Sérgio Soares: 'Resgatamos a credibilidade do torcerdor'
Com duas finais disputadas e o título estadual, o início de Sérgio Soares no Bahia foi, de fato, para empolgar o torcedor. Mas o comandante quer pés no chão, afinal, vem por aí o maior desafio do Tricolor na temporada, a Série B. Nesta entrevista exclusiva, o técnico avalia os primeiros quatro meses de trabalho e a missão na Segundona.
O bom início de ano faz do Bahia favorito à Série B?
Favorito, não. O Bahia entra como um dos candidatos. O favoritismo, a gente vai adquirindo a cada rodada, de acordo com a evolução. Os candidatos para mim são o Bahia, os três que caíram da Série A, mais o Ceará e o América-MG. O título baiano não aumenta a responsabilidade porque ela é grande desde o início: a gente sempre teve um objetivo para a Série B, que é a principal competição.
Mas dá tranquilidade?
O diferencial é que, quando chegamos no início do ano, não tinha nada, e agora temos estrutura para iniciar a competição. Montamos um elenco e resgatamos atletas que estavam desgastados, como Maxi, Kieza e Titi. Eles ficaram, tiveram boa performance e achamos um jeito de jogar.
O time está pronto?
Acho que o elenco precisa ser reforçado, não o time. O campeonato é longo, tem cartões, lesões... A gente encontrou uma forma de jogar, mas precisa criar variações, e para isso é preciso um elenco reforçado.
Em quais posições?
Não temos atacante velocista para usar contra uma defesa compactada, e é preciso apostar na bola longa. Precisamos também reforçar as laterais. Para a esquerda chegou o Marlon, mas, por conta da lesão do Railan, procuramos outro para a direita. Aí, sim, teremos um grupo competitivo, mas não podemos tirar o espaço dos jovens.
Dá para manter esse estilo ofensivo na Série B?
Não vejo dessa forma, acho que tem que se manter assim. O Ceará no ano passado jogou assim o tempo inteiro. Contra o Internacional, no Beira-Rio, também. Isso depende muito do comprometimento do grupo, não vejo motivos para mudar o conceito. Ele dá condições de se aproximar das conquistas. É evidente que vamos perder jogos, mas tenho convicção de que, desse jeito, vamos ganhar mais do que perder.
Você reconhece que tem esse estilo agressivo de jogo?
Reconheço, sim. É o estilo que conheço do futebol brasileiro. Na época que eu era garoto, via o Flamengo, a Seleção de 82, e eram todos times que jogavam para frente. Lógico que o futebol mudou, e hoje é preciso pensar na recomposição, mas você tem que primar pela ofensividade porque é isso que vai colocá-lo mais próximo das vitórias.
Ter um elenco tão jovem pode oferecer riscos nos momentos de pressão na Série B?
Por isso temos que ter atletas experientes no elenco. Porque, nesses momentos de pressão, os mais experientes serão os protagonistas, e os meninos, coadjuvantes. Os meninos têm que ter responsabilidades, sim, porém não podem ser detentores dessa pressão que a competição vai exigir, ela será direcionada para os mais experientes.
Quem são os experientes?
Kieza, Maxi, Titi, Souza, Pittoni, Tiago Real... Esses caras são os mais experientes, dos que estão jogando. Porque, fora, temos também Willians, Tchô, Chicão, todos com conquistas importantes na carreira para suportar essa pressão.
No início do ano, a torcida chegou a pedir a saída de Maxi e Pittoni. O que você fez para dar confiança a eles?
O que fiz foi saber onde eles queriam jogar. Maxi disse que se sentia bem pelo lado direito, porém tinha dificuldade de recompor na marcação. Eu disse que tinha uma ideia diferente, de usá-lo por trás dos atacantes, centralizado, como um meia-atacante. Ele gostou da ideia, fomos para a prática, e ele correspondeu bem. A mesma coisa com Pittoni: ele disse que jogava mais como segundo ou primeiro volante, e eu disse que ele ia trabalhar assim. Ele mostrou muita qualidade na saída de bola, ainda treinando no time de baixo, e o colocamos como titular como esse homem que inicia as jogadas.
Em algum momento, você temeu pelos resultados?
Não, em nenhum momento passou isso pela minha cabeça. Pelo contrário, a gente tinha tanta convicção e tanto comprometimento de chegar às finais das competições, que uma delas a gente sentia que ia conquistar. Queríamos as duas, claro, mas sabia que uma a gente ia levar. Se você olha as duas decisões, a do Estadual ficou mais difícil em relação ao resultado da primeira partida, mas levamos justamente ela. Por quê? Porque perdemos a Copa do Nordeste e ali sentimos o tamanho da dor que é perder um campeonato em que fomos bem. Não queríamos sentir isso novamente e tivemos a oportunidade três dias depois, não precisava esperar até o final do ano.
As críticas sobre Jean foram pesadas demais?
Acho que foram desnecessárias. Ontem (anteontem) mesmo vimos Cássio cometendo uma falha absurda, e é um goleiro que ajudou o Corinthians a conquistar Libertadores e Mundial. Jean falhou num momento que, lógico, era de decisão, mas a gente conhece o atleta. É um rapaz com potencial enorme, feito em casa, jogador de seleção sub-20 e olímpica. Em vez de abraçar o atleta e ajudá-lo a se recuperar, vem mais gente querendo jogar o menino para baixo. Ele tem noção do que fez, e isso já é bem pesado. Conversei com ele após o jogo contra o Ceará, falei: "Tenha tranquilidade, a gente confia em você". Temos que fazer o caminho inverso, dar apoio e cobrar para que tenha pés no chão. O resto é deixá-lo jogar.
O que aconteceu para perder do Conquista daquele jeito?
Foi um dia em que tudo deu certo para o adversário e nada para nós. O Conquista fez a melhor partida dele e foi muito melhor do que a gente, foi 3 a 0, mas poderia ter sido 4 ou 5 a 0. No jogo de volta foi diferente porque nossa equipe entrou focada e foi muito melhor do que eles.
Perder a Copa do Nordeste o afetou de alguma forma?
Perder sempre é complicado, e perdemos um campeonato que queríamos muito, era importante para o clube. Mas sabemos que, apesar disso, o trabalho foi muito bem feito, então dá uma acalmada. Há dois anos a equipe não passava da primeira fase, e agora chegamos à final. Resgatamos assim a credibilidade do torcedor, que voltou ao estádio por ver um time que joga para frente e dá oportunidade para a base.