Postado por - Newton Duarte

Em família e mais maduro, Maxi se rende à torcida do Bahia: 'É Especial'

Chinelo, bermuda e camiseta. O Maxi Biancucchi que recebe a reportagem do GloboEsporte.com na porta de casa, em um condomínio de luxo em Salvador, já é um deles: um porreta. Cinco meses após ter trocado o Vitória pelo Bahia, Maxi já tem o estilo dos tricolores. Em uma casa onde o número de brinquedos pelos cômodos chama atenção, o argentino de 29 anos se derrete. Mais maduro, Maxi é um homem de família. Um homem de três mulheres: Jasmine, a esposa, e as filhas, Valentina e Vitória.

Em uma conversa franca em seus domínios, o argentino, que é fã de música gospel, falou sobre a família, Copa do Mundo, a oportunidade de finalmente jogar ao lado do irmão e o apoio da torcida do Bahia. Sobre uma possível perseguição rubro-negra no clássico Ba-Vi deste domingo, o argentino é rápido e certeiro.

- Não me incomoda de jeito nenhum. Faz parte do futebol, mas a torcida do Bahia é maior e especial. Nem dá para ouvir as vaias – brinca.

Ciente dos acontecimentos fora de campo, Maxi mostra preocupação com a onda de violência nos estádios, mas ressalta que ainda vê no futebol brasileiro uma situação melhor do que na Argentina.

Maxi Biancucchi recebe reportagem em casa e diz que torcida do Bahia é especial (Foto: Eric Luis Carvalho)

- Acho que, em comparação com a Argentina, aqui está mais avançado. O Brasil tem coisas para melhorar, lógico. Mas, nesse aspecto, não fico muito preocupado, por exemplo, quando minha mulher vai ao estádio. Fico preocupado na Argentina. Lá você sente medo de que possam acontecer coisas ruins. Aqui pode acontecer, mas é mais seguro do que lá. Aqui é bem melhor.

Confira a entrevista feita com o jogador na íntegra:

GloboEsporte.com: O que há de diferente do Maxi que não conseguia fazer gols para o atual, que conseguiu desencantar e balançou as redes duas vezes?
Maxi Biancucchi: Na verdade, a parte física é o que mais me preocupava. Não fiz uma boa pré-temporada. Isso me atrapalhou um pouco no começo. Quando não se está bem fisicamente, perde-se um pouco o tempo da bola, perde força, velocidade. De tudo um pouco. Agora estou me sentindo melhor nesse aspecto. Lógico que também mudei de equipe, com outro estilo de jogo, outros jogadores, outro treinador, outra torcida. Mexe com muita coisa. Necessitei de adaptação, mas acho que a cada dia me sinto melhor.

Você acha que faltava um pouco de sorte?
No futebol sempre tem aquele lado de sorte. Às vezes, você chuta errado e o goleiro não pega. Às vezes você chuta bem e o goleiro pega. Acho que não foi sorte. Foi falta de preparação mesmo. Tive a oportunidade para fazer gols em lances fáceis e não fui feliz. Passa por uma coisa minha mesmo, e não pela sorte.

'Agora estou jogando mais', comemora Biancucchi (Foto: Eric Luis Carvalho)

No ano passado, você costumava ser sempre substituído no segundo tempo. Neste ano, você conseguiu completar várias partidas...
No ano passado, fiz uma pré-temporada forte. Antes de começar o campeonato, tinha uma base forte. O campeonato começou depois. Mesmo treinando forte, se não joga, não alcança o nível ideal fisicamente. Agora que estou jogando mais, pega um ritmo maior de jogo. Tem o lado ruim, que não fiz pré-temporada. Mas, pelo outro lado, o fato de completar jogos é importante.

A torcida pediu para que você cobrasse o pênalti que originou o seu primeiro gol com a camisa do Bahia. Como é sentir que a ansiedade pelo gol também estava nas arquibancadas?
Percebi que a torcida estava com muita vontade que eu fizesse gol. Mas eu sempre falo que não me foco só no gol. Hoje tenho outra responsabilidade dentro da equipe em comparação ao ano passado. Marco mais, faço a função de jogador mais aberto. Antes ficava mais perto do gol, finalizava mais. São várias coisas que mudam. Torcedor às vezes não percebe e cobra que eu repita o que fiz no ano passado. Estou treinando para isso, fazer gol, mas também para ajudar como sempre falei.   

No domingo você marcou um belo gol. Foi reflexo de um aumento de confiança com o fim do jejum?
Com certeza. Quando fiz aquele gol de pênalti, a confiança foi outra. A torcida veio junto, apoiando, incentivando. No jogo contra o Botafogo, já me sentia melhor, um pouco mais leve. Com certeza aumentou a confiança, o que é importante no futebol. 

Sua filha [Valentina] já cobrava para que você fizesse gol pelo Bahia?
Às vezes sim. Às vezes ela pedia para fazer gol. Ela não percebe muito a dimensão disso. Ela só quer entrar em campo em todos os jogos. Às vezes falo com minha mulher que não precisa, que não tem criança. Mas ela quer. Não deixa que tirem isso dela.

Maxi conta que filha já canta e dança músicas da torcida do Bahia (Foto: Eric Luis Carvalho)

Então ela gosta de futebol...
Gosta. Na escola, todo mundo sabe que o pai joga. Ela fica aprendendo um pouco desse estranho fato. Ela já canta as músicas do Bahia. Dança. 

O que a família representa nesse momento, em que você mudou de clube e começa a deslanchar com a camisa do Bahia?
Toda pessoa precisa da família. É a base que sempre está presente, que apoia. O começo não foi fácil. Não comecei bem. Chegava em casa chateado por não desenvolver tudo o que se esperava. Nesse momento, a família é muito importante.   

Além da sua esposa e filhas, você também tem seu irmão no Bahia. Como é a relação com Emanuel?
A gente sempre conversa. Nos momentos difíceis ele fala para mim, eu falo para ele. Conversamos com nossos pais também. A família é muito importante. Não só nos momentos ruins, mas nos bons também. Importante para não perder a estabilidade e manter os pés no chão.

Atacante tricolor tem a companhia do irmão, Emanuel, no Bahia (Foto: Eric Luis Carvalho)

Vocês e Emanuel jogaram juntos no Olímpia?
Não. Ele chegou [no Olímpia] quando eu saí. A gente só jogou contra. É a primeira vez que jogamos no mesmo time.

E como está sendo ter o irmão ao lado no mesmo clube?
Especial. Nunca imaginei formar par com ele. Ainda não entramos em campo os dois juntos. Mas tenho esperança de que, durante o campeonato, possamos trocar passes. Quando ele entrou, eu estava machucado.

O elenco do Bahia parece muito unido. O quanto isso é importante para o bom rendimento do time na temporada?
Acho que o grupo do Bahia é especial. Não tem vaidade no grupo. Somos unidos. Todos estão focados nos objetivos que marcamos. Dá para perceber isso de fora. Realmente está ocorrendo. Temos um grupo excepcional.   

Muita gente se surpreendeu com o início de Brasileiro do Bahia. Você acha que o time pode continuar surpreendendo e sonhar com voos maiores na competição?
Não sei se a palavra é surpreender. Treinamos para isso. Não conseguimos encaixar no início do ano, recebemos muitas críticas com razão. Mas sabíamos que, com o elenco que temos, podíamos chegar ao nível que queríamos. Traçamos um objetivo que é somar a maior quantidade de pontos antes da Copa. Depois vamos ter outro campeonato mais longo. Primeiramente, estamos focados nesse mini-campeonato. 

Domingo tem Ba-Vi e nos últimos clássicos a torcida do Vitória pegou no seu pé. Isso te incomoda?
Imagina... Não. De jeito nenhum. Faz parte do futebol. A torcida do Bahia é maior, não dá para ouvir (risos).

Durante a Copa, vai torcer pela Argentina?
Com certeza. Sou apaixonado pelo meu país. Antes de vir para o Brasil, tinha aquela sensação de rival, que os brasileiros nos odiavam. Mas isso tem um pouco de mentira. Brasileiro e argentino, quando se encontram fora do país, são muito amigos. Já tenho uma filha brasileira. Estamos muito bem aqui. Não tem rivalidade. Vou torcer pela Argentina e se perder... Não vou torcer pelo Brasil, não (risos).

Quem você acha que é favorito ao título mundial?
Difícil demais. Umas das melhores seleções da Argentina foi em 2006, com Marcelo Bielsa. Fez uma eliminatória sensacional, ganhou de todo mundo. Time encaixado, foi lá e ficou fora na fase de grupos. Não tem como saber o que vai acontecer. O Brasil hoje é mais equipe que a Argentina. E vejo a Argentina com maior potencial para crescer durante o mundial que o Brasil. A Argentina, na parte defensiva, tem problemas que o Brasil não tem. A Seleção Brasileira tem muitos jogadores fortes para a defesa. 

Dá para cavar uma vaga na seleção da Argentina?
Não. Todo mundo sonha com isso, mas é difícil. Argentina é igual ao Brasil. Tem muitos jogadores. Só Deus.

Maxi Biancucchi vai torcer para a Argentina durante a Copa do Mundo (Foto: Eric Luis Carvalho)

Você passou três anos no Rio de Janeiro, enquanto defendia o Flamengo. É muito diferente desse um ano e meio em Salvador?
É diferente. Naquela etapa, eu era mais novo. Não tinha filhas. Na vida que levei lá, foi muito bom. Mas, na parte de família, só estava com minha mulher. E às vezes ficava muito bravo quando não jogava. Hoje não. Hoje chego em casa, vejo minhas filhas e esqueço do futebol. Tem que saber diferenciar. Antes era 24 horas pensando em futebol. Agora sei ordenar. Chego em casa, e o futebol fica de lado. Consigo ter uma maior estabilidade e foco. Estou mais maduro. Naqueles anos, ficava chateado quando não jogava. Estou mais maduro e posso curtir melhor Salvador que o Rio de Janeiro naquela época. 

Percebi que há vários brinquedos por perto. Você consegue brincar com usas filhas quando deixa o treino e chega em casa?
Sim. Quando chego, minha filha quer brincar de bicicleta, e tem que brincar. Quando estou cansado, tento convencê-la a fazer uma brincadeira mais leve. Mas ela gosta muito de brincar. Sempre vou pegar ela na escola. Minha vida é sempre em casa. Neste ano, fui uma vez na praia. Não sou muito de sair. Não sou muito de andar na rua. Tem diferentes torcedores. Tem torcedor que vai no estádio, xinga, mas te encontra na rua e te trata bem. Tem que ser respeitoso. Tem brincadeiras, mas gosto de manter o respeito. Não tenho problema.    

Brinquedos das filhas 'decoram' casa do jogador (Foto: Eric Luis Carvalho)

Os colegas de sua filha no colégio te assediam quando você vai buscar Valentina?
Já teve vários casos que fui lá no colégio para dar autógrafos, tirar fotos. Acabei ficando um período longo lá. Geralmente, fico no carro e não desço. Mas os coleguinhas dela sempre me cumprimentam.   

Sua filha é ciumenta?
Ela fica com ciúme. Quando tem criança para tirar foto, ela também quer aparecer. Me abraça. É ciumenta.   

O que você acha da segurança nos estádios brasileiros?
Acho que, em comparação com a Argentina, aqui está mais avançado. O Brasil tem coisas para melhorar, lógico. Mas, nesse aspecto, não fico muito preocupado, por exemplo, quando minha mulher vai ao estádio. Fico preocupado na Argentina. Lá você sente medo de que possam acontecer coisas ruins. Aqui pode acontecer, mas é mais seguro do que lá. Aqui é bem melhor.

Os conflitos entre torcedores na Argentina é pior?
Muito pior. É tão pior que tiraram a torcida visitante nos jogos fora de casa. É só torcida única, e mesmo assim dá problema. Na cidade, se misturam torcidas que vão para o estádio. É muito difícil lá. Aqui um torcedor joga um copo no estádio, e lá você vai cobrar um escanteio e a polícia tem que te ajudar. Não só na Argentina. Em outros lugares também. Acho que o Brasil está por cima de outros países nesse sentido.    

O que você pode dizer sobre o Marquinhos Santos?
O Marquinhos é um cara novo, que tem uma experiência, que não parece ter a idade que tem. Tem um grande potencial para continuar a crescer. Ele motiva muito o jogador. Quando soube da idade dele, fiquei surpreso. Não parece que é tão novo. Conhece muito de tática. Ele e o Marcelo [Serrano], que é o auxiliar. Eles passam para nós detalhes sobre os times com quem vamos jogar. São muito estudiosos. Essa fase boa, fico contente por ele, que recebeu muitas críticas. Ele continuou acreditando e merece esse bom momento. Fico feliz.   

E sobre essa atual diretoria do Bahia, o que você pode dizer sobre ela?
A diretoria do Bahia está fazendo um ótimo trabalho. Todos sabemos que, nos anos anteriores, o Bahia sofreu com esse aspecto. Hoje o salário está em dia. Estão tentando ordenar o clube da melhor forma. Existe essa preocupação. Dá para ver isso. A preocupação deles, assistem aos treinos, conversam. Estou muito contente com eles. Estamos recebendo o respaldo que o jogador precisa.   

Maxi Biancucchi diz que conquistou confiança após primeiro gol marcado pelo Bahia (Foto: Eric Luis Carvalho)

E a relação com a torcida do Bahia?
A torcida é especial. Ela tem uma paixão única. Ontem estava vendo que, na TV, tinha uma votação para eleger o gol mais bonito da rodada do Brasileiro. Os torcedores fizeram campanha no Twitter para eleger meu gol. E começou a subir a votação. Acho até que foi o gol mais bonito [Ficou em segundo lugar, atrás do gol de D’Alessandro]. Fiquei surpreso com essa paixão. Estou contente e comprometido em dar alegria para eles.       

Origem : Ge.Com