Postado por - Newton Duarte

Declaração de veto

Declaração de veto

Não sei quem vai ganhar a eleição. Só sei que ainda vai ter muita gente perdendo a amizade por uma mera troca de letras.

São todos farinhas não do mesmo saco, que já não tenho mais paciência para isso. Mas o pó que levanta e dá a volta por cima e para baixo do tapete é do mesmo tipo. A sujeira dos sujeitos ocultos, indeterminados ou com as impressões digitais devidamente reconhecidas é muito parecida. Só varia o balde onde será reciclada. Quando não vai mesmo para o marrom.

Infelizmente, junto com a imprensa da mesma cor que joga junto. Seja do Partido da Imprensa Golpista ou seja do Partido da Imprensa Governista, as coisas precisam mudar para que continuem as mesmas no chiqueiro dos PIGs. Ganhe a oposição ou a situação, vença a mídia que coloca venda nos olhos ou a que está à venda para o poder da ocasião, a situação vai continuar se opondo ao que se precisa para o brasileiro.

Mas é dever reconhecer: seja qual for a bandeira que o cidadão desfralde, ou qual a que ele não quer ver pela frente por fraudes, fraldas ou farsas, são inegáveis os avanços no país nos últimos 20 anos. Com PSDB e com PT. Mais ou menos com uns e outros, avançamos. Testemunho de quem já votou em tudo que está aí. E esteve lá.

Sim. O país avançou nos últimos 20 anos de FHC, Lula e Dilma. Com ambos os partidos e com a base aliada. Mais aliada que base. A do hay gobierno soy a favor! Seja qual for.

Não quero aqui declarar voto. Muito menos pedir voto. Ainda menos doutrinar. Patrulhar. Faça o que quiser com seu voto. Anule se quiser. Deixe em branco. Faça um churrasco. Viaje. Durma. Dance. Sapateie. Faça o que você está fazendo agora: enchendo o saco do outro. Convide para jogar aéciocrush ou dilmafarm. Grite “chupa petralha” ou “chupa privateiro” em caso não de vitória do seu candidato, mas de derrota do outro – e sempre lembrando que já volta duas casas quem usa qualquer um dos termos.

Faça o que quiser. Mas jamais se esqueça: o voto é secreto. Fique com o seu que eu fico com o meu.

Falando como rosna um desses pitbulls com cara de chihuahua que são, como todo cão, fidelíssimos aos donos, “faça qualquer m. na urna. Até mesmo votar”.

Vote num número ou no outro, vote na mulher ou no homem, vote contra um ou contra o outro, faça o que bem entender. Ou o que você não entende muito. Ou, como eu, não queira mesmo entender muito.

Mas cobre a autoridade eleita como cobramos o cartola de nosso clube e o treinador do nosso time. Cobre os agentes políticos como exigimos garra e bola de nossos jogadores.

Seriamos um país muito melhor se fôssemos tão exigentes como cidadãos como somos intolerantes como torcedores.

O problema é que nesta eleição foi criada uma horda de eleitores organizados. Uma talibancada que ataca nas redes sociais, achaca nos comentários, encharca os piquás com a torcida incondicional, compartilha textos de boçais de blogs, curte textos de bestas de blagues.

E que torce por candidatos e partidos como se fossem craques e clubes. Blogueiros de clubes dos portais da web são mais equilibrados que alguns jornalistas, economistas, advogados e remunerados liberais que precisam mais de internação que de internet.

Uma coisa é torcer por um time horroroso que defende o nosso clube. Outra é votar incondicionalmente em um candidato ou legenda que não é boa e ainda a defender como se fosse a nossa bandeira.

Há 23 anos participo de mesas redondas futebolísticas de todos os tipos e níveis. Muitas delas eu discordei do caminho do, digamos, “debate”.

Mas, agora, pelo que vemos pelas multiplataformas de mídia, ou pior, da míRdia, vemos que os jornalistas esportivos foram redimidos pelos coleguinhas que tratam do jornalismo político. O clubismo e bairrismo que infesta a mídia esportiva é pinto perto da granja armada por rottweilers, rola-bostas, abutres, papagaios, antas, asnos, burros e outros bichos.

E aqui apenas escalo muitos dos animais usados por outros para “debater” ideias à esquerda e à direita. Com uma defesa de posicionamentos que, de fato, é apenas um ataque a dos outros.

O Fla-Flu eleitoral é tão baixo na mídia sem modos e nas redes antissociais que é risível a crítica à baixaria real entre os candidatos. A eleição conspurcada de 1989 é quase um pleito de grêmio acadêmico perto do MMA e dos mimimis da campanha.

É sempre salutar se debater política.

Assunto sério mesmo quando os atores nem sempre são. Mas parece que, de um lado e de outro, a “festa da democracia” é uma farsa ditatorial. Não se debate. Apenas se bate sem dó.

Quem vota na situação é “petralha”, “esquerda caviar” , “bolivariano” ou mesmo “terrorista”, “bandido” e “golpista”. Quem vota na oposição é “coxinha”, homofóbico”, “privateiro”, “preconceituoso”, “torturador”, “bandido”, “golpista” e mais um monte de epítetos que “cabem” para todos os lados. Com ou sem razão. Com ou sem o menor pudor. E sem graça. Sem conteúdo. Sem nível.

Ganhe quem vencer a eleição, parte da mídia já perdeu de goleada. Aquela que insulta e depois reclama que é perseguida. Aquela que luta pela democracia desde que coincida com o que pensa. Se é que se pensa.

A imprensa que milita virou milícia. A imprensa que patrulha virou milico.

O mico que afasta amigos e afugenta a imprensa da imparcialidade, isenção, independência e objetividade. Afasta da busca da melhor versão possível dos fatos. Da noção mais equilibrada e plural. Do jornalismo.

Uma coisa é tomar partido e ter opinião formada. Outra é deformar fatos e partir para a ignorância embutida na virulência.

Tem muito jornalista culto curto de propósitos. Tem muito prepotente cheio do jornalismo.

Eu declaro meu voto e adesivo para o meu carro:

“Mantenha distância: imprensa”.

É o que farei na eleição.

Vote em quem quiser.

E vete quem quer brigar pelo seu voto.