A clubes, Globo nega 'espanholização' do futebol brasileiro
Flamengo e Corinthians ficam com a maior parte da receita de TV do Brasil - Montagem ESPN
Ao se sentar na mesa para convencer os clubes a prorrogar o contrato de TV do Brasileiro até 2020, o executivo de esportes da Rede Globo, Marcelo Campos Pinto, carrega diversos números: dentre eles, a projeção de ganhos ao longo dos anos, a proposta financeira para estender o acordo e comparativos da divisão de dinheiro com ligas européias para desmistificar uma eventual 'espanholização'.
A emissora carioca se baseia em estudos para mostrar que o cenário local está distante do observado na Espanha, com Barcelona e Real Madrid.
De acordo com levantamento apresentado por Marcelo Campos aos times, Barça e Real ficam com aproximadamente 40% de toda a arrecadação com TV em seu país. O mesmo, segundo ele, está longe de acontecer no Brasil: a porcentagem que cabe a Flamengo e Corinthians não ultrapassaria 20%.
O trabalho até aqui não tem tido sucesso.
A maioria das equipes rejeitou inicialmente a tentativa da Globo de renovar os direitos de transmissão do Brasileiro por mais duas temporadas.
"É um modelo falacioso", rebate o presidente do Santos, Modesto Roma, em contato com o ESPN.com.br.
"Mas o problema não é esse", prossegue. "O problema é a falta de interesse comercial. É simples: quando a proposta é boa, a gente faz negócio; quando não é, a gente não faz. Tivemos a reunião, sim, mas o formato que nos foi apresentado não nos interessou. Os valores não foram interessantes e atrativos", conclui.
"Tivemos uma conversa preliminar, mas não ficamos satisfeitos com o que ouvimos. A proposta para prorrogar o acordo não vem acompanhada por luvas como a de 2012", diz o cruzeirense Gilvan Tavares.
Naquela ocasião, a renovação do acordo foi acompanhada por luvas que chegaram a R$ 30 milhões.
"Na verdade, não são luvas. É um dinheiro que teríamos direito a antecipar. Teve a oferta, mas não negociamos. Não temos prazo ou mesmo pressão para isso", explica o mandatário do Atlético-MG, Daniel Nepomuceno.
O gremista Romildo Bolzan Jr. também adota a cautela.
"Nós recebemos a proposta e estamos avaliando. Enquanto estivermos conversando, prefiro não entrar em maiores detalhes (sobre estudos apresentados pela Globo para 'minimizar' uma suposta 'espanholização')", afirma.
Marcelo Campos Pinto deixou os dirigentes à vontade para fazer uma contra-proposta.
O objetivo é voltar a se encontrar até o fim do ano.
Ao todo, 18 times contam com acordo com a emissora por mais três temporadas: Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, Grêmio, Inter, Atlético-MG, Cruzeiro Coritiba, Atlético-PR, Goiás, Bahia, Vitória e Sport.
O principal receio da emissora é a promessa da Sul-Minas-Rio de se tornar, de fato, embrião de uma liga nacional. Os cartolas, ainda assim, asseguram que, em nenhum momento, o assunto foi mencionado por Marcelo Campos.
No fim do mês passado, em visita ao presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, os dirigentes chegaram a fazer um pedido especial antes de entrar em sua sala: não queriam que o executivo da Globo, que também se encontrava no prédio, participasse da discussão sobre o novo campeonato.
O novo contrato do Brasileirão entra em vigor a partir de 2016 e tem duração até 2018.