Postado por - Newton Duarte

Fabricando operários geniais

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Segunda-feira é o dia da entrega do Balão de Ouro ao melhor jogador do mundo, o Oscar do futebol porque o esporte em si e a cerimônia de premiação globalizaram-se de tal maneira que o tapete vermelho da premiação cinematográfica ficou pequeno.

O charme da premiação é tamanho que levou até Simon Kuper, colunista do "Financial Times", que não é exatamente um jornal de esportes, a dedicar um texto elogioso aos deuses desse esporte.

Nele verifica-se que o status adquirido pelos grandes artistas não é fruto apenas do talento, mas também da intensa profissionalização neste século.

Kuper lembra que o português Cristiano Ronaldo, justificadamente o favorito para este ano, muitas vezes chega de uma partida no exterior e atira-se a um banho de gelo, às 5 da matina, para relaxar os músculos e deixá-los com a aparência (e consistência) mais de fisiculturista do que de futebolista.

Nada a ver, por exemplo, com um gênio do século passado, Diego Armando Maradona, que estropeou sua carreira para dedicar-se à cocaína. Ou com o holandês Johan Cruyff, que fumava sem parar.

A transformação se deveu à mentalidade que passou a predominar na maioria das equipes da Europa, o continente em que o futebol é rei e que atrai os melhores atletas do planeta. A regra não escrita é mais ou menos assim, segundo Kuper: "Nós pagamos a vocês uma fortuna e vocês nos devolvem com profissionalismo".

O Brasil, que foi o melhor do mundo em toda a segunda metade do século 20, perdeu essa revolução. Seus jogadores se globalizaram, é verdade, mas seus dirigentes continuaram amadores.

Com isso, o Brasil perde o que, segundo o colunista do FT, "é o melhor momento na história do futebol para ser uma estrela".

Tanto perdeu que, desde Kaká em 2007, nenhum outro brasileiro ganhou o prêmio.

O ganhador e os dois que vão ao pódio come ele tornaram-se estrelas globais, depois que as redes de TV passaram a transmitir para o mundo todo os campeonatos da Itália, Inglaterra, Espanha, França e até da Rússia.

Pelé, por exemplo, a maior estrela de todos os tempos, deve ter tido apenas uma dúzia de suas apresentações transmitidas ao vivo para o público europeu.

As fortunas pagas hoje aos grandes astros são um brutal contraste com as magras £ 4 mil (R$ 15,6 mil) que Eusébio, cuja morte no domingo foi mundialmente lamentada, ganhava em 1969, apenas três anos depois de ter sido o melhor jogador da Copa de 66.

A globalização e a profissionalização radicais permitem que a Reuters, talvez a melhor agência de notícias do mundo, use critérios digamos macro-econômicos para prever que a Alemanha será a campeã do Mundial do Brasil. Motivo: destaca-se nos quatro quesitos que compuseram o cálculo (ou "chute"), a saber: va­lor das trans­ferências dos jogadores, população do país, participação e comprometimento de seus habitantes com o futebol.

O Brasil ficaria em segundo lugar, seguido por Itália e Espanha. Pode ser, mas a esses cálculos áridos continuo preferindo a poesia com que Kuper descreve Lionel Messi: o argentino seria "como se Claude Monet tivesse assinado um contrato para produzir obras primas duas vezes por semana e de fato o fizesse".


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Foto: FoxSports