Sem final feliz para todos, transferência de Neymar evidencia os riscos do investimento em direitos econômicos de atletas
Se para Neymar, Santos e Barcelona o desfecho provável de uma história iniciada em 2011 foi declaradamente satisfatório, a situação é bem diferente com relação ao grupo e DIS, a outra parte da relação.
Por força de contratos firmados com o clube praiano à época da gestão Marcelo Teixeira, o braço esportivo do grupo Sonda teria direito a 40% dos valores envolvidos em qualquer transferência de Neymar ocorrida durante o período de vigência de seu contrato de trabalho com o Santos – o último vínculo estendia-se até junho de 2014.
Com o negócio sacramentado, pairam dúvidas sobre o valor total de uma transação cujas negociações preliminares teriam começado em 2011, ano da derrota santista para o mesmo Barcelona (0-4) na final do Mundial de Clubes: enquanto o Santos garante ter recebido 28 milhões de euros – dos quais reteria 17, equivalentes a sua parte dos direitos econômicos –, o Barcelona afirma que desembolsará 57 milhões de euros para contratar o brasileiro.
A desconfiança da DIS só aumentou com a confirmação de que o Barça teria dez milhões de euros contabilizados desde 2011 para a aquisição da estrela. Ainda não se pode afirmar, contudo, que a quantia saíra naquele ano dos cofres do clube catalão.
Em todo caso, os investidores têm legítimo interesse em saber para onde foi – ou para onde irá – a substancial diferença de 29 milhões de euros entre os números divulgados pelos dois clubes.
Diante de versões contraditórias, a DIS notificou o Alvinegro Praiano para obter informações sobre um negócio certamente pouco transparente.
Esta coluna não teve acesso ao documento que vincula clube e investidor, mas admite a hipótese de o mesmo seguir o padrão utilizado no mercado.
Neste caso, se a situação é menos evidente quanto à suposta reserva de 10 milhões de euros, parece lógico que a DIS faça jus ao menos a parte da arrecadação dos dois amistosos entre Santos e Barcelona, desde que a realização das partidas seja comprovadamente parte da contraprestação pela contratação de Neymar.
Em tempo: contrariamente ao que ocorria durante a gestão de Marcelo Teixeira, o braço esportivo do grupo Sonda não tem boa relação com a atual direção santista.
Qualquer que seja o final da história, este imbróglio apenas iniciado serve como lição: se em condições normais o investidor esportivo já está sujeito a contratempos variados – incertezas quanto ao desempenho do atleta ou ao interesse despertado em terceiros são apenas os mais comuns –, os riscos do negócio crescem consideravelmente quando não há relação de confiança com a direção do clube em questão.
Não custa lembrar, a História demonstra que, em matéria transferências internacionais de atletas, não são poucas as variações entre os valores oficiais e oficiosos.
Fonte: Blog Jean Nicolau – Gazeta Esportiva
Foto: Josep Lago - AFP