha.

Seu contrato com o Barça termina em junho de 2015. Já é possível ver Daniel no Bahia daqui a um ano e meio?

Eu quero um pouco mais para a frente. Quando chegar aí, não estarei mais no auge da carreira. Tenho medo de não corresponder à expectativa da torcida. Vai existir uma pressão muito forte para que eu seja o mesmo Daniel dos meus melhores momentos no Bahia, no Sevilla e no Barcelona. Não quero carregar esse peso, nem frustrar a torcida, porque ela não merece. Sonho com uma passagem mais leve. Com certeza, é o clube onde desejo encerrar minha carreira. Mas, mesmo não sendo no auge, vou me preparar muito para isso. Podem ter certeza que não vou chegar aí capengando (risos). Estarei pronto para ser útil dentro de campo.

Você já declarou que um dia gostaria de atuar no meio-campo. É a posição que você pensa em jogar no Bahia?

Isso. É uma posição que gosto. No Barcelona, queria jogar no meio também. Mas, aqui temos os melhores meias do mundo. Então, eu sigo na lateral. Mas, se um dia algum clube brasileiro me quiser como jogador, saiba que eu quero jogar no meio. E, no futuro, quero ser o meia-armador do Bahia.

Você se tornou famoso também fora de campo pelo gosto por moda e pela forma extravagante como se veste. É um gosto que começou na Espanha?

Sempre tive gosto por moda desde que morava em Juazeiro, mas, infelizmente, não tinha condições econômicas de comprar o que gostava. Minha carreira no futebol  me deu essa oportunidade.

Algumas pessoas te criticam por ter achar fashion demais. Como lida com isso?

Há muitos outros jogadores que também gostam de moda. Eu, particularmente, procuro não me preocupar tanto com críticas. Alguns dizem: "Ah, agora que ficou famoso está comprando roupas de marca". Mas isso não tem nada a ver! A forma como a pessoa se veste tem a ver exclusivamente com gosto, e não com a condição econômica. Para mim, tanto faz comprar roupas em um local onde todo mundo compre ou numa grife. O que importa é o meu gosto. Quero manter minha autenticidade. É como diz Gilberto e Preta Gil: "ser diferente é normal".

Está acompanhando o movimento do Bom Senso FC? O que tem achado dele?

Como o próprio nome diz, é o bom senso. Quando os pedidos são feitos de forma educada e chamando para um debate saudável, é positivo. É isso que eles estão fazendo. Seus pleitos são justos. Jogador vive de rendimento e, para isso, é importante evitar excesso de jogos, viagens... O que tem sido feito é em prol de todos: clubes, jogadores e telespectador.


SAIBA MAIS

Tabela completa União Tricolor Bahia da Copa do Nordeste 2014

Tabela completa União Tricolor Bahia Copa São Paulo Jr

Tabela completa União Tricolor Bahia do Campeonato Baiano 2014

Confira

Torcedor: Seja Sócio do Esquadrão de Aço

Fogueira das vaidades; Uma inquisição Democrática


Daniel Dórea e Ricardo Palmeira – A Tarde

Foto: Junji Kurokawa | AP Photo