Postado por - Newton Duarte

Galhardo aposta em motivação de Santista contra o Vitória

Galhardo aposta em vingança de "parceirão" do Santos contra o Vitória

Lateral do Bahia, que depende de um tropeço do rival, diz que David Braz tem motivação para ganhar, pois foi afastado e teve salários atrasados no Rubro-Negro

A amizade costuma ser a saída para os momentos difíceis. Aquele confidente a quem se entrega as amarguras da vida ou outro que empresta dinheiro quando se está zerado. Na 18ª colocação do Campeonato Brasileiro, com 97% de risco de queda para a Série B, o Bahia se encontra em situação das mais delicadas. E não seria nessa hora que um verdadeiro parceiro se omitiria. Para se salvar do rebaixamento, o Tricolor precisa vencer o Coritiba no domingo e torcer por tropeços de Vitória e Palmeiras. O Rubro-Negro encara o Santos no Barradão, e do lado do Peixe a promessa é de que não faltará vontade de contribuir para o sucesso da equipe azul, vermelha e branca.

Galhardo confia no amigo David Braz para que o Bahia siga com chances de ficar na Série A (Foto: Thiago Pereira)

Quem revela a prova de amizade entre os dois times é Galhardo. Ele foi o autor do gol da vitória sobre o Grêmio, resultado que manteve o Bahia na briga contra o rebaixamento. O lateral recebeu a equipe do GloboEsporte.com no Fazendão e conversou sobre a situação do time no Brasileirão. Ex-santista, ele contou que ligou para os antigos companheiros de clube para pedir ajuda. E um deles, em especial, se prontificou a atender ao pedido e dificultar ao máximo as coisas para o Vitória no domingo.

- Conversei com o David Braz, meu parceirão desde a época do Flamengo. Fomos juntos para o Santos. Ele no ano passado esteve no Vitória. Falei que acreditava neles e que esperava que eles ganhassem do Vitória para a gente ter chance de se salvar – contou Galhardo.

Além do pedido de ajuda de Galhardo, David Braz tem motivos pessoais para bater o Vitória. O zagueiro passou pelo Rubro-Negro no ano passado, mas foi afastado após a Copa do Nordeste e apontado como principal vilão do fracasso na competição regional. Foi quando estava longe das atividades com os demais jogadores do elenco que a situação piorou para o santista. Enquanto todos os atletas recebiam em dia, ele teve o salário atrasado por dois meses. Atualmente, ele processa o Leão baiano.

- O Braz me falou que o grupo vem para ganhar. O sentimento dele é maior ainda, por tudo o que passou no ano passado. Eu acompanhei a situação. Ele chegou no meio do ano passado no Santos e contou o que estava acontecendo, do afastamento, dos salários atrasados. O sentimento dele é maior que o de todos. Na zaga do Santos não vai passar nada. O Braz contagia muito os outros jogadores. E ele tem outros amigos aqui: o Lomba, que foi do Flamengo, e o Maxi, que jogou com ele no ano passado. Falou que estava na torcida pela gente – disse o lateral tricolor.

Além de torcer por um triunfo santista no Barradão, o Bahia também precisa contar com uma derrota do Palmeiras diante do Atlético-PR, que deve entrar em campo com um time misto.

MÍSTICA TRICOLOR

Onde faltam amigos, sobra a fé. A torcida do Bahia não deixou de acreditar na salvação mesmo quando os matemáticos apontavam que o time estava com 99% de risco de queda. A crença não é por acaso. O Tricolor coleciona episódios em que a redenção ocorreu nos últimos instantes. Casos como os gols de Charles Fabian em 1988, de Raudinei em 1994, e de Charles Moura na Série C de 2007 estão vivos no imaginário da arquibancada e alimentam a crença de que milagres existem, e ocorrem com frequência no time baiano.

A fé da torcida contagiou o elenco. A mística tricolor é assunto no Fazendão. E Galhardo está na lista dos que acreditam que é possível que o Bahia mais uma vez contrarie todas as expectativas e vire o jogo nos últimos minutos.

Sabemos da fé do torcedor, que acredita que vamos ficar na Série A. Nos apegamos a isso"

Galhardo

- Todo mundo conhece essa mística do Bahia, de se superar nas dificuldades. Se Deus quiser, vai acontecer mais uma vez, nesse jogo contra o Coritiba. Vamos fazer nosso resultado para que em 2014 aconteça isso mais uma vez. Na última rodada tínhamos muito poucas chances. Apontavam que estávamos praticamente rebaixados. Não nos apegamos aos números. Sabemos da fé do torcedor, que acredita que vamos ficar na Série A. Nos apegamos a isso. Todo mundo quer deixar o Bahia na Série A. E é isso que a gente vai em busca no domingo.

Galhardo reconhece que a situação é bastante complicada. Mas isso não impede que a crença permaneça firme. O lateral diz que o Bahia precisa fazer sua parte. E se não for possível seguir na Série A, que pelo menos encerre a temporada com dignidade.

- Todos acreditamos na permanência na Série A. Estamos indo para Curitiba com pensamento de ganhar e fazer nossa parte independentemente do que aconteça com Vitória e Palmeiras. Se acontecer o resultado que esperamos, muito bom. Se não acontecer, temos que terminar de forma digna. Se conseguirmos ficar, para mim vai ser uma forma espetacular de terminar o ano. Infelizmente o ano não foi tão bom. Não joguei tanto. Vou para o meu quinto jogo seguido agora. Como falei para o Charles (Fabian), quero ajudar de qualquer maneira. Com mais uma vitória, terminamos de forma digna. Independentemente do que aconteça do outro lado – afirmou.

ANO COMPLICADO E PENSAMENTO DE PARAR

Galhardo passou por cirurgia no início do ano (Foto: Reprodução / Instagram)

Galhardo chegou ao Bahia no início do ano como promessa de qualidade para a lateral direita. Madson, formado no clube e titular do setor, não contava com a confiança do torcedor. A expectativa era de que o novo reforço pudesse se tornar referência para a equipe. No entanto, os planos não aconteceram como o previsto.

Logo na estreia, Galhardo sentiu um problema no pé e foi substituído. Passou por tratamento, se recuperou e na volta aos campos se machucou mais uma vez. Desta vez foi preciso uma cirurgia. Três meses de recuperação para depois ser condenado ao ostracismo no elenco baiano.

- Eu joguei o primeiro jogo sentindo, fiz raios X e deu uma fissura. Voltei contra o Galícia, no Campeonato Baiano, fiz o gol de falta e me machuquei, tive uma fratura no mesmo pé. Fiquei três meses parado. Muita gente fala que foram oito meses que fiquei parado. É mentira. Na volta da Copa estava treinando normalmente. Por opção dos treinadores, não joguei. Ficava muito triste. Tinha vindo para ajudar o Bahia e não podia. Via os resultados ruins e não tinha como ajudar. Não por minha vontade, mas pelos treinadores não me utilizarem – contou.

Com a saída de Marquinhos Santos, logo após a Copa do Mundo, e a chegada de Gilson Kleina, Galhardo teve a esperança renovada. O treinador falou que pretendia utilizá-lo. No entanto, o lateral seguiu sem ser relacionados para os jogos.

Pensei em largar tudo, até o futebol. Me senti um inútil. Vim para jogar e não conseguia. E não por minha culpa"

Galhardo

- O Kleina falou que contava comigo, que iria me dar chances. No primeiro dia que chegou ao Bahia, falou que não entendia o motivo de eu estar fora do time. Não sei o que aconteceu, mas ele não me deu chances. Serve de aprendizado. Quero pensar daqui pra frente – disse o jogador.

No período de inatividade, Galhardo repensou a vida. Descobriu que a esposa estava grávida e pensou em parar de jogar futebol.

- Durante um período eu fiquei muito triste. Mas tenho uma esposa maravilhosa, uma família que me apoiou. Pensei em largar tudo, até o futebol. Eu me sentia um inútil. Vim para tentar jogar e não conseguia. E não por minha culpa. Tenho uma família que me aconselha muito e eles foram minha motivação para continuar jogando, para não largar. Me disseram que, na hora que a oportunidade chegasse, eu tinha que estar preparado – revelou.

A hora chegou, e Galhardo mostrou que podia ajudar. Titular desde que Charles Fabian assumiu o cargo, o lateral se tornou meia e principal cobrador de faltas e escanteios da equipe tricolor. Com a bola parada, sempre leva perigo. Foi assim que no domingo marcou contra o Grêmio e fez que, de verde, a esperança passasse a ser retratada nas cores azul, vermelho e branco.