Gabriel Valongo vira peça importante com Charles Fabian
Gabriel Valongo, com a bíblia na mão esquerda, encontrou amparo na fé e na família - Luciano da Matta l Ag. A Tarde
Restava pouco mais de um mês para o final da temporada. Gabriel Valongo, aos 28 anos, via-se prestes a deixar passar a primeira chance da carreira no clube do coração como um jogador sem qualquer importância. Ou pior: marcado por uma falha na sua única partida, a derrota por 4 a 1 para o Sport, que decretou a eliminação tricolor da Sul-Americana.
Mas o destino lhe preparava, restando oito jogos para o final da Série B, uma troca de técnico no Esquadrão. De zagueiro praticamente encostado com Sérgio Soares, Gabriel virou uma das principais mudanças no time titular de Charles Fabian. Em dois jogos com ele, a defesa tricolor não sofreu nenhum gol, e o baiano mostrou segurança na bola área, ponto fraco da equipe em toda a competição.
Hoje, é muito mais fácil para o camaçariense falar sobre aquela falha: "Estou te dando essa entrevista como um testemunho de vida. Quando aconteceu aquela situação contra o Sport, eu não estava servindo à minha religião como estou hoje. Creio que aquilo aconteceu por permissão de Deus, para que eu reconhecesse a importância d'Ele na minha vida".
Na visão do jogador, a mudança não tem apenas origens técnicas. Até vir jogar no Bahia, o zagueiro, que é evangélico, confessa que vivia muito "no mundo", e que estava afastado da religião. Foi a irmã mais nova, Riviane, missionária da Igreja Presbiteriana Renovada, quem decidiu intervir.
"Um dia encontrei ele na rua, angustiado. Foi aí que resolvi desafiá-lo. Quando ele chegou em casa, fomos para um quarto, só eu, minha mãe e ele, e eu disse: 'Meu irmão, você aceita se inclinar para Deus a partir de hoje? Vamos fazer uma campanha de 21 dias só de jejum e orações. Você só vai sair de casa para treinar. Se, depois desses 21 dias, Deus não mudar sua vida, então eu mesma voltarei para o mundo'", recorda.
O 21º dia, segundo a família, foi justamente a terça-feira, dia 6 de outubro. Já nos últimos minutos daquela noite, por volta das 23h30, em Belém, Sérgio Soares foi demitido do Bahia após empatar em 0 a 0 com o Paysandu. "Aquilo não foi uma coincidência. Foi uma 'Cristocidência'", prega Riviane.
O próprio zagueiro confirma. "Quem me trouxe de volta para cá, para jogar pelo Bahia, não foi meu empresário. Foi Deus. E Ele não ia me trazer para a minha cidade, para o meu clube, para que eu saísse envergonhado", reforça. A falha contra o Sport, e tudo o que aconteceu na sequência, serviu, então, como um baque. "Era o 6º zagueiro do elenco, estava no fundo do poço, mesmo. Não encontrava maneiras de me redimir. Ali, eu busquei forças em Deus. Sabia que, assim, minha chance ia chegar", completa.
Como retribuição, assim que retornou da estreia como titular, contra o Oeste, há 10 dias, Gabriel voltou-se à caridade. Doou cestas básicas e brinquedos para o projeto Criança Nota 10, organizado por Riviane na comunidade quilombola da Quingoma, em Lauro de Freitas. Lá, cerca de 60 crianças em situação de risco são incentivadas pela família do jogador a ficar na escola e manter boas notas.
Relação com o chefe
Gabriel recorda que percebeu o 'sinal de Deus' assim que Charles assumiu: "Eu já vinha trabalhando muito com ele aqui no Bahia. Como o time viajava e eu não era mais relacionado, quem ficava aqui me treinando era Charles. Então ele me conhecia mais do que ninguém".
Mesmo assim, a mudança foi difícil de assimilar. "Porque, querendo ou não, Charles estava se arriscando também. Para 90% da torcida a pergunta era 'Por que Gabriel?' Ele me bancou, a verdade é essa", avalia o zagueiro. "Hoje vejo que poderia ter passado pelo Bahia totalmente desapercebido, né? E quando você é torcedor e tem a oportunidade de defender seu clube, você quer é participar de tudo, quer dar a sua contribuição. Não tem nada melhor", reflete ele agora, muito mais realizado.