Fantasma vive: Uruguai abocanha a vaga e elimina a Itália do Mundial
Com um a mais, Godín faz o gol da classificação, Suárez morde Chiellini na luta pela bola em jogo dramático, Buffon faz o que pode e Balotelli vai mal
Não há na história das Copas duas seleções que amem mais o sofrimento que Itália e Uruguai. São décadas de resultados obtidos em batalhas épicas, jogos que nunca parecem estar decididos. E foi assim, nesta terça-feira, na Arena das Dunas, em Natal. Com um jogador a menos desde o início do segundo tempo, a Itália lutou, Buffon fez milagres, mas a Celeste venceu por 1 a 0. Godín, a dez minutos do fim, superou a grande atuação do capitão da Azzurra para classificar o time sul-americano às oitavas da Copa do Mundo. Logo após a partida, o treinador italiano Cesare Prandelli pediu demissão.
Não foi um jogo técnico, de lances maravilhosos. Ninguém também esperava isso de dois times conhecidos mais pela garra do que pela técnica. Balotelli decepcionou pela Azzurra e saiu no intervalo. A Itália chegou a ser melhor em alguns momentos, mas sentiu demais o cartão vermelho de Marchisio, após dar uma solada na canela de Arévalo Rios.
Empurrado pela torcida, maioria entre os 39.706 presentes, o Uruguai fez o de sempre, lutou pela bola, foi incansável e, acredite, Suárez chegou a morder Chiellini em uma disputa de bola na área. O gol veio logo depois, aos 35, com Godín desviando de cabeça. A Celeste, classificada na segunda colocação, espera o fim da rodada para conhecer o adversário, que virá do Grupo C do Mundial. A Costa Rica empatou diante da Inglaterra e assegurou o primeiro lugar da chave.
Godín comemora o gol de cabeça que valeu a vaga nas oitavas para a Celeste Olímpica
Defesas levam vantagem e Balotelli perdido
É quase uma regra em Copas do Mundo: uma “ola” só começa nas arquibancadas se o jogo é muito ruim ou se o resultado está garantido. Com apenas 24 minutos, italianos, brasileiros e alguns uruguaios já prestavam mais atenção na hora de levantar da cadeira do que no decisivo confronto. Foi um primeiro tempo fraco, de poucas jogadas de ataque e amarrado. Nada menos que 24 faltas cometidas, número elevado para um Mundial.
Balotelli leva cartão amarelo |
Se é possível escolher um lado que conseguiu certa vantagem, foi o da Itália. Cesare Prandelli prometeu que não colocaria em campo um time defensivo para empatar e cumpriu. A pequena superioridade aconteceu pela melhor atuação dos meio-campistas. Pirlo foi bem marcado por Cavani, mas o garoto Verratti, que substituiu De Rossi, apareceu com qualidade na saída de bola e na marcação.
A Azzurra só não teve qualidade para atacar. Balotelli conseguiu ser pior do que contra a Costa Rica. Mais recuado pela presença de Immobile, cansou de trombar nos adversários e nada produzir. Ainda levou um cartão amarelo e poderia ter sido expulso ao desviar uma bola com a mão. O lance mais perigoso surgiu em uma cobrança de falta. Pirlo, claro, bateu com efeito. Muslera jogou para escanteio.
O Uruguai foi cauteloso até demais para quem precisava vencer. É verdade que Cavani se sacrificou novamente para marcar, mas foi displicente no ataque, quase desinteressado. Sobrou para Suárez correr e esbarrar na muralha formada por Barzagli, Bonucci e Chiellini. Quando fugiu dela, encontrou outra parede, Buffon, que pegou chutes seguidos dele e de Lodeiro.
Disputas duras como a de Alvaro Pereira e Immobile marcam os primeiros 45 minutos
Drama, expulsão e mordida no segundo tempo
O baixo rendimento dos times no primeiro tempo fez os treinadores mudarem. Prandelli trocou Balotelli por Parolo. Tabárez sacou Lodeiro para colocar Maxi Pereira. Funcionou? Bem pouco, mas capaz de tirar o Uruguai do marasmo, mesmo que fosse para reclamar. Cavani e Bonucci se enrolaram na área, com o italiano fazendo uma alavanca sobre o rival. Lance duvidoso, polêmico e ignorado pelo árbitro Marco Rodriguez, do México.
Marchisio vai para o chuveiro mais cedo por conta da entrada forte em Arévalo Rios |
A bronca contra o juiz parece ter despertado a Celeste do sono profundo. Logo em seguida, Cristian Rodríguez recebeu linda bola de Suárez na esquerda, mas, de frente para Buffon, chutou torto. A animação sul-americana cresceu ainda mais na sequência. Marchisio cravou a chuteira na canela direita de Arévalo Rios e foi expulso sem mesmo ter recebido cartão amarelo.
A Itália, como esperado, se fechou toda na defesa num 5-3-1, deixando só Immobile avançado, e esperando a pressão adversária. O Uruguai se lançou ao ataque. Tabárez tirou Alvaro Pereira para a entrada de mais um jogador de frente, Stuani. O gol só não saiu graças a Buffon. Suárez teve aquelas chances cara a cara que cansou de marcar no Liverpool. Mas, desta vez, encontrou a mão direita do capitão da Azzurra. Um milagre!
Parecia improvável resistir. A vontade de vencer chegou ao limite quando Suárez mordeu o ombro de Chiellini na área, mas a arbitragem não viu. Nem Buffon seria capaz de suportar a “blitz”. Pelo alto, veio o gol, aos 35 minutos. Godín subiu mais que todos os defensores rivais, desviou no canto esquerdo do goleiro e colocou o Uruguai em vantagem.
A Itália ainda tentou responder no fim, mas não tinha pernas, não tinha time para buscar a vaga que deixou escorrer pelas mãos. Até Buffon foi para a área celeste em busca do gol, mas não foi bem sucedido. O fantasma da Copa de 50 ainda está vivo no Brasil.
Torcida celeste e jogadores em êxtase após o gol que decidiu o duelo e eliminou a Itália
Itália 0 x 1 Uruguai
Copa do Mundo - Grupo D
Local:Estádio Arena das Dunas, em Natal (RN)
Data:24 de junho de 2014, terça-feira
Horário:13h (de Brasília)
Árbitro:Marco Rodriguez (MÉX)
Assistentes:Marvin Torrentera e Marcos Quintero (ambos do México)
Cartões Amarelos:Itália:Balotelli, De Sciglio; Uruguai:Muslera ,Arévalo Rios.
Cartão Vermelho: Itália:Marchisio
Gol: Uruguai:Godín 35’ 2º T
Itália:Buffon, Barzagli, Bonucci e Chiellini; De Sciglio, Verratti (Thiago Motta), Marchisio, Pirlo e Darmian; Balotelli (Parolo) e Immobile (Cassano)
Técnico:Cesare Prandelli
Uruguai:Muslera, Cáceres, Giménez, Godín e Álvaro Pereira (Stuani); Gonzáles, Arévalo Ríos, Cristian Rodríguez (Ramírez) e Lodeiro (Maxi Pereira); Suárez e Cavani
Técnico:Óscar Tabárez
O CARA
Gianluigi Buffon
Por tudo que fizeram na Copa, Pirlo e Buffon mereciam ter mais sorte
Se não fosse pelo experiente goleiro italiano, o Uruguai poderia ter saído com uma vitória muito mais fácil. Não que os uruguaios jogassem tanto futebol assim, mas criaram algumas chances que foram essenciais para que a Itália seguisse no jogo. O lance do gol não tinha o que fazer, mas onde ele pode, salvou a Azzurra.
O GOL
36′/2T: GOL DO URUGUAI!
Cobrança de escanteio de Gastón Ramirez do lado esquerdo, Godín subiu e, de ombro, meio de costas, aos trancos e barrancos, conseguiu o gol. O gol da classificação Celeste.
A TÁTICA
Itália x Uruguai
Prandelli mudou o time pela terceira vez em três jogos. Desta vez, escalou os três zagueiros da Juventus para começar a partida, com De Sciglio finalmente começando um jogo depois de se recuperar de lesão. Mais do que isso: colocou Immobile no ataque, fazendo uma dupla de centroavantes, algo que ele ainda não tinha feito. O time não foi bem, não conseguiu criar chances e acabou derrotado. O Uruguai mudou o posicionamento, com uma linha de defensores com cinco jogadores, mas com laterais que se tornavam alas com a bola. O time marcou muito bem, sofreu para criar, mas conseguiu pressionar.
A Estatística
3
Número de gols marcados pela Itália em três jogos da primeira fase. Neymar, o artilheiro da Copa até aqui, marcou 4. Sozinho, fez mais que a Azzurra inteira. Fica difícil classificar assim.
ATUAÇÕES: Godín se destaca com gol, e Balotelli tem atuação irreconhecível
Na Arena das Dunas, Uruguai vence Itália por 1 a 0 e avança para as oitavas de final
BUFFON - GOLEIRO
Atuou muito adiantado, e quase que os uruguaios se aproveitavam disso. Mas foi apenas um detalhe diante de sua atuação sempre segura. Duas belas defesas cara a cara
Nota: 7,5
BARZAGLI - ZAGUEIRO
Do trio de zagueiros, foi o que mais teve trabalho com a força e a velocidade de Cristian Rodríguez. Mostrou segurança pelo alto
Nota: 6,5
BONUCCI - ZAGUEIRO
Bem protegido pelos companheiros, não teve muito trabalho com Suárez.
Nota: 6,0
CHIELLINI - ZAGUEIRO
Coube ao experiente defensor partir para o combate com Suárez. No saldo, foi bem.
Nota: 7,0
DARMIAN - ALA-DIREITO
Foi pouco à frente e, na hora de defender, sofreu com a boa atuação da dupla Pereira-Rodríguez no primeiro tempo.
Nota: 5,5
VERRATI - VOLANTE
Teve atuação segura, conseguindo se lançar à frente e promovendo inclusive dribles de maior efeito plástico.
Nota: 7,0
THIAGO MOTTA - VOLANTE
Entrou aos 30 minutos, mas pouco contribuiu na pressão italiana.
NOTA 6,0
PIRLO - VOLANTE
Como de costume, discreto, mas importante no meio-campo italiano. Sofreu com a perseguição incansável de Cavani.
Nota: 6,5
MARCHISIO - MEIO-CAMPO
Abaixo dos demais meio-campistas. Faltou intensidade diante de um jogo tão brigado. Completou a má atuação com expulsão tola, ao entrar forte em Arévalo.
Nota: 4,0
DE SCIGLIO - LATERAL-ESQUERDO
Não chamou a atenção. Ficou bastante entretido nos avanços de González e ainda fez falta desnecessária com toque de mão na bola.
Nota: 5,5
IMMOBILE - ATACANTE
Não justificou seu retorno ao time. Completamente entregue à marcação
Nota: 5,0
CASSANO - ATACANTE
Entrou e melhorou o ataque italiano, embora em vão.
NOTA 6,5
BALOTELLI - ATACANTE
Uma finalização torta, amarelo desnecessário e, por pouco, não foi expulso. Um artilheiro irreconhecível em campo.
Nota: 4,5
PAROLO - MEIO-CAMPO
Entrou no lugar de Balotelli e sumiu, assim como seu antecessor.
NOTA 5,5
MUSLERA - GOLEIRO
Desta vez, saiu melhor do gol. Bem, quando exigido.
Nota: 6,0
CÁCERES - ZAGUEIRO
Lateral que virou zagueiro mostrou muita força no combate. Cumpriu seu papel com valentia
Nota: 7,5
GIMÉNEZ - ZAGUEIRO
Mais jovem jogador uruguaio em Copas, o garoto mostrou personalidade e não se escondeu inclusive de discussões com experientes italianos. Lugano não deixa saudade.
Nota: 7,0
GODÍN - ZAGUEIRO
Não é fácil marcar o pivô de um centroavante do porte de Balotelli. Godín fez isso e muito mais. Atuação consistente coroada com o gol salvador, de ombro. Valeu a estrela.
Nota: 8,0
ÁLVARO GONZÁLEZ - ALA-DIREITO
Volante deslocado para o lado, preocupou-se mais em ocupar terreno e defender. O que fez com boa taxa de acerto.
Nota: 6,0
ARÉVALO RIOS - VOLANTE
Melhorou em relação aos últimos jogos. Sempre forte no combate, ainda tratou de errar menos passes, passando mais segurança à defesa.
Nota: 6,5
CRISTIAN RODRÍGUEZ - MEIO-CAMPO
Um dos melhores uruguaios em campo. Soube aliar força e velocidade, com boas combinações e infiltrações pelo lado esquerdo.
Nota: 7,5
GASTÓN RAMÍREZ - MEIO-CAMPO
Entrou bem, conseguiu manter-se perto do nível de Rodríguez
NOTA 6,5
LODEIRO - MEIO-CAMPO
Não aproveitou o espaço que tinha e saiu no intervalo, apagado
Nota: 5,0
ÁLVARO PEREIRA - ALA-ESQUERDO
Saiu bastante ao ataque e com qualidade. Faltou, no entanto, fazer mais cruzamentos, ser mais objetivo nas arrancadas.
Nota: 6,5
MAXI PEREIRA - LATERAL-DIREITO
Entrou para atacar, mas pecou no capricho dos cruzamentos.
NOTA 6,0
STUANI - MEIA-ATACANTE
Entrou ligado na partida, mas pouco contribuiu.
NOTA 6,0
CAVANI - ATACANTE
Foi bem na tarefa de marcar Pirlo, mas errou tudo no ataque
Nota: 5,0
SUÁREZ - ATACANTE
Não foi o mesmo do jogo contra a Inglaterra, mas de seus pés saíram as duas grandes defesas de Buffon na partida. Ou seja, sempre perigoso.
Nota: 6,5
ÁRBITRO
Marco Rodríguez (MEX)
A nota baixa não se deve à expulsão de Marchisio — entendemos que entrar com o pé tão alto numa disputa é se arriscar a levar um cartão vermelho. Porém, não ver a mordida de Suárez em Chiellini foi um grande vacilo do juiz.
Nota: 5,0
Fonte: Lucas Rizzatti/GE.COM - Felipe Lobo/Trivela - GENET
Foto: Getty Images – Reuters – AFP e AP