Postado por - Newton Duarte

'El Pipi' Leandro Romagnoli, o símbolo de uma obsessão do San Lorenzo

Leandro Romagnoli, o símbolo de uma obsessão do San Lorenzo

Leandro Romagnoli, o símbolo de uma obsessão do San Lorenzo

Teve gente que acampou duas noites em plena rua, enquanto milhares se amontoavam em uma fila de um quilômetro de extensão durante 12 horas, sob a intempérie e em pleno inverno de Buenos Aires. Para quem não liga para futebol, era só uma maluquice para conseguir um ingresso para um jogo, mas nada disso desanimou a torcida do San Lorenzo de Almagro. É fácil entender por quê: para ela, a partida de volta com o Nacional do Paraguai na final da Copa Libertadores da America não é só um jogo, mas sim a obsessão de toda uma existência.

"Estou esperando esse jogo toda a minha vida", diz ao FIFA.com Leandro Romagnoli, de 33 anos, hoje meio-campista e ícone absoluto do clube. A frase resume em oito palavras o sentimento dos torcedores e algo que, na Argentina, não é segredo para ninguém: que o San Lorenzo é o time mais obcecado do país com a ideia de erguer a taça do torneio continental. Existe um desejo de consagração nesta mania, mas também de desabafo. Afinal, é o único dos cinco grandes do futebol argentino que nunca foi campeão sul-americano. Em um ambiente esportivo como o do país, em que a ridicularização dos adversários é o que domina as arquibancadas, não ter este troféu é um golpe duro demais.

"Foi uma espera de muitos anos por jogar esta final e dá para sentir toda esta ansiedade, este nervosismo das pessoas e do clube. Minhas sensações são as mesmas que as de todas elas", admite o camisa dez, que, desde que vestiu a camisa azul-grená do San Lorenzo aos sete anos, sonhava em ganhar a Libertadores. Tanto que, apesar de ter sido duas vezes campeão nacional (em 2001 e 2013) e de ter vencido a Copa Mercosul em 2001 e a Copa Sul-Americana em 2002, Romagnoli se diz diante do maior desafio de sua carreira.

"Apesar de a Mercosul e a Sul-Americana terem sido muito importantes, o que as pessoas realmente querem é a Libertadores. Conquistá-la, para mim, seria como ganhar uma Copa do Mundo, por tudo que ela significa para o clube. Não tive a chance de jogar uma Copa do Mundo e sinto como se fosse assim", compara.

Vida azul-grená

"Pipi" – foi assim que sua irmã Natalia o apelidou aos três anos, quando dizer "Leandro" ainda era muito difícil para ela – tem uma sintonia natural com a torcida do clube. Quando era pequeno, na queda de braço entre seu pai, Atilio, torcedor e ex-jogador do Huracán, arquirrival do San Lorenzo, e sua mãe, Rita, torcedora roxa deste último, a identificação com Édipo falou mais alto.

"Eu decidi torcer pelo San Lorenzo por causa de minha mãe e de meu tio, que sempre me levava ao campo quando eu era pequeno", relembra. Ele passou por todas as categorias de base do clube e sempre impressionou com seu talento. Lá e no Franja de Oro, um clube de bairro no qual esteve até os dez anos e que sempre atraiu multidões para vê-lo jogar. Reza a lenda que, um dia, Romagnoli fez um golaço e que um senhor de idade foi até a bilheteria para pagar pelo ingresso de novo...

Foi o ex-jogador da seleção Argentina Oscar Ruggeri quem o promoveu à equipe principal do San Lorenzo em 1998, quando ele tinha apenas 17 anos. Vieram os títulos, incluindo o de campeão mundial sub-20 na Argentina 2001, e também as lesões — ele romperia os ligamentos do joelho em duas ocasiões. Em 2004, se transferiu para o México, e mais tarde para o Sporting, de Portugal, mas voltou como o herói que é hoje. É uma idolatria que parece simples para ele. "Faz muito tempo que estou no clube e passei por todas as categorias. Consegui ser campeão e estive nos piores momentos. Talvez as pessoas valorizem isso, e eu sou muito grato", diz.

Os "piores momentos" aconteceram faz pouco tempo — em 2012, quando o "Ciclone" esteve a um jogo de ser rebaixado pela segunda vez em sua história. Nem sequer dependia de si mesmo para se salvar, mas o final acabou sendo feliz, em parte pela intervenção de Romagnoli como líder. "Foi o momento mais complicado para mim e para o San Lorenzo. Tínhamos que virar a situação e não podíamos falhar. Então, os jogadores mais experientes fizeram uma reunião e eu disse coisas que prefiro que fiquem ali mesmo", revelou na ocasião em uma entrevista para a revista argentina El Gráfico.

Mudança radical

Com a chegada de Marcelo Tinelli, um famoso apresentador de TV do país, à vice-presidência do clube em setembro de 2012, houve uma virada total nos rumos da equipe em tempo recorde. "O elenco mudou muito, mas o clube também, econômica e esportivamente. Todos passamos a fazer e continuamos fazendo um esforço para reerguer o San Lorenzo até onde ele estava. Hoje, ele ocupa o lugar em que sempre deveria estar", assegura.

Depois de ganhar o Campeonato Argentino no fim de 2013, sob a orientação de Juan Antonio Pizzi, Romagnoli está agora a uma vitória de erguer o troféu mais desejado de sua carreira sob o comando de Edgardo Bauza. A Libertadores representa em seis meses o fecho para o louco ciclo que levou a torcida do clube de chorar pelo risco do rebaixamento há apenas dois anos a roer as unhas de ansiedade. Afinal, o San Lorenzo passou para as oitavas de final como o segundo pior segundo colocado da fase de grupos, graças ao resultado obtido contra o Botafogo em uma última rodada em que esteve prestes a ser eliminado – só passou com o último gol da vitória por 3 a 0, marcado a quatro minutos do apito final.

"Não começamos do melhor jeito, mas fomos melhorando", resume Romagnoli, que aponta Bauza como o responsável pelo crescimento. "Ele nos ensinou que na Libertadores não dá para jogar como no campeonato (nacional)".

Após o 1 a 1 da ida com o Nacional em Assunção, falta o grito definitivo. Caso ele aconteça, a festança será inesquecível, mas terminará de forma melancólica para "Pipi". "Assinei um contrato (com o Bahia) e tenho que ir. Sou um homem de palavra e tenho que cumpri-lo", diz com tristeza, antes de fazer uma ressalva: "Minha intenção é voltar e me aposentar no clube".

Regressaria a tempo de disputar a Copa do Mundo de Clubes da FIFA Marrocos 2014, caso seja campeão da Libertadores? "Isso seria em dezembro, ainda falta tempo. Tenho um contrato no Brasil, mas nunca se sabe... Vamos ver", conclui. A porta com certeza não estará fechada.


Fonte: FIFA

Foto: AFP