Postado por - Newton Duarte

Futebol também é cultura: Jogador da Base estuda Engenharia

Jogador do sub-20 do Bahia chama atenção por estudar Engenharia Civil

Gustavo Blanco, 19 anos, está no 5º semestre do curso

Futebol e estudo. Essas são as duas palavras mais comuns na rotina de Gustavo Blanco, 19 anos. Jogador do time sub-20 do Bahia e estudante do curso de Engenharia Civil, ele tem conseguido, por enquanto, conciliar as duas atividades e reconhece que é uma exceção no meio esportivo.

Diferente de outros garotos que compartilham o sonho de se tornar um jogador profissional, Gustavo nunca parou de estudar. Após os treinos no Centro de Treinamento Osório Villas-Boas, mais conhecido como Fazendão, ele troca o gramado pelas salas de aulas na Universidade Salvador (Unifacs).

Gustavo, o primeiro sentado à esquerda, atua como meia no Bahia

“Eu levo uma vida normal de estudante. Como o meu treino é apenas em um período, ou pela manhã, ou pela tarde, fico com o resto do tempo livre para estudar porque a faculdade é à noite. O treino toma pouco tempo do meu dia. É super tranquilo”, conta.

A rotina, porém, nem sempre foi marcada por esta tranquilidade. Quando estava no ensino médio, Gustavo passou por diversos colégios de Salvador. “O treino era pela manhã na época e eu não conseguia estudar no colégio à tarde porque o Fazendão fica muito longe da minha casa. Perdia muitas aulas. Eu chegava no colégio às 15h30 e a aula começava 13h30. Não tinha como”, explica.

Hoje no 5ª semestre da faculdade, Gustavo precisou ingressar na Justiça para pular o ensino médio. Ele fez um exame supletivo aplicado pelo Governo da Bahia por Comissões Permanentes de Avaliação (CPA) e pôde iniciar o curso de engenharia civil. “Passei na faculdade, meu pai entrou na justiça e conseguimos uma liminar para fazer o CPA. Eu estava no meio do segundo ano, mas não conseguia mais acompanhar as aulas”.

Apoio

Gustavo começou a jogar bola cedo. Ele passou pela escolinha Vasco Salvador e, após ser aprovado em um teste, entrou aos 16 anos no Bahia, onde atua como meia. O jogador aponta o gosto pelo estudo e o apoio da família como diferenciais para não deixar os livros de lado.

“Eu gosto muito de estudar. Não me vejo ir para casa depois do treino e ficar assistindo televisão. Nunca pensei: ‘ah, estou jogando no Bahia, vou parar de estudar’. Tem também a questão da minha família. Se eu falasse que não queria estudar, os meus pais não deixariam”, afirma.

Sem jogadores e engenheiros na família, Gustavo diz não sofrer pressão dos pais por escolher áreas distintas. “Meu pai e minha mãe me dão muito apoio. Nunca me falaram para parar de jogar futebol. Também não sofro pressão para terminar logo a faculdade”.

Gustavo, com a camisa 10, em treino no Fazendão

O meia reclama, no entanto, da falta de apoio da faculdade. Ele diz já ter perdido algumas disciplinas devido à falta de flexibilização dos professores e da coordenação do curso. Por conta de jogos fora de Salvador ou por precisar ficar concentrado no Fazendão, Gustavo já teve de faltar às aulas, além de perder provas.

“O único problema é que o apoio da faculdade é zero. Já perdi várias matérias porque tive concentração ou precisei viajar e tinha prova marcada. Eu perdi a prova e no dia da segunda chamada também não estava aqui. Eles não flexibilizam a data dessa segunda chamada nem compensam as faltas. Já conversei com professores e com a coordenadora, mas não adianta”.

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Futuro

Com contrato no Bahia até 2016, Gustavo ainda desconhece os próximos passos da carreira. Se não for aproveitado no time profissional do tricolor, pode ser emprestado a outros clubes. Caso não fique no Bahia, o meia também pensa em jogar nos Estados Unidos, onde a prática esportiva rende bolsas de até 100% em faculdades.

A única certeza de Gustavo agora é de que o futebol é um sonho e a engenharia civil é uma possibilidade no futuro: “pensei em abrir todas as portas”.

‘Educação amplia o conhecimento’

Colega de clube de Gustavo, Roniery, lateral-direito do elenco profissional, trancou o curso de fisioterapia para se dedicar ao futebol. No terceiro ano da faculdade, ele recebeu um convite da Ponte Preta e trocou a cidade de São Luís (MA) por Campinas (SP).

“Eu não estava jogando futebol, estava só estudando. Foi quando recebi o convite da Ponte Preta. Já estava perto de terminar a faculdade. Não devia nenhuma matéria. Sempre passei direto. Já tinha até estagiado em uma clínica por seis meses. Mas recebi este convite e não resisti. Tive que voltar ao futebol”, conta.

Hoje com 26 anos, o jogador maranhense já passou por times como Paraná (PR), Mogi Mirim (SP), Sampaio Corrêa (MA), Fortaleza (CE), JV Lideral (MA) e Imperatriz (MA). Ele afirma que não se arrepende de ter interrompido a faculdade. “Eu acho ruim apenas o fato de não estudar. Eu sempre gostei de estudar. A educação amplia o conhecimento. Sinto falta, mas não me arrependo de ter parado. Graças a Deus tem dado tudo certo na minha carreira”.

Apesar de satisfeito com o futebol, Roniery pretende retomar o estudo quando parar de jogar. “Eu ainda tenho essa vontade de retornar para a faculdade. Só não sei de volto para fisioterapia ou outra área. Quando parar, vou quer voltar sim a estudar”.


Fonte: Fernanda Varela e Luana Marinho - Correio

Foto: Reprodução/Facebook