Postado por - Heitor Montes

Declaração à família, religião e hip hop: conheça as tatuagens de Renê Junior

No braço direito, os nomes da primeira filha, da mãe e uma carpa. No outro, o registro de um salmo da bíblia, o trecho de uma música da banda Racionais e o nome do pai. Na mesma região, mas nos dedos, o dia em que nasceu e as letras do seu nome. No peito e barriga, os nomes da esposa, dos afilhados, uma mensagem motivacional, uma cruz e dois Mickeys. No pescoço, o 05 (número da sua camisa), uma imagem do ex-jogador de basquete Michael Jordan e um diamante com o nome da segunda filha. Nas costas, a frase: “Livrai-me de todo mal. Amém”. Na perna, uma oração a São Jorge. De forma breve, essas são algumas das 27 tatuagens espalhadas pelo corpo do volante do Bahia Renê Junior. E, por incrível que pareça, nenhuma delas é ligada ao futebol.

Apegado à família, religioso e também cheio de hobbies, Renê Junior registra no seu corpo tudo que molda a sua personalidade e o inspira. A ideia começou a ser colocada em prática em 2008, a partir do nome da filha, ainda quando defendia o modesto Madureira, e tomou grandes proporções com o passar do tempo - chegou a fazer 16 tatuagens em um só ano. Não por acaso, é chamado de “gibi” pelos companheiros de Bahia. [Confira todas as tatuagens de Renê no vídeo abaixo]

- Fiz a primeira quando a minha primeira filha nasceu. Sempre tive vontade de fazer. Todas as minhas tatuagens têm um significado, também fui criando algumas coisas. É da família, alguma frase, minhas filhas, esposa, pais, tia, salmo da bíblia... São frases que me inspiram. Ter o nome delas no meu corpo é algo que eu já queria – afirma Renê Junior.

Como Renê Junior mesmo diz, tudo tem um sentido. De trajetória difícil, quando viveu nas favelas do Piscinão de Ramos e Vila Kennedy, no Rio de Janeiro, com muitos desejos, mas sem condição financeira para realiza-los, Renê passou por uma série de clubes pequenos até ter a chance defender uma equipe de ponta. Por isso, decidiu deixar gravado na pele os nomes daqueles que estiveram ao seu lado em todos esses momentos.

Renê Junior posa com filhas e esposa após conquista da Copa do Nordeste (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia) Renê Junior registra nome da filha, oração e mensagens em tatuagens pelo corpo (Foto: Reprodução/Instagram)

- Foi complicado, porque passei por um monte de time pequeno. Não tive base, não tive aquilo de jogar em time grande no início. Quando comecei já foi em time pequeno. Comecei na Estácio de Sá, time da faculdade, segunda divisão do Rio. Depois fui para o Madureira, Democratas, Salgueiro. Comecei a rodar, e minha família sempre me acompanhando quando a fase não era boa. Aí as coisas começaram a melhorar, e fui para o Mogi Mirim, Ponte Preta, Santos. Deu uma melhorada, mas no começo foi difícil, quando você pega esses times que não têm estrutura – lembra Renê.

Depois de passar por Estácio de Sá, Madureira, Democratas, Salgueiro, Migi Mirim e Ponte Preta, lá estava Renê no Santos de Neymar, em 2013. Viveu bons momentos naquele time até ser vendido para o Guangzhou Evergrande, da China. No continente asiático, encontrou na religião forças para superar uma lesão que o fez ficar afastado dos gramados por mais de um ano. À época, ele teve uma pubalgia. Depois que se recuperou, tentou voltar ao Brasil, mas, rotulado como jogador “bichado”, não conseguiu a transferência.

- Tinha uma pessoa que cuidava da minha carreira, eu desfiz esse acordo com ele, e ele começou a falar que eu era "bichado", que era isso, aquilo, que não poderia me levar, porque minha carreira tinha acabado. Foi na época que tinha contrato com o time da China. Falavam que eu não ia voltar a jogar em alto nível. Quando o pessoal indicava, falavam que tinham essa dúvida [quanto à sua situação física]. Mas Deus é bom demais. Estou mostrando agora. Estou há um ano sem lesão.

Renê Junior posa com filhas e esposa após conquista da Copa do Nordeste (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)Renê Junior posa com filhas e esposa após conquista da Copa do Nordeste (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)

O lado fã de Renê Junior

Ao retornar ao Brasil, o volante defendeu a Ponte Preta até chegar ao Bahia na temporada passada. No Tricolor, viveu as conquistas do acesso em 2016, do título da Copa do Nordeste na semana passada, mas também as tensões que envolveram a trajetória nessas competições. Não fez tatuagens que lembrem esses momentos, porque sempre preferiu alimentar a vontade de marcar o corpo com símbolos que representam os seus gostos e interesses.

Além da paixão pela família e devoção à religião, as tatuagens também entregam o lado fã de Renê. Apreciador do basquete dos Estados Unidos, tatuou no pescoço Michel Jordan, maior jogador de todos os tempos, fazendo uma cesta; também copiou trechos de músicas dos Racionais e, para alegria das filhas, tem dois Mickeys na costela.

- Eu não imaginava que ia cobrir o corpo tanto, não imaginava que teria coragem. Mas, depois que você faz a primeira, vai embora. Agora vou começar a fechar as costas, estou com os desenhos em mente - planeja.

Com a nova tatuagem planejada, Renê Junior não faz grandes projeções para o futuro. Feliz com o lugar onde conseguiu chegar, não almeja grandes conquistas: quer manter tudo que conquistou.

- Sonho pessoal eu costuma falar que é viver um dia após o outro. Meu sonho pessoal é ver minha família bem, ter o que comer em casa. Meu sonho é esse. Pedir a Deus para não passar por uma lesão... Passei um ano e alguma coisa parado. Sei que é ruim. A pessoa chegar para você e falar que não vai voltar a jogar bola... Todo dia, quando acordo, peço a Deus para me dar saúde. Meu sonho pessoal é ter saúde, ver minha família bem. O resto eu corro atrás com trabalho - finaliza.

Fonte: Globo Esporte