Postado por - Newton Duarte

Internautas defendem o fim das torcidas organizadas

Internautas defendem o fim das torcidas organizadas

Torcida do São Paulo detira após confronto

Independiente x River Plate - Cristian Tula (Foto: Alejandro Pagni/AFP)

Violência das uniformizadas voltou a assustar nos clássicos regionais ao redor do país


Os internautas do LANCE!Net se mostraram favoráveis ao fim das torcidas organizadas. Nesta sexta-feira, mais de duas mil pessoas votaram em enquete e, entre as que deram sua opinião, 71,6% se posicionaram contra as uniformizadas.

Nos últimos dias, incidentes ligados à violência das organizadas voltaram a assustar os torcedores brasileiros. No domingo, no Morumbi, em São Paulo, torcedores do São Paulo entraram em confronto com a polícia no intervalo do jogo contra o Corinthians. Depois, o Tricolor divulgou um vídeo alegando que a confusão começou depois que a torcida do Timão atirou bombas em direção aos rivais.

Depois do jogo, torcedores de São Paulo e Corinthians voltaram a entrar em confronto na Marginal Tietê, importante avenida da capital paulista. A confusão aconteceu quando os ônibus das organizadas se encontraram.

Em Minas Gerais, mais problemas envolvendo as uniformizadas. Também no domingo, cerca de 30 torcedores de Atlético-MG e Cruzeiro foram presos na manhã que antecedeu o clássico local no Independência. Depois, dentro do estádio, duas facções da Raposa entraram em confronto.

De acordo com Gustavo Grabia, especialista em violência de torcidas ouvido pelo LANCE!Net, a situação no Brasil ainda é menos preocupante do que a da Argentina. No entanto, o descaso e a impunidade podem piorar ainda mais a situação por aqui.

Especialista, sobre organizadas: ‘Se no Brasil é ruim, na Argentina é pior’

Gustavo Grabia é especialista em organizadas

Gustavo Grabia (Foto: Divulgação/ Diário Olé)

Gustavo Grabia, jornalista argentino e autoridade no assunto, dá a entender que situação pode piorar com descaso e afirma que corrupção é a responsável pelas 'barras'

As torcidas organizadas do Brasil aterrorizam boa parte dos torcedores do país. Por causa delas, e principalmente das cenas de violência que elas protagonizam, milhões de torcedores se mantêm afastados dos estádios, e muitos outros nem consideram a possibilidade de levar mulheres, pais e filhos aos estádios. É ruim, mas poderia ser muito pior.

O jornalista argentino Gustavo Grabia é uma das maiores autoridades do continente sobre a violência das torcidas. Profundo conhecedor das barras argentinas, ele mostra que a situação no Brasil pode se deteriorar se nada ou muito pouco continuar a ser feito.

- Sinceramente não tenho acompanhado a questão brasileira. O problema da violência na Argentina já me toma bastante tempo. Mas sei que se a situação no Brasil é ruim, na Argentina é pior – disse Grabia.

- Vi que no Brasil existem esses protestos, esses pedidos por mudanças. E vi que não estão tendo muito resultado. Por aqui, nem isso acontece - completou.

Na Argentina, as barras, equivalentes das organizadas, superam as irmãs brasileiras em violência, poder financeiro e poder político. Com o silêncio da polícia, conseguem até enfrentar presidentes de clubes e ameaçar jogadores sem sofrer sanções.

Com isso, arrecadam muito dinheiro. Com esses recursos, conseguem corromper policiais, dirigentes e até políticos. Grande parte das barras presta serviços aos partidos políticos, de situação ou oposição. Os líderes das barras possuem um acesso aos círculos do poder e são recebidos no palácio presidencial, algo impensável no Brasil.

- Esses grupos estão ligados ao crime organizado e ao narcotráfico. Não sei o que acontece no caso do Brasil, mas é preciso impedir essa associação, se já não ocorre - contou.

As diferenças vêm desde a formação. Na Argentina, há uma barra por clube e é uma organização informal. Não existem eleições, nem mandatos. O poder se mantém pela força. O líder da barra só deixa o cargo quando ele é preso, morto ou deposto por um rival, normalmente após uma luta entre os dois grupos.

Apesar disso, o número de mortes no futebol argentino neste ano é menor do que a metade no caso brasileiro: 8 contra 17.

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Distância e disputas impedem amizade ente organizadas de Brasil e Argentina

Organizada do Corinthians em La Bombonera

Corintianos compareceram à Bombonera mesmo com a proibição (crédito: arquivo pessoal)

Relação entre 'barras' da América Latina é prática comum na região. Torcidas do Chile, da Colômbia, da Venezuela e de países da América Central já se encontraram com hermanos

Pela América do Sul, As torcidas organizadas mantêm um relacionamento que vai além de suas fronteiras nacionais. Embora muitas sejam rivais dentro do campo, seus líderes mantêm contato, inclusive com o objetivo de estender o seu poder.

No entanto, o contato entre torcidas brasileiras e argentinas é menor por vários motivos. A distância, a diferença de idioma e a disputa pela supremacia regional impedem, por exemplo, uma maior aproximação com a corintiana Gaviões da Fiel ou outra grande torcida brasileira. Mas torcidas do Rio Grande do Sul têm mais contato com suas irmãs argentinas.

"La Doce", a temida barra do Boca Juniors (ARG), já convidou líderes de organizadas de outros países e até de outros continentes para dar uma espécie de treinamento. Membros de torcidas do Chile, da Colômbia, da Venezuela e de países da América Central já estiveram na Argentina.

- As torcidas organizadas são entidades com personalidade jurídica. As barras são bandos informais, sem nenhuma regra além de resolver as questões pela violência – conta, ao LANCE!Net o jornalista argentino Gustavo Grabia, especialista no assunto.

Além da troca de experiências, as ligações permitem apoio em viagens e até alguma pequena ajuda financeira de emergência.

Jornalista relata fracasso de presidente que enfrentou organizadas

Independiente caiu no Argentino

Independiente x River Plate - Cristian Tula (Foto: Alejandro Pagni/AFP)

Gustavo Grabia, jornalista argentino, conta que Javier Cantero tentou combater o poder das chamadas 'barras bravas', que responderam com ameaças durante a campanha da queda

Especialista em torcidas organizadas, Gustavo Grabia, jornalista da Argentina, afirma que, em seu país, a corrupção e a impunidade permitem a existência das entidades, denominadas 'barras' no local. Mas já houve quem se levantou contra elas no país sul-americano.

De acordo com Grabia, Javier Cantero, presidente do Independiente, tentou diminuir o poder das entidades ligadas ao clube. No entanto, ameaças aos jogadores fizessem com que as barras voltassem fortes ao cenário do clube.

- Em 2012, o novo presidente do Independiente, Javier Cantero, decidiu enfrentar as barras. Deixou de dar ingressos e outras regalias. Aí esses torcedores começaram a ameaçar os jogadores para que perdessem as partidas. E o clube começou a perder – contou Grabia

- Os conselheiros pressionaram o presidente para que fizesse um acordo e evitasse o rebaixamento. Ele fez o acordo e o time caiu assim mesmo. Não era só questão de ameaça, o time era ruim mesmo – completou.

Ainda segundo Grabia, Cantero, que segue no cargo, já não planeja mais lutar contra a influência do grupo de torcedores.

- Ele continua no cargo, mas as barras estão com todo o poder de volta, eles se acertaram. Seu mandato vai até o final do ano que vem e ele não vai tentar mais nada – afirmou.


Fonte: Marcelo Damato - LANCE!Net

Foto: Ale Cabral/LANCE!Press - Divulgação/Diário Olé - Arquivo pessoal - Alejandro Pagni/AFP