'Canhão do Fazendão', Lima Sergipano está desempregado e revela dificuldades
Em Salvador para um jogo festivo, 'Cabo Lima' relembrou histórias no tricolor e falou sobre as dificuldades que enfrenta
Lima Sergipano é o resumo do Bahia dos anos 1990, período em que ele brilhou com a camisa tricolor: não se preparou para o futuro nem soube explorar sua grandeza financeiramente a seu favor. Aos 48 anos, o Canhão do Fazendão dá os primeiros passos na carreira de técnico profissional. Na verdade, tenta dar. “Eu não sei fazer outra coisa. A outra que sei fazer eu não tenho condição de montar, que é mexer com açougue”, conta. Cabo Lima está desempregado desde dezembro, após fracassar com o União na tentativa de subir para a primeira divisão do Campeonato Sergipano.
Os 20 anos de carreira garantiram um sítio e a casa onde mora em Itabaiana, sua cidade natal, mas renda fixa ele não tem. Quando precisa, recorre aos amigos, como Josimar, que o ajudou a vir para Salvador jogar a preliminar solidária hoje, às 19h45, na Fonte Nova, e ele faz questão de citar na conversa.
Lima será um dos ex-atletas presentes no baba para arrecadar donativos para os desabrigados pela chuva - o torcedor pode doar alimentos não-perecíveis e itens de higiene pessoal no estádio. Bobô, Osni, João Marcelo, Zé Carlos, Beijoca e Uéslei, entre outros, também vão.
De camisa tricolor, Lima estará na Fonte Nova na noite desta sexta (29), antes do jogo contra o Paraná (Foto: Robson Mendes/Correio)
Questionado se pensa em voltar ao Fazendão, agora fora dos campos, Lima responde na lata. “No Bahia eu trabalharia até de gari”, diz, sem querer ser pejorativo com a classe. É o amor ao clube aflorando de novo. Lima chegou ao tricolor em 1991 e saiu no final de 1999. Nunca recebeu o FGTS a que teria direito. Por que não acionou a Justiça? “Nunca tive esse pensamento de botar o Bahia. É como você colocar um pai ou uma mãe na Justiça. É muito ruim. Eu nunca pensei em riqueza. Eu queria ter meu dinheirinho pra manter a família”.
Lima não tinha empresário e admite a falha. Diz ter confiado na diretoria da época, que o orientava a não ter agente. Mesmo ídolo e titular absoluto, ele recebia cinco vezes menos que outros jogadores. “Por isso que eu não consegui fazer contrato bom. Se você não tiver um empresário, um procurador, você vai viver no futebol 15, 20 anos e não vai juntar nada. Foi o mal em minha carreira não ter uma pessoa pra me assessorar, pra fazer meus contratos. E por ser um grande jogador, por dar meu sangue pelo clube e não saber fazer contrato, no final acabei sendo prejudicado. Mas não tenho nada que lamentar. Ao contrário. Eu tenho que agradecer ao Papai do Céu por me ajudar a jogar nesse grande clube que é o Bahia”.
A tristeza não dura no rosto de sorriso fácil. Logo o papo emenda para as histórias da bola. Autor de 84 gols pelo Bahia, Lima é o 15º maior artilheiro do clube. Balançou as redes mais vezes que Bobô, ícone do time de 1988, e que Léo Briglia, artilheiro da Taça Brasil de 1959. Mas acha que o carinho da torcida tricolor - que gritou seu nome e o aplaudiu quando ele, pelo Confiança, acertou o travessão do Bahia na Série C 2007 - vem por outro motivo.
“Eu acredito que seja mais pela vontade, a gana de vencer, a determinação, a humildade. Eu jogava com amor, não tinha muito amor ao dinheiro. Eu não tinha preocupação de fazer contrato e ganhar milhões. Eu tinha a preocupação de ajudar o Bahia e dar meu sangue pelo Bahia. Eu não ficava de fora por besteira. Não tinha dorzinha, não tinha gripe, febre. Cheguei a jogar até com dengue num Ba-Vi. Tive dengue na sexta e joguei no domingo. Por isso”, opina o ex-camisa 5, que também jogou nas duas laterais e de meia.
Animado para conhecer a Arena Fonte Nova, ele brinca com a força do chute - “agora está um traque”, mas diz que arrisca bater uma falta hoje se aparecer. Então, segue o manual para refrescar a memória dos tricolores:
“Eu tinha que dar aquele sapateado, fazer aquela curva toda pra chegar na bola e botar o pito pra eu bater no pito da bola. Tinha que ter isso, se não fizesse isso não saía legal. Quando eu fazia aquele ritual todinho, a bola saía como eu queria”, ensina