Postado por - Newton Duarte

Fahel se despede da torcida e planeja retorno ao Bahia

Fahel relembra momentos marcantes, se despede e planeja retorno ao Bahia

De férias em BH, volante não tem contrato renovado e estuda propostas para seguir carreira em 2015. Após quatro anos no Tricolor, Fahel manda recado para a torcida

Despedidas costumam despertar sentimentos diversos. Por vezes, o adeus provoca a sensação de impotência. Em algumas ocasiões, resta apenas a saudade. Existem também casos em que a gratidão é a principal reação para quem fica e quem está de partida. É nesse último quadro que se encaixa o volante Fahel. Após quatro anos de Bahia, com dois títulos estaduais conquistados, ele se despediu. Em dezembro, o presidente Marcelo Sant’Ana decidiu que não renovaria o contrato do atleta em nome de uma reformulação no elenco tricolor. Fim de ciclo para Fahel, que vestiu a camisa do clube baiano em 188 jogos e marcou 25 gols.

Comemorar gols com os dedos para o alto virou marca de Fahel (Foto: Felipe Oliveira/ Divulgação/EC Bahia)

Com a experiência de quem tem 33 anos, o volante enxerga a despedida com naturalidade. De férias em Belo Horizonte, Fahel falou com o GloboEsporte.com sobre a saída do Bahia. Nada de queixas ou ressentimentos. O jogador que foi capitão tricolor por três temporadas seguidas apenas agradece pelo tempo que passou no Fazendão.

- É normal. Foi um ciclo, né? Um ciclo muito bom. Só tenho que agradecer ao Bahia e à torcida, porque, desde que cheguei, fui muito bem tratado pela torcida e por todos. Funcionários... Quando você tem muito tempo em um clube, você cria um carinho por todos. Sinceramente, eu gostava muito de trabalhar, de vestir a camisa do Bahia. Vesti com muito respeito e muita dedicação, porque eu via muito entusiasmo na torcida. É uma torcida apaixonada, muito apaixonada. Mas tudo na vida é um ciclo, e eu vi que, neste momento, acabou este ciclo. Agradeço a todos, aos presidentes que passaram, à torcida, aos funcionários, com quem fiz uma enorme amizade lá. Mas agora eu e meu empresário estamos com outros planos, outros projetos na minha carreira. Tenho certeza de que vai dar certo – comentou o jogador.

Fahel foi contratado pelo Bahia em 2011 como reforço para a disputa do Campeonato Brasileiro. Era o ano em que o Tricolor retornava para a elite do futebol nacional após sete anos em divisões inferiores. Por ironia, o volante se despede do Fazendão na temporada em que o clube amarga um novo rebaixamento para a Série B.

Os dedos levantados ao céu em comemoração a cada gol marcado se transformaram em uma tradição do volante com a camisa tricolor. Em 2014, marcou três vezes em quatro clássicos contra o Vitória no Campeonato Baiano – dois deles nas partidas da final. O elevado potencial ofensivo nas bolas aéreas fez do jogador uma referência nas bolas paradas. E o poder de decisão criou apelidos nas arquibancadas. Virou costume entre tricolores dizer que “Deus é Fahel”, pequeno trocadilho que o atleta costuma refutar sem pensar duas vezes.

- Cada momento foi muito marcante. Mas eu chamo mais atenção por esse último título [Campeonato Baiano 2014]. É um título em que nós vínhamos de um ano anterior muito difícil... Até mesmo no Baiano. E foi marcante, porque eu pude ajudar o Bahia com gols. Fiz gols nas semifinais e em todas as finais. Ficou muito marcado. E a torcida gritando a todo o momento. Quem sou eu, né? Deus é com Fahel, Deus não é Fahel, né? Deus é com Fahel. Isso ficou muito marcado na minha vida, de poder dar essa alegria. Eu sou cristão e acho que o objetivo é outro. Não importa onde estejamos, dentro de campo ou fora dele, é dar exemplos de que realmente existe um Deus verdadeiro, um Deus que a todo o momento está por nós. E Deus fez isso na minha vida. Nos momentos mais difíceis, Ele me honrou. E eu pude, graças a Deus, fazer os gols e dar alegria a essa torcida, que merece realmente – disse o volante, vice-artilheiro do time na última temporada com seis gols.

SEM ARREPENDIMENTOS

Fahel viveu momentos de alegria e tristeza com o Bahia. Esteve em campo quando o Tricolor encerrou o jejum de 10 anos sem títulos, com a conquista do Campeonato Baiano de 2012. No outro extremo, participou do principal vexame recente do clube: a derrota por 7 a 3 para o Vitória, na Arena Fonte Nova, em 2013. No ano passado, voltou a ser campeão estadual e foi titular em boa parte da campanha que culminou com o rebaixamento do clube para a Série B do Campeonato Brasileiro. Contudo, nem mesmo os episódios ruins fazem o volante se arrepender da passagem pelo clube baiano.

Deus é com Fahel, Deus não é Fahel, né? Deus é com Fahel"

Fahel

- Nenhum [arrependimento]. Fui muito feliz no Bahia, fui bicampeão [estadual]. Quando cheguei, o Bahia tinha 11 anos que não ganhava um título baiano, e nós conseguimos em 2012 e 2014. Quando eu cheguei, o objetivo era a permanência na Série A e nós conseguimos ficar três anos. Eu não tiraria nada. Esse descenso é muito triste, mas esse ano foi muito tumultuado. Nós tivemos dois presidentes, quatro gestores, treinadores... É um conjunto. Infelizmente acabou. Mas não me arrependo de nada. Eu fui muito feliz lá. Fiz 25 gols, para um primeiro volante é muita coisa. Eu era o artilheiro desse grupo. Fui muito feliz. A minha esposa e os meus filhos adoravam Salvador. Eu também, muito. Mas é vida que segue. Nós somos profissionais, temos sempre que buscar o melhor para a nossa carreira. Eu tenho certeza de que isso vai acontecer. Foram três anos e meio de muita alegria. Claro que houveram dificuldades, mas, quando vem a dificuldade, valoriza mais as vitórias. Mas foi muito bom. Só tenho a agradecer, como já falei - declarou.

Mesmo longe, Fahel promete acompanhar os passos do Bahia na Série B. O volante torce para que o Tricolor consiga ter sucesso e volte para a Primeira Divisão.

- Desejo ao Bahia toda a sorte do mundo. Vou continuar torcendo e acompanhando, porque é um clube que realmente eu tenho um carinho enorme - garantiu Fahel.

FUTURO

O triunfo sobre o Grêmio, na Fonte Nova, foi o último capítulo da trajetória de Fahel no Bahia. Suspenso pelo terceiro cartão amarelo, o volante não atuou na derrota para o Coritiba, no Couto Pereira. Ele conta que não foi procurado pelo presidente Marcelo Sant’Ana, empossado em dezembro, e que pretende dar sequência na carreira como jogador mesmo longe do Fazendão.

Fahel planeja se tornar gestor de futebol após aposentadoria (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)

- Particularmente, não conheço ninguém da nova diretoria. Eu não procurei nem eles me procuraram. Eu já tinha conversado com meu empresário. Eu fico triste, porque no Brasil eles falam tanto que o jogador não cria identidade com o clube... E eu fui o contrário. Eu criei uma identidade muito grande com o clube, mas chega a um certo momento em que você começa a analisar o clube, os projetos do clube para o futuro, e vê que não bate muito com a sua ambição... Aí nós achamos melhor seguir a nossa carreira, o nosso caminho. Fico com saudade pela amizade, pelo carinho da torcida comigo, mas, neste momento, nós precisamos pensar no futuro – disse.

Com paciência, ele analisa as propostas que tem em mão. Fahel diz que já foi procurado por alguns times, mas prefere não revelar qual será o destino em 2015.

- Já tivemos algumas sondagens. Estamos conversando com alguns, mas não batemos o martelo ainda. Tivemos algumas sondagens e estamos analisando as melhores – afirmou o volante.

Volante marcou contra o Vitória na final do Baianão 2014 (Foto: Fernando Amorim/Futura Press)

Enquanto não define onde atuará, Fahel curte as férias com a família e se prepara para se reapresentar bem fisicamente. O jogador conta que tem trabalhado para manter a forma.

- Estou em Belo Horizonte, porque sou mineiro, estou na casa de meus pais. Estou curtindo um pouco a família, porque a carreira tira um pouco disso, de estar com a família, com os pais. Então estou aproveitando bastante para descansar e, além de descansar, já estou trabalhando. Para mim, foram só dez dias de férias. Só de estar perto da família, já nos recarrega. Se Deus quiser, esse ano vai ser melhor – projetou.

A despedida, contudo, não estaria completa sem a declaração de adeus. Ou melhor, Fahel espera que a saída do Bahia não seja definitiva. No futuro, ele pretende voltar ao Fazendão, em função diferente da exercida nessa primeira passagem pelo clube.

- Recado que deixo é que agradeço a todos pelo carinho. Agradeço ao clube. Sou mais um torcedor do Bahia hoje. Meu filho adora o Bahia. E eu vou torcer, acompanhar. Esse clube ficou marcado no meu coração realmente. Eu vou torcer bastante. Que Deus possa abençoar a todos, o Bahia. Tenho certeza que dias melhores para o Bahia virão, que o Bahia ainda vai dar muita alegria para a torcida, porque eles merecem, é uma torcida apaixonada. Realmente me marcou bastante. Espero, quem sabe... A minha pós-carreira, daqui a cinco, seis anos, o meu objetivo é ser um gestor. Já tenho estudado e já fiz alguns cursos. Quem sabe voltar a trabalhar no Bahia, ajudar esse time a ser um dos maiores do Brasil – finalizou o volante.