Postado por - Newton Duarte

'João Havelange trouxe a corrupção para a Fifa', diz Jornalista Britânico; Assista

Roda Viva com o jornalista britânico Andrew Jennings

O jornalista britânico Andrew Jennings, responsável por investigar denúncias de corrupção contra membros da Fifa, foi o entrevistado do Roda Viva de 2 de fevereiro. Jennings, que esteve no Brasil durante a Copa do Mundo, associou a metodologia da máfia italiana, que investigou nos anos 80, ao comportamento das entidades que controlam o futebol em vários países. A bancada de entrevistadores foi formada por Luiz Antônio Prósperi (Estadão), Marcelo Damato (Lance!), Vladir Lemos (TV Cultura), Marcelo Duarte (ESPN) e Suzana Singer (Folha).

Confira um resumo e o programa na íntegra:

“João Havelange trouxe a corrupção para a Fifa”, diz Andrew Jennings

Roda Viva recebeu o jornalista investigativo britânico responsável por investigar denúncias de corrupção contra membros da entidade esportiva

Andrew Jennings

O jornalista britânico Andrew Jennings começou a sabatina do Roda Viva contando um pouco de sua carreira no jornalismo. “Sou um jornalista investigativo, tenho que tomar cuidado com o que digo, por isso eu pesquiso muito. Minha experiência com a máfia italiana em 1980 me fez pensar sobre as federações. No caso da Fifa, como uma instituição tem tantos adeptos, com 209 associados, que são leais assim, igual a uma máfia? E as semelhanças não param por aí”, conta.

Jennings se diz feliz com o que viu na Copa do Mundo do Brasil, quando a polícia conseguiu desmantelar um esquema de venda de ingressos, coisa que em outros países parece ser ignorada pelas autoridades. “Parabéns às autoridades do Rio por expor o que eu chamo de ‘ponta do iceberg’. Eu espero que os policiais tenham recursos e prossigam nas investigações, até chegar a suas ramificações internacionais. O Brasil não ganhou a Copa, mas poderia ter uma grande vitória, desmascarando a Fifa e seu presidente”, afirma.

Corrupção na Fifa

O jornalista também explicou qual o motivo de todas as outras federações apoiarem e votarem no atual presidente da Fifa, Joseph Blatter. “As federações o apoiam, pois sabem que sempre terão sua fatia no sistema corrupto da entidade. Joseph sabe como agradar todos seus associados”, conclui.

Para o britânico, a forma de acabar com a corrupção instaurada na entidade mundial, ou em federações nacionais de futebol, é simples: “Vamos colocar tudo online, quanto gastam com os estádios, salários dos dirigentes, incluindo o Blatter”, sugere.

Acerca de comentários sobre a compra do direito de ter a Copa em território brasileiro, Jennings alerta os amantes do esporte sobre a urgência de uma reforma no sistema da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). “O corrupto Blatter deu a Copa para um de seus maiores aliados, o corrupto Ricardo Teixeira, e quem paga a conta são vocês [brasileiros]. Mas quem elegeu o Teixeira? Vocês precisam de uma reforma do futebol aqui no Brasil, pois o Teixeira saiu, mas ainda tem seus poderes na CBF”, lamenta.

Segundo Jennings, a Fifa fez de tudo quando ele começou seus ataques à instituição máxima do futebol mundial, menos ameaçá-lo formalmente. “Eles rastrearam minhas ligações, meu e-mail, mas isso vem como parte do pacote pelo que faço. Minha família usa meu telefone e meu e-mail, foi bom saber que eles não se importam com isso”, conta.

João Havelange

Para o jornalista, os esquemas de corrupção na Fifa começaram quando João Havelange assumiu a presidência nos anos 1970. “Antes do Havelange tomar o poder, em 1974, a Fifa era corrupta, mas a proporção aumentou drasticamente. Ele trouxe a corrupção à Fifa, e Blatter foi escolhido para prosseguir seu trabalho nos anos 1990”, afirma.

Futuro Incerto

Segundo o jornalista, as nomeações de Rússia e Qatar para a Copa de 2018 e 2022, respectivamente, foram compradas. “A Inglaterra não conseguiu a Copa de 2018, mesmo tendo estádios e hotéis, toda uma estrutura, mas não temos dinheiro pra pagar propina e, além disso, as auditorias são independentes, o que dificultaria o processo”, explica. "Mas a Copa vai para a Rússia, que tem um dos sistemas mais autoritários da atualidade e depois pro Qatar, nós sabemos que eles sabem lavar dinheiro lá”, acrescenta.

Sobre a Copa de 2022 no Qatar, Jennings é ainda mais pessimista. “Ninguém quer ir ao Qatar, os fãs não querem, os clubes não vão querer. Nada contra os árabes e muçulmanos, mas o problema é a temperatura. É desumano praticar o futebol em temperaturas tão elevadas”, afirma. O jornalista britânico acredita que, nessa hora. a Fifa pode ficar dividida: “os clubes não vão aceitar levar seus jogadores para lá, e isso pode acabar com a Fifa, na questão de Blatter sempre agradar seus sócios. A Copa será feita no Qatar para agradar alguém, mas se os clubes boicotarem, o poder de Blatter pode ser questionado”, completa.

Participam da bancada de entrevistadores desta edição Luiz Antônio Prósperi, editor do caderno de esportes do jornal O Estado de S.Paulo; Marcelo Damato, editor da coluna de prima, do jornal Lance!; Vladir Lemos, apresentador e editor-chefe do programa Cartão Verde, da TV Cultura; Marcelo Duarte, jornalista e editor da Panda Books; e Suzana Singer, editora de treinamento do jornal Folha de S.Paulo. O Roda Viva é apresentado por Augusto Nunes, e conta com a presença fixa do Cartunista Paulo Caruso.