Postado por - Newton Duarte

'Foi ruim, mas foi bom': Diretor de Mercado avalia o ano do Bahia

Avancini: "Se o Bahia tivesse subido, teria 20 mil sócios"

Jorge Avancini falou sobre os planos do tricolor para 2016 - Foto: Luciano da Matta | Ag. A TARDE

Jorge Avancini falou sobre os planos do tricolor para 2016 – Foto: Luciano da Matta | Ag. A Tarde

Reforço mais alardeado do Bahia, o gaúcho Jorge Avancini veio do Inter em fevereiro para alavancar o número de sócios do Esquadrão. Previsto para abril, mas lançado apenas em setembro, já em meio à crise técnica do time, o novo plano ainda não agradou à torcida. Nesta entrevista exclusiva, o diretor de mercado admitiu o problema e avaliou o seu primeiro ano de gestão.

Como avalia seu primeiro ano no Bahia?

De uma forma geral, chegamos muito perto dos nossos objetivos. O único que ficou um pouco abaixo foi o número de sócios, mas o motivo todo mundo sabe, que foi não ter conquistado o retorno à Série A.

Qual foi o grande avanço?

O plano de sócios (apesar da contradição), porque vencemos vários problemas que o torcedor não teve conhecimento. Trabalhamos com um agente, a Fonte Nova, que mudou de gestão três vezes nos últimos dez meses. Para manter uma continuidade na negociação foi difícil. A questão fundamental de qualquer plano de sócios é o clube ter uma casa, e nós do Bahia, por não termos estádio, dependemos muito do nosso parceiro.

Por que o novo plano atrasou tanto para ser lançado?

Ele estava pronto na final do Baiano (em abril), e poderia ter sido lançado ali. Mas travou quase cinco meses. Primeiro, por questões internas do Bahia. O plano tinha que passar pelo Conselho Deliberativo e ficou ali, sendo discutido e avaliado, por quase dois meses e meio. O outro fator, como disse, foi a negociação com a arena. O plano não podia ser lançado sem o contrato principal, que é o com a Fonte Nova. Muitas pessoas nos atacaram, dizendo que a gente atrasou, mas não sabem que a gente estava com o plano pronto, dependendo só de outros processos.

Você admite que o atraso prejudicou o sucesso do plano?

Claro. Lançamos na véspera de um clássico (o segundo Ba-Vi da Série B, no dia 3 de outubro), coisa que não se deve fazer nunca. Um clássico que acabamos não tendo sucesso (3 a 1 para o Vitória), o que teve um impacto negativo imediato. Mas aquele era o único momento que tínhamos, se não lançássemos ali, provavelmente não lançaríamos mais o plano em 2015, porque em seguida veio um momento ruim do time.

Quantos sócios o novo plano conseguiu?

Chegamos a ter, antes do clássico, 10,5 mil sócios que migraram para o novo plano. Desses, 3,5 mil optaram pelo Arena Tricolor (plano que garante acesso livre ao estádio por uma mensalidade fixa). Depois, isso diminuiu em função de toda a decepção do torcedor. Hoje, estamos com cerca de 9 mil. É normal, muitos deixaram de pagar porque estão chateados com o desfecho do ano. Quando o clube começar a se movimentar para a temporada, quando vierem as contratações, esse número vai voltar a crescer.

Qual foi a evolução do número de sócios desde sua chegada?

Tínhamos 4,5 mil sócios em dia quando cheguei aqui, em fevereiro. No auge do time, na final do Baiano, chegamos a 6 mil. Então, se alcançamos 10,5 mil no lançamento do novo plano, esse número praticamente dobrou. Mas o importante não é isso. Todo mundo está preocupado com números, mas não olham a qualidade. Não se fala desses 3,5 mil sócios que aderiram ao Arena Tricolor e que não precisam mais comprar ingresso, não pegam mais fila, que podem escolher o setor que vão ficar, não importa a demanda. A preocupação do Bahia não era lançar um plano mirabolante, a grande meta era trazer facilidade e conforto para os sócios que se sentiam desvalorizados.

Continua otimista em relação às metas, principalmente a de 50 mil sócios em 2017?

A meta que tínhamos para este ano, nós chegamos perto, que era de 10 mil. Claro que gostaria de ter chegado a 20 mil no primeiro ano, e acho que teríamos chegado se o Bahia tivesse subido. O Bahia é um clube para figurar com 40, 60 mil sócios tranquilamente, mas esse é um processo que o campo vai ter que nos ajudar.

Teme que nestes meses de dezembro e janeiro, sem futebol, a inadimplência aumente?

Vai acontecer, sem dúvida, pelo perfil do nosso torcedor. Aqui é mais suscetível a esse tipo de oscilação porque o torcedor ainda é muito ligado ao resultado de campo, e nós vamos precisar de mais tempo para mudar isso, para convencer de que tem que ajudar na alegria e na tristeza.

Encontrou alguma dificuldade que não esperava?

Eu não esperava que a torcida tivesse tanta ligação assim com o campo, de querer ser sócio só quando o time está bem. Hoje, porém, eu já entendo. Aprendi que é preciso mostrar que não é só na hora boa que tem que se associar, mas, principalmente, neste período de férias, em que não estamos disputando nada e precisamos buscar treinador, reforçar o time...

A crise atrapalhou?

Acho que ela ainda não chegou ao futebol como em outras áreas, mas já está batendo na porta e cabe a nós nos ajustarmos para esta realidade, que é a do torcedor com menos dinheiro e tendo que fazer ainda mais escolhas. O torcedor do Bahia, às vezes, deixa de pagar outras coisas para ir ao jogo, e isso vai piorar em 2016.

Há a chance de diminuir os ingressos ou valores do plano?

O Bahia praticou um dos planos de sócios mais baratos da temporada. Se você considera que quem não era sócio gastava R$ 30 num jogo e depois, se ele fizesse o acesso garantido, ele poderia, até novembro, ir a três jogos, que era nossa média mensal em casa, por apenas R$ 59, então acho que foi um plano muito barato. É como digo: ao mesmo tempo que o torcedor quer equipe competitiva, ele também quer ingresso mais barato, e essa conta não fecha.

O Bahia vai comemorar 85 anos em janeiro em meio a um descrédito da torcida. Como vocês vão combater isso?

Acho que o descrédito compete à gente mudar. Não é qualquer um que consegue chegar a 85 anos com essa força, com tanta gente apaixonada. Vem aí uma reformulação do site, vamos melhorar nosso aplicativo, lançar uma camisa retrô e lançar uma revista digital, que só o sócio terá acesso, contando a história do Bahia.

Uma das coisas que você mais defende é uma personalização da arena para que o torcedor se sinta em casa. Mas como será isso com o Vitória jogando lá cada vez mais?

Não muda nada, já está tudo alinhado. Este ano, a gente já fez muita coisa: colocou um tapete do Bahia no círculo central, fez mosaico, colocou o BBMP na parte da ferradura, usamos a fumaça tricolor no clássico... O que o torcedor tem que entender é que a Fonte Nova tem duas empresas e o Governo do Estado por trás, e todos colocaram muito dinheiro no estádio. Todo mundo sabe que se precisava ter os dois grandes clubes jogando lá para que essa conta fosse paga. Vai ser ruim? Vai, porque teremos momentos em que jogaremos na sexta e eles no sábado, por exemplo, e nós vamos ter que conviver.

Mas todas essas intervenções são superficiais ou temporárias. Como ficarão as intervenções físicas, como a loja oficial, o museu e a central de atendimento, que seriam criadas na Fonte Nova?

Vão continuar. O que pode acontecer é, no dia que o co-irmão estiver jogando lá, a loja não abrir. Nós já estamos levando a central de atendimento para lá, as obras começam essa semana. Quanto à loja e ao museu, o problema é que no projeto as roletas de acesso estão todas na parte externa, e não há como botar uma loja apenas para os torcedores que entrarem por um determinado setor. Estamos buscando opções.

Mas essa presença do torcedor rival não pode atrapalhar o funcionamento?

Se quando eles estiverem jogando lá a gente conseguir uma forma de garantir a paz, é até legal... Estão todos convidados a visitarem o museu e conhecer uma história de sucesso.

O Bahia se orgulha de ter conseguido seis patrocinadores num momento de crise. Mas de quanto, realmente, é a contribuição no orçamento?

As cotas de TV ocupam a maior fatia, as vendas de jogadores também ajudam muito... Acredito que estamos em terceiro lugar na contribuição, com cerca de 15% a 18% do total.

Os patrocinadores vão continuar na Série B?

Três estão em fase de renovação e dois praticamente certos de renovar. O outro infelizmente vai deixar de patrocinar futebol em todo o país. Não posso dizer qual. O mais importante é que em todos os contratos temos mecanismos de saída. Se alguém oferecer mais e o patrocinador atual não cobrir, o Bahia tem direito de substituir sem nenhuma multa.

Nota Luis Peres @BahiaClub: Inegavelmente, de “propaganda” e desculpas os caras são bons. Bons? Não! Ótimos.

Gostaria de saber a visão dele sobre o media de público em 2015. O resultado do “dito” contrato com Arena...

Mas, é conveniente parar a discussão no “plano de sócios” e na dificuldade que teve por não ter subido para a Série A.