Postado por - Newton Duarte

Eloquente, Marcelo Sant'Ana fala de assuntos polêmicos e recebe elogios

Presidente do Bahia opina sobre assuntos polêmicos e é elogiado por apresentador

Enquanto o elenco do Bahia se preparava para realizar seu último treinamento antes da partida contra o Jacobina, pelo Baianão 2015, o presidente do clube, Marcelo Sant'Ana chamava a atenção em uma rede de TV nacional. O dirigente foi o entrevistado da edição desta sexta-feira (6) do programa Redação Sportv.

Sant'Ana surpreendeu o apresentador André Risek e o comentarista Evaldo José ao emitir suas opiniões sobre assuntos polêmicos no futebol brasileiro. O primeiro deles diz respeito ao Bom Senso Futebol Clube.

O mandatário Tricolor disse ser favorável a quase tudo que o movimento de atletas paga e elogiou um dos seus líderes, o zagueiro Paulo André, contratado recentemente pelo Cruzeiro. "Eu concordo com 80% do que o Bom Senso prega. Porque o que eles pregam, na verdade, não é nenhum absurdo. Eles pregam um calendário melhor e todo mundo quer um calendário melhor. A gente quer ir para o estádio e ter horários melhores, condições melhores, jogos melhores. É normal. Fair play financeiro, gastar dentro das possibilidades. Eu, quando assumi o Bahia, o executivo Marcelo Barros me disse: "Se você montar no futebol, uma folha salarial maior de R$ 1,5 milhão, a gente não vai pagar em dia. O Bahia não tem capacidade financeira". Claro que a torcida do Bahia pressiona, quer um ídolo, um jogador de destaque, mas eu tenho que ser responsável. Não posso ser mais um a cometer os mesmos erros que o Bahia tem cometido ao longo da história. Além disso, entendo que atleta é o principal motor de transformação do esporte, mais do que o dirigente. Quando o atleta fala e se posiciona de maneira firme, ele muda a realidade, faz o torcedor refletir. O torcedor tem um vínculo emocional muito grande com o atleta. Hoje, tem muito assessor, muito profissional, que busca blindar e transformar o jogador em um "produtinho". Só que ele vira um produto pasteurizado, só fala o que todo mundo fala. Então a imprensa não busca mais. O Paulo André tem o perfil de questionar a estrutura dominante. É difícil você questionar quem está no poder, porque você vai ser oprimido".

Quanto ao tema "torcidas organizadas", o dirigente manteve sua posição adotada ainda durante as eleições do Esquadrão, quando mostrou-se defensor apenas do sócio torcedor do clube. "Durante o período de eleição não tive apoio de nenhuma torcida organizada do Bahia. Elas apoiaram um candidato que acabou ficando em segundo lugar (Antônio Tillemont). Desde setembro de 2013, o Bahia não dá mais ingressos e cortou todos os benefícios das torcidas organizadas, isso ainda não gestão passada, do presidente Fernando Schimdt. Vou manter a mesma postura. Não tenho nada contra nem a favor a torcida organizada. Eu sou a favor é do sócio do Bahia. E tenho preocupação quando marginais se infiltram em torcidas organizada. Além disso, a lógica é o contrário. O torcedor é que tem que ajudar o clube, não é o clube que tem que ajudar o torcedor".

Marcelo, que é jornalista e pela primeira vez assume a função de dirigente de futebol também opinou sobre a crise que passa o futebol baiano. Apesar de se declarar apaixonado pelo clube que hoje dirige, ele foi na contramão de alguns torcedores que ainda alimentam o desejo de ver seus rivais "destruídos". "O produto futebol baiano tem que melhorar. Lógico que minha preocupação, minha obrigação é com o Esporte Clube Bahia. Mas, para o Bahia crescer, é interessante que seu rival (Vitória) evolua também. É melhor você ter um bolo grande para dividir do que comer um cupcake sozinho. O futebol baiano tem que ter esse discernimento para poder evoluir. Trouxe o Jorge Avancini do Internacional porque ele participou e foi peça chave da reconfiguração do plano de sócio do Inter. Não adianta eu como presidente do Bahia querer reclamar da cota que a televisão paga, dos valores que os patrocinadores querem pagar. O que depende de nós tricolores é o plano de sócios. Temos que criar o plano de sócios atrativo para o torcedor".

O presidente falou sobre sua chegada ao Bahia e seus projetos para levar o Tricolor a reencontrar o caminho das vitórias e do sucesso. "Nunca sonhei em ser presidente do Bahia, sempre quis ser jogador do Bahia, mas não tive talento para isso. Como não tive esse talento, procurei me qualificar para trabalhar dentro do mercado do futebol. Entendo um futebol como um produto, dentro da indústria do entretenimento. Busquei me qualificar enquanto jornalista para trabalhar nesse enfoque. Morei na Espanha, fiz jornalismo lá durante dois anos. Estudei também marketing, fiz gestão esportiva e marketing de futebol para entender melhor isso. Nós temos que encarar o clube como uma empresa, uma instituição privada, tem que ter técnicos no comando. Por isso, enxuguei a diretoria do Bahia e coloquei apenas três diretorias. São elas a diretoria financeira, que é ocupada por Marcelo Barros, que foi secretário de administração do Governo da Bahia e diretor financeiro da maior rede de universidade da Bahia; a diretoria de futebol, que tem como diretor Alexandre faria, vindo do América (MG) e do estado onde se joga o melhor futebol no país hoje; e a diretoria de mercado, que é ocupada pelo Jorge Avancini, que era gerente de marketing do Internacional. Com esse planejamento, a curto, médio e longo prazo vamos poder dar ao torcedor do Bahia o que ele deseja: taça na prateleira e faixa de campeão no peito".

Ao final do discurso, Marcelo Sant'Ana foi elogiado pelo apresentador e líder do programa, André Risek. "Muitas das coisas que o Marcelo falou aqui é a primeira vez que vejo um dirigente falar. É a primeira vez que vejo um dirigente preocupado com essa pasteurização do jogador de futebol, dele virar um produto que só fala o que o assessor manda", encerrou Risek.

O dirigente tem agradado não só os torcedores do clube, mas também críticos do futebol. Resta aos tricolores acompanhar e cobrar que o mandatário consiga realizar, na prática, seu projeto para a recuperação do Bahia.