Postado por - Newton Duarte

Investimento em jogadores, 'afastados' e CBF:Diretor de Futebol fala (quase) tudo

Bahia tem R$ 4 milhões para serem investidos em jogadores

Nei Pandolfo, diretor de futebol do Bahia, concedeu entrevista ao Bahia - Foto: EC Bahia | Divulgação

Nei Pandolfo, diretor de futebol do Bahia, concedeu entrevista ao Bahia – Foto: EC Bahia | Divulgação

Depois de passar por Santos e Sport, Nei Pandolfo, 54 anos, assumiu em 2016 a missão de devolver o Bahia à Série A. Ex-zagueiro, tem mostrado perfil diferente dos executivos que passaram recentemente pelo clube: gosta de trabalhar nos bastidores e fala pouco com a imprensa. Dois meses após contratado, o diretor de futebol concedeu a primeira entrevista exclusiva para o A TARDE. No papo, criticou a CBF e revelou que o Tricolor está à procura de atletas renomados.

Como tem avaliado o time?

Estamos em formação. Queríamos primeiro utilizar a base neste início de ano, quando se pode arriscar mais, e depois contratar. Queremos que os reforços venham como solução, e não como aposta.

Quais reforços você ainda quer trazer para este primeiro semestre?

Trouxemos praticamente um atleta para cada posição até agora, com exceções de zagueiro e meia, posições que ainda estamos buscando. A ideia é fazer assim: Lomba, 'zagueiro com certa experiência', 'meia com certa experiência' e Hernane. Seria uma espinha dorsal com uma certa rodagem para dar sustentação aos garotos. Mas essas peças vão chegar quando? Difícil dizer. Quando as opções boas aparecem, o mercado todo tem ido para cima. É preciso calma. As equipes brasileiras que estão na Copa Libertadores possuem elencos grandes, e daqui a pouco vão começar a sobrar esses jogadores.

Quanto ao meia, que perfil você busca?  Mais técnico ou com mais porte físico?

Olha, se houver um meia técnico e agressivo em campo, seria o ideal (risos)! O checklist está cada vez mais rigoroso para se jogar no Bahia. Além de qualidade, o cara tem que ter boa postura fora de campo e participar do jogo o tempo todo, não pode ficar esperando a bola chegar a ele. O problema é que esse é o jogador que todo time quer, e que está em falta no mercado. O jeito então é ficar atento e aproveitar as oportunidades.

Você participou da decisão de afastar Maxi Biancucchi, Jailton, Gabriel Valongo e Ávine?

Sim, foi uma decisão conjunta da diretoria e eu participei. O Doriva, que chegou depois, foi avisado de que não contaria com eles. Não posso detalhar, mas estão aparecendo equipes interessadas em todos eles. Alguns têm contrato acabando por agora, caso de Ávine, e outros em dois meses, como Gabriel e Jailton. Maxi é um pouco mais longo e estamos tentando encaixá-lo em outra equipe.

Maxi chegou a treinar com o grupo por alguns dias antes de ser afastado. Era previsto ou aconteceu algo?

Nossa ideia desde o início era de que o atleta não ia fazer parte do elenco. Ele foi comunicado de que ia treinar com o grupo até darmos andamento em uma negociação. Surgiram duas boas propostas e ele não se mostrou disposto a sair. E já que não estava disposto a nos ajudar, decidimos seguir a vida: aguardar uma proposta que o agrade, mas também colocá-lo para treinar com o grupo que não será aproveitado.

Se não surgir proposta, que providência vocês vão tomar?

Nossa posição hoje é que ele não jogará mais pelo Bahia. Eu, como atleta que fui, não aguentaria ficar mais de um mês sem trabalhar. Isso incomoda, e quando surgem oportunidades boas, a gente acaba indo. Inclusive aceitando um decréscimo na parte financeira. Eu já fiz isso tanto como jogador quanto executivo. Ficar atrelado à questão financeira é o pior cenário. Ao meu ver, quanto mais tempo ele ficar sem jogar, pior. Acho que ele deve pensar assim também.

Qual é a saída  para competir com o investimento mais alto dos times do Sudeste?

É preciso criatividade e administração bem feita. Foi o que encontrei no Sport e estou encontrando no Bahia. Mas, de início, as dificuldades são grandes. Logo que cheguei a Recife, foi difícil convencer atletas a irem para lá. Ouvi de muitos que preferiam ficar pelo Sudeste. Aos poucos, fomos levando jogadores como Durval, Wendell… Quando levamos Diego Souza e Ibson, abrimos o mercado. E o Bahia tem essa condição, inclusive de fazer investimentos ainda mais ousados. Não vou falar o nome, mas fizemos aí alguns voos altos que acabaram não dando certo. Mas tentamos, e é isso que vale, né? Vamos ganhar alguma parada dessas mais à frente.

Foi difícil convencer Marcelo Lomba a ficar no Bahia?

Lomba, não! Difícil foi o empresário dele (Eduardo Uram) entender que era importante para o Bahia que Lomba ficasse (risos)! Os representantes de jogador sempre tentam negociar seus atletas porque só conseguem fazer dinheiro quando há uma transação.

O Bahia reservou mais de R$ 4 milhões para comprar Kieza, o que não aconteceu. Para onde irá esse dinheiro?

Estamos querendo gastar, mas não esta fácil (risos)! Brincadeiras à parte, esse dinheiro ainda será investido. Como disse, estamos buscando reforços. Até agora, trouxemos gente para dar uma estrutura geral à equipe. Queremos agora trazer peças mais encorpadas, como foram Hernane e Marcelo Lomba.

Como você recebeu a decisão da CBF de não adiar o jogo contra a Juazeirense de 9 para 16 de março?

A CBF foi criada para atender aos clubes. E quando você tem uma entidade que trabalha para você, ela tem que te atender da melhor forma possível. Se a gente mostra a ela o interesse de divulgar uma marca nacional para um mercado em crescimento como o norte-americano, ela teria que nos ajudar nisso, e não nos prejudicar. Entendo que a CBF poderia nos ajudar muito mais. Se você for analisar, ela não fez nada de errado juridicamente, mas faltou demais uma boa vontade (devido ao amistoso contra o Orlando City, nos EUA, o jogo que o Bahia faria ontem contra o Galícia pelo Campeonato Baiano teve de ser adiado para 9 de março, mesmo dia do confronto com a Juazeirense pela Copa do Nordeste).

Falou-se em uma 'revanche' da CBF por conta de críticas do Bahia à entidade e pelo clube vir negociando os direitos do Brasileirão ao Esporte Interativo. O que acha?

Eu quero crer que não exista nada montado contra o Bahia, porque a gente tem que acreditar sempre que as entidades estão ali para trabalhar corretamente. E o mercado de TV competitivo como tem aparecido, com ESPN, Fox, Globo, Esporte Interativo, acredito que é uma coisa que não vai ser brecada. Pode atrasar um pouco, mas não vai parar. É bom todo mundo sentar logo numa mesa e negociar.

Você é um ex-atleta que buscou capacitação e virou gestor. O que acha das críticas de que o futebol brasileiro precisa de mais pessoas com esse perfil, inclusive na CBF?

Temos poucas pessoas que passaram pelo campo e que estão preparadas para administrar fora dele. Precisamos de mais gente assim. Mas também não adiantaria ter esses ex-atletas com boa formação dentro da CBF e deixá-los debaixo do braço, só para dizer que há ex-jogadores lá. Temos ex-atletas que estão se aproximando da CBF, como Mauro Silva e Cafu, mas nenhum deles tem poder para montar calendário ou tomar decisões de um campeonato. Felizmente, hoje temos alguns ex-atletas buscando qualificação. Em pouco tempo, acho que vamos ter uma geração que vai tomar o futebol de volta.