Postado por - Newton Duarte

Força na direita e dor de cabeça com Hernane: análise do Bahia para o Ba-Vi

Com uma lesão no joelho, Brocador fica fora do clássico e dificulta vida de Doriva. Técnico aposta nas investidas de Luisinho e dos laterais, mas defesa ainda preocupa

Ataque eficiente, boa chegada pelo lado direito, mas uma dor de cabeça do tamanho do mundo para administrar. O Bahia chega para o primeiro clássico do ano, neste domingo, contra o Vitória, com números excepcionais, mas levou um balde de água fria com a lesão de Hernane, o seu principal jogador. O Brocador é responsável por oito dos 25 gols do Tricolor na temporada. O volante Danilo Pires e o lateral Tinga, dois atletas muito importantes no ataque, também estão vetados. Como alento, o técnico Doriva tem a boa produtividade do atacante Luisinho, o crescimento do jovem Hayner e a boa fase do atacante Edigar Junio, que já balançou as redes cinco vezes em 2016.

O treinador tricolor também tem outros problemas para resolver. A defesa é lenta pelo lado esquerdo, e há um desequilíbrio no setor ofensivo: o lado esquerdo, com Juninho e Edigar Junio, não produz jogadas com a mesma eficiência do lado direito.

O GloboEsporte.com destrinchou o desempenho do Bahia na temporada, os gols marcados e sofridos, por onde eles saem, os pontos fortes e fracos e como a equipe de Doriva pode se dar bem diante do time treinado por Vagner Mancini. A análise você confere abaixo.

SEM BROCADOR, ALTERNATIVA É LUISINHO

Antes de mais nada, vamos relembrar a maneira como Doriva gosta de armar sua equipe. Ele alterna o esquema do 4-1-4-1 para o 4-2-3-1, cobrando sempre intensidade dos atletas. Na primeira formatação, temos Feijão entre as duas linhas de quatro, com Paulo Roberto (direita) e Juninho (esquerda) jogando mais por dentro, e Edigar Junio (esquerda) e Luisinho (direita) abertos nas pontas; na frente, Zé Roberto ou Jacó. Quando passa a atuar no segundo esquema, Paulo Roberto forma a linha de volantes com Feijão, enquanto Juninho centraliza para municiar os atacantes. 

É preciso destacar que destacar que Paulo Roberto tem menos qualidade para atacar do que Danilo Pires, por isso é provável que a equipe passe mais tempo atuando no 4-2-3-1.

No ataque, duas opções despontam como as mais plausíveis para substituir o Brocador: utilizar Zé Roberto como centroavante, ou desloca-lo para a esquerda, trazendo Edigar Junio para jogar centralizado. Jacó corre por fora e também pode herdar a camisa 9 do Brocador.

A vocação ofensiva do Bahia na atual temporada pode ser expressada em números: com 100% de aproveitamento em 2016, a equipe marcou 25 gols em dez partidas, uma média de mais de 2,5 por jogo. Destes, Hernane Brocador marcou oito, Edigar Junio (5), Luisinho (2), Robson (2), Hayner (2), Juninho, Rômulo, Gustavo e Zé Roberto também balançaram as redes no ano de 2016 - Hugo Freitas e Mayron, da equipe sub-20, marcaram no triunfo contra o Juazeirense.  

O time de Doriva não perde apenas um goleador nato com a ausência de Hernane. O Brocador também serve à equipe quando sai da área e abre caminho para as infiltrações de Luisinho e para que Edigar Junio apareça centralizado no ataque, assumindo o papel de centroavante. Repare que dois gols marcados pelo Tricolor, ambos contra a Juazeirense, pela Copa do Nordeste, nasceram dessa forma.  

No primeiro, ele recua até o meio-campo, puxa a marcação e abre um buraco na defesa adversária. Luisinho enxerga bem o espaço, recebe a bola e dá continuidade à jogada que termina com gol de Edigar Junio, que está na pequena área, como um típico centroavante. Na mesma partida, Hernane recua novamente, vê a infiltração de Luisinho pela direita e passa por elevação. O atacante invade a área e sofre o pênalti que ele mesmo converte. 

Uma constatação inegável: o time de Doriva ataca com muito mais perigo pela direita. Foram 11 gols marcados pelo setor, contra três anotados pelo lado esquerdo – os outros saíram em chutes de fora da área, cobranças de pênaltis e escanteios. Mas não são apenas gols. A cada partida, as principais chances criadas pelo Tricolor são justamente pelo lado direito. A explicação está na efetividade de jogadores como o atacante Luisinho e os laterais Hayner e Tinga. 

Tomemos como exemplo a partida contra o Confiança, na Fonte Nova, pela Copa do Nordeste. Os dois gols de Hernane surgiram de jogadas muito semelhantes. Tinga vê Luisinho se enfiar entre os zagueiros e descola o passe. O atacante, que se destaca pelos passes para gol, rola para o Brocador, que só tem o trabalho de mandar para a rede. No ranking de assistências, Luisinho desponta com três. Hayner tem duas e Tinga tem uma. 

Com as lesões de Hernane e Tinga, dois jogadores cresceram muito de produção e podem ajudar o Tricolor a levar vantagem no clássico. Edigar Junio, com cinco gols, e Hayner, que já marcou dois gols e tem duas assistências, se destacaram nas últimas partidas. Contra o Galícia, o lateral foi o melhor em campo, e o atacante comandou as ações ofensivas do time.

DESEQUILÍBRIO E ATENÇÃO NA COZINHA

Ter um lado forte não significa, necessariamente, que o outro seja fraco. Mas no Bahia é assim. A equipe de Doriva até ataca pela esquerda, mas nem de longe com o mesmo volume produzido pela direita. Há um desequilíbrio nesse sentido. Utilizemos o triunfo por 2 a 1sobre o Flamengo de Guanambi, pelo Campeonato Baiano, como exemplo. Depois do gol de Hernane, que saiu em um cruzamento de João Paulo, aos 21 minutos da primeira etapa, o Tricolor só voltou a chegar com perigo pelo lado esquerdo aos 38 do segundo tempo (cruzamento de João Paulo que terminou em finalização de Rômulo dentro da área). Nesse intervalo, a equipe criou cinco situações de gol pelo lado direito. 

A exceção ficou por conta do triunfo sobre o Bahia de Feira, no último final de semana. O lado esquerdo de ataque foi mais efetivo, e Edigar Junio fez a sua melhor partida com a camisa tricolor. Além de marcar o gol que abriu caminho para a vitória, infernizou a defesa do Tremendão com ótimas jogadas.

Assim como no ano passado, a defesa do Bahia ainda é um problema e mostrou isso logo no primeiro compromisso de 2016. O Tricolor venceu por 3 a 2, mas os dois gols marcados pela Juazeirense deixaram uma lição: é sempre um risco montar um time para atuar com a linha de defesa alta quando seus defensores são lentos. Doriva viu o goleiro Tigre acertar dois lançamentos para Ebinho, que disparou pelo lado esquerdo da defesa tricolor e deixou Gustavo e João Paulo na saudade em ambas as vezes. O atacante do Cancão de Fogo marcou um gol e sofreu uma penalidade.

Não é sempre que Doriva usa a defesa alta. Nas partidas fora de casa contra Santa CruzeConfiança, o Tricolor adotou uma postura mais cautelosa, esperando mais o adversário e saindo em contra-ataque. Deu certo: vitórias por 1 a 0 e 3 a 0. Até o momento, nos sete jogos que fez, o Bahia levou seis gols: cinco pelo Campeonato Baiano e um pela Copa do Nordeste. Vale destacar também a evolução do setor, que não leva gols em partidas oficiais há quatro partidas - apartida contra a Juazeirense, disputada com a equipe sub-20, não é levada em consideração.

DICAS PARA O CLÁSSICO

O Bahia pode se aproveitar da linha de defesa alta do Vitória, que ainda não está completamente ajustada e mostrou algumas deficiências, para explorar as infiltrações em velocidade, principalmente com Luisinho pelo lado direito. O contra-ataque também é uma arma poderosa, já que a equipe treinada por Vagner Mancini sofre com esse tipo de jogada. 

Pelo lado direito de ataque, o Tricolor pode levar vantagem com Luisinho jogando nas costas de Euller, já que o lateral rubro-negro não tem como ponto forte a marcação - como Maicon Silva se recupera de lesão e é dúvida, o mais provável é que Diego Renan atue na lateral direita.