Postado por - Newton Duarte

Há 25 anos, Bahia conquistava o Campeonato Brasileiro

Há 25 anos, Bahia conquistava do título do Campeonato Brasileiro


Gil deixa Luís Fernando na saudade: campeão do brasil no Beira-Rio


O Bahia conquistou o Campeonato Brasileiro de 1988 após empatar por 0 x 0 com o Internacional, no estádio Beira-Rio. O Tricolor baiano não alcançava um título nacional desde 1959. A festa do Bahia veio em fevereiro de 1989.

Bahia é campeão, Bahia é carnaval

É a folia irresistível de um título com a cara do povo brasileiro. Sofrido, mas empolgante. Um futebol alegre e malicioso que, sob o comando de Bobô e Ronaldo, conquistou o país

O Bahia campeão é o povo brasileiro. Que luta, sofre e até sangra. Que tem malandragem, ginga e malícia. Mas que, sobretudo, se exprime com talento, técnica e emoção. Mais que arrancar um empate em 0 x 0 com o Internacional dentro do Beira-Rio, o tricolor tirou a tarde de domingo para dar uma aula de disciplina tática, somada à sensacional virada de 2 x 1 na quarta-feira, para delírio da Fonte Nova. O passeio baiano pelo Sul garantiu o título e reeditou, 29 anos depois, a conquista da Taça Brasil de 1959. Estabeleceu também uma regra: este ano, o Carnaval não tem fim em Salvador.

Recomeçou no apito final do juiz , que ecoou na Praça Castro Alves e no Farol da Barra, a cerca de 3 090 km de Porto Alegre. Uma festa embalada ao som dos trios elétricos. Até quarta-feira é certo que o fricote corre solto pela Bahia.

A emoção maior ficou, porém, para os 800 privilegiados tricolores que puderam vibrar no Beira-Rio. Assistiram ao show durante os 90 minutos e engrossaram o coro dos próprios jogadores, quando o capitão Bobô levantou a taça; “É nossa, é nossa!” Líder e centro criativo da equipe, o meia Bobô explodiu em alegria. Ele planeja comemorar mesmo o título na quinta-feira com sua família em Senhor do Bonfim, distante 374 km de Salvador. Florisvaldo Tavares da Silva, “seu” Flori, como é conhecido o pai do ídolo, pôs de lado uma antiga paixão. “Sou torcedor do Vitória, mas tenho um filho campeão brasileiro”, exultava.

Mas o Bahia não se resumiu a Bobô. Sua grande virtude foi ser uma equipe humilde. Aliou o talento e a velocidade do ataque à aplicação em todos os setores . Uma marca do técnico Evaristo de Macedo. “Não impus nenhum sistema de jogo”, confessou depois da decisão. “Apenas aproveitei o potencial de cada jogador.”

Numa final que envolveu o Bahia, o misticismo não poderia ficar de fora. Em Salvador, o folclórico pai de santo Lourinho ganhou evidência ao expor os bonecos colorados devidamente amarrados e espetados por agulhas. Se os 2 x 1 foram consequência do vodu, ninguém sabe. A preocupação com o sobrenatural — ou simples malandragem — chegou até os dirigentes colorados, que permitiram a colocação de sete galinhas pretas, diversas pernas de carneiro assadas, velas, erva-mate e outras quinquilharias no vestiário adversário. Na dúvida, o massagista Alemão tratou de retirar os despachos antes de o time entrar. “Imagine se chimarrão e pé de boi vão ganhar jogo”, brincava depois da partida. “Eu sempre trago meu alho para fechar o time.”

Fechado mesmo ficou o gol do Bahia, com a inesquecível atuação do goleiro Ronaldo. Depois de passar toda a fase classificatória na reserva de Sidmar, ele teve sua chance a partir das quartas de final. Acabou garantindo os empates decisivos contra Sport, Fluminense e Inter com defesas dignas de uma estátua na Fonte Nova. Depois de assegurar o Carnaval mais longo da história da Boa Terra, o tricolor está disposto a espalhá-lo por toda a América do Sul e, quem sabe, promover um inesquecível enterro dos ossos do outro lado do planeta, no Japão, na decisão do Mundial Interclubes. Com tanta ginga, talento e malícia, o povo brasileiro está legitimamente representado.

INTERNACIONAL 0 X 0 BAHIA

19/2/89 BEIRA RIO (PORTO ALEGRE)

J: Dulcídio Wanderley Boschillia (SP); R: NCz$ 57 304; P: 79 598; CA: João Marcelo, Gil, Norberto e Edu

INTERNACIONAL: Taffarel, Luís Carlos Winck, Aguirregaray, Norton e Casemiro; Norberto, Luís Carlos Martins e Luís Fernando; Maurício (Hêider), Nílson e Edu (Diego Aguirre).

T: Abel Braga

BAHIA: Ronaldo, Tarantini, João Marcelo, Claudir (Newmar) e Paulo Róbson; Paulo Rodrigues, Zé Carlos e Bobô (Osmar); Gil Sergipano, Charles e Marquinhos.

T: Evaristo de Macedo


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Matéria da PLACAR, escrita por Divino Fonseca, sobre o título do Bahia.

Foto: Reprodução