Postado por - Newton Duarte

'Espelho': Robson e Yuri servem de exemplo para jovens atletas

Capitães da base: Robson e Yuri servem de espelho para jovens atletas

Jovens, titulares e "capitães", Robson e Yuri chamam a atenção pela dedicação em treinos e jogos e servem de exemplo para jovens revelados nas categorias de base

Robson e Yuri: os capitães da base (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação)

Jovens, titulares e capitães. Não, Robson e Yuri não entram em campo com o braço envolto em alguma faixa que os identifique como líderes. Esse título é simbólico e tem a ver com o que eles representam para os garotos que não param de brotar na equipe principal com o sonho de escutar seus nomes berrados em uníssono pela torcida do Bahia. Em alta conta no Fazendão pela dedicação que demonstram nos treinos e jogos – além, é claro, do bom futebol que têm apresentado –, zagueiro e volante, ambos com 21 anos, são os capitães da base tricolor.

A origem da alcunha é incerta, mas nem por isso difícil de ser explicada. Liderança passa pela imagem que você constrói dentro e fora de campo. E, para os mais jovens, que vira e mexe são convocados pelo técnico Sérgio Soares, servem de exemplo a entrega e a seriedade de quem há pouco tempo estava com eles e hoje desfila nos gramados como se fossem atletas com longa bagagem no futebol.

Prova do moral que eles têm dentro do clube são os vários elogios rasgados pelo auxiliar técnico Charles Fabian. Elogios, por sinal, de quem os conhece de outros carnavais. Quando técnico do time sub-20, o ex-jogador comandou Robson e Yuri na conquista do Campeonato Baiano da categoria em 2014.

Quando se trabalha dessa forma, você encurta essa chegada no profissional, você encurta a titularidade. Eu acho que Robson e Yuri representam muito do que é o futebol hoje, daquilo que a gente pensa do futebol.

Charles Fabian,

auxiliar técnico do Bahia

- Se você pegar Robson e Yuri, da base, vocês estão vendo os dois em campo, é na mesma batida, no mesmo ritmo o jogo inteiro. É da mesma forma, sempre com intensidade alta, sempre chegando forte, sempre com muita personalidade, com muita autoridade, sempre com uma seriedade muito grande. Agora, você pega Robson e Yuri para treinar, da mesma forma que eles jogam, eles treinam. A filosofia, a ideia do futebol hoje, resume-se a isso: você trabalha com uma intensidade muito alta e com seriedade, um profissionalismo grande. E os dois têm. Por isso que os dois, hoje, são titulares do Bahia. Não é que os outros não tenham. Mas, quando se trabalha dessa forma, você encurta essa chegada no profissional, você encurta a titularidade. Eu acho que Robson e Yuri representam muito do que é o futebol hoje, daquilo que a gente pensa do futebol – diz Charles.

E adivinha só quem era o capitão daquele time que encerrou um jejum de três anos sem títulos do sub-20? O zagueiro Robson, que chegou ao Fazendão em 2009 com o sonho de ser atacante, até ser recuado e encontrar sua verdadeira vocação. A liderança é algo que o acompanha de longa data.

- A gente na divisão de base... Eu tive a oportunidade de liderar o grupo nas divisões de base. Sempre tive esse perfil. O pessoal até brinca que eu e o Yuri somos os capitães da galera da base. A gente fica feliz, porque a gente realmente cobra um do outro, desse pessoal mais novo também, e isso faz com que a gente fique mais atento às coisas – afirma o defensor.

"Sempre tive esse perfil", diz Robson sobre característica de liderança (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação)

Com menos tempo de casa, Yuri foi recrutado pelo Bahia em 2013 e acredita que a cobrança entre os companheiros é uma maneira sadia de ajudar no processo de evolução dos atletas, sobretudo aqueles que vêm da base.

- A gente sempre trabalhou forte, como todos que subiram. Você pode ver que todos que jogaram deram uma resposta positiva. Acho que a gente tem essa cobrança, entre nós dois, que é normal. A gente quer ver o bem de cada um. É sempre bom ver quem sobe que é da base e estava com a gente no júnior. A gente se cobra para que faça um bom trabalho – defende o volante tricolor.

ROBSON E SEUS 80% DE EVOLUÇÃO

Nada como trabalho e paciência para transformar a vida de um atleta. De quinta opção no elenco a titular imprescindível na defesa, Robson foi pouco a pouco superando desconfianças e deixando para trás os concorrentes de posição. Chicão, Thales e Adriano Alves, que estavam à frente na linha de sucessão defensiva do Bahia, foram ultrapassados pelo jovem, que abocanhou uma vaga na cozinha tricolor ao lado de Titi. A parceria chegou ao fim em julho, quando o companheiro se transferiu para o futebol turco – Chicão e Adriano rescindiram contrato e também não fazem mais parte do elenco.

"Robson melhorou muito", afirma Sérgio Soares (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação)

O sucesso não veio da noite para o dia. Após seis anos nas divisões de base do clube e uma passagem de seis meses pelo Kawasaki Frontale, do Japão, Robson ainda precisou trabalhar exaustivamente para consertar deficiências da posição. Posicionamento, antecipação, subidas na bola aérea. Ao fim de cada treino no Fazendão, o atleta se juntava aos companheiros de defesa para trabalhar tais fundamentos, tarefa ainda repetida nos dias de hoje.

Os frutos começaram a ser colhidos três meses depois, quando o zagueiro estreou pelo Tricolor na goleada por 7 a 1 sobre o Feirense, no Campeonato Baiano. A titularidade viria mais tarde. E olha só que responsabilidade. Robson vestiu a camisa número três do Bahia no primeiro jogo da final da Copa do Nordeste, na derrota por 1 a 0 para o Ceará. Pouco mais de uma semana depois, uma lembrança marcante: ele anotou o gol que abriu caminho para a goleada em cima da Vitória da Conquista e consequente título baiano de 2015.

Tudo isso e ainda o reconhecimento de sua evolução por parte do treinador tricolor. Com fama de exigente e durão, Sérgio Soares aponta que Robson evoluiu 80% do início do ano para cá.

Parece que não, mas eu cobro ele bastante. Mas ele melhorou muito. É um jogador, hoje, que não dá espaço para atacante. É um zagueiro rápido por característica, mas melhoramos o posicionamento dele. Ele está sendo maturado. 

Sérgio Soares,

técnico do Bahia

- Robson melhorou muito. Melhorou muito mesmo. E tem muito para melhorar. Eu cobro ele bastante ainda. Parece que não, mas eu cobro ele bastante. Mas ele melhorou muito. É um jogador, hoje, que não dá espaço para atacante. É um zagueiro rápido por característica, mas melhoramos o posicionamento dele. Ele está sendo maturado. Então ele teve 80% de evolução, por isso é titular da equipe – afirma o treinador do Bahia.

Quando Soares diz “parece que não, mas eu cobro ele bastante”, é apenas modo de dizer. Quem acompanha os treinos no Fazendão sabe que o treinador realmente cobra bastante. Mas Robson não tem do que reclamar, já que ele mesmo atribui a essa cobrança seu processo de evolução.

- A cobrança do Sérgio, ela é muito intensa, é muito grande. Ele sabe do potencial do jogador e a dificuldade que o jogador tem. Ele sabe trabalhar em cima. Então acho que ele me ajudou muito na cobrança. A cobrança dele fez com que eu crescesse e buscasse o melhor para mim. Algumas coisas que a gente às vezes tem dificuldade, ele vê e trabalha em cima para que você vá melhorando no decorrer dos jogos – diz o jovem zagueiro.

O INCANSÁVEL YURI

Paciência e trabalho são palavras que também podem ser usadas para descrever a trajetória de Yuri nesta temporada. Quando o ano começou, recém-promovido ao elenco principal, ele era uma das opções para o meio-campo e tinha como principal concorrente o volante Feijão, xodó declarado dos tricolores. Levava desvantagem. E quando Sérgio Soares encontrou o esquema que fez sucesso no primeiro semestre, Wilson Pittoni, Tiago Real e Souza reinavam absolutos como homens responsáveis por organizar a meia-cancha tricolor.

As chances começaram a aparecer nas laterais. Jogador vigoroso e de constituição física privilegiada, Yuri passou a ser improvisado tanto na direita quanto na esquerda, a depender da necessidade do treinador. Contra o Galícia, por exemplo, ele substituiu Tony nas quartas de final do Campeonato Baiano. Pela Série B, entrou no lugar de Marlon no duelo diante do Ceará, na Fonte Nova.

Yuri chegou ao Bahia em 2013, vindo do Olaria-RJ (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação)

A virada definitiva aconteceu em sete de julho. Yuri ganhou a chance de ocupar uma das vagas no meio-campo no triunfo por 2 a 0 sobre o Paysandu, pela Segundona. Desde então, é peça importante no esquema de Sérgio Soares.

- Eu cheguei ao Bahia não faz muito tempo. Se eu não me engano, vai fazer dois anos agora. Mas no tempo em que eu estou no Bahia, eu tive ajuda muito grande, porque vim do Olaria, que é um time pequeno do Rio, então não tem a estrutura que o Bahia tem. O trabalho na academia, que na época era o Glauco, pôde me ajudar. Como ajuda cada um desses meninos que estão lá nessa subida para o profissional – revela o volante tricolor.

Carioca, filho de caminhoneiro, com início no futebol no Olaria, Yuri agarrou a oportunidade quando ela apareceu. Quem o viu em sua primeira entrevista coletiva como jogador profissional não poderia imaginar que o garoto que disse que preferia “bater” a sair jogando pudesse ser capaz de produzir jogadas tão belas como a que construiu no triunfo do Bahia sobre o Oeste, quando desmontou a defesa adversária e descolou bela assistência para Tiago Real (assista ao lance no vídeo abaixo). E o que falar da fila de defensores do Boa Esporte que deixou para trás antes de rolar para Souza marcar um belo gol? Yuri pode até “bater”, mas sai para o jogo com muita qualidade.

CAPITÃES DA BASE, ORGULHO TRICOLOR

Certo que ainda é cedo para projetar o futuro de jogadores tão jovens como Yuri e Robson, mas o caminho deles é promissor. Pela forma como trabalham, pelo modo como evoluem a cada treino, a cada jogo. E quando os elogios vêm de pessoas tão próximas e com conhecimento de causa, como Charles Fabian, o destino dos dois parece mais fácil de ser traçado.

- Da forma como eles trabalham... Qualquer treinador tem orgulho de trabalhar da forma como eles trabalham. Eles estão servindo de exemplo, e eu cito isso sempre quando converso com esses garotos da base, cito sempre o exemplo de Yuri e Robson, porque são dois jogadores de personalidade, de postura de dar inveja, então eles têm que seguir esse exemplo – enaltece Charles.