Postado por - Newton Duarte

Marcelo Sant'Ana: Errei!

"Admito que errei", diz presidente do Bahia

Marcelo Sant´Ana fez uma avaliação do primeiro ano á frente do Bahia - Foto: Fernando Amorim | Ag. A TARDE

Marcelo Sant´Ana fez uma avaliação do primeiro ano á frente do Bahia - Fernando Amorim | Ag. A Tarde

Após um primeiro ano de gestão marcado pelo título baiano e, no segundo semestre, o fracasso na campanha do acesso, o presidente tricolor Marcelo Sant'Ana, em entrevista exclusiva ao A TARDE, faz balanço de 2015. Aponta erros e acertos de sua administração e projeta 2016 com otimismo.

O Bahia procurou Levir Culpi após ser vice-campeão brasileiro por acreditar de fato que ele pudesse vir ou foi  uma manobra de mercado, já que o treinador, renomado, elogiou o projeto de vocês e isso teve uma repercussão nacional?

Buscamos Levir por entender que ele tem o perfil para trabalhar no clube. Tem títulos na carreira, está acostumado a fazer trabalhos duradouros, e suas equipes têm o que a gente busca. E ele já aceitou desafios semelhantes, como no Botafogo (2003) e no Atlético-MG (2006, ambos na Série B). A gente fez a primeira proposta na quarta (retrasada), ele recusou na quinta. Na sexta a gente fez outra, que ele recusou no sábado. Era nossa prioridade.

Doriva difere muito do perfil propagado como ideal por sua direção. É defensivo, aposta na bola parada - fato inclusive valorizado por vocês em nota oficial - e não tem trabalhos longos na carreira. O Bahia mudou as suas convicções?

Valorizamos o trabalho de Doriva. É um técnico com menos tempo de carreira, mas que se preparou nesse período. Ele mesmo reconhece que precisa fazer um trabalho mais duradouro, e a gente acredita nesse compromisso dele. Precisamos de um trabalho sólido da parte técnica, porque a Série B mostrou ser uma competição muito dura e vamos precisar de um equilíbrio maior do time do que foi mostrado em 2015. A preocupação pela bola parada vem nesse sentido. Em algumas situações, o técnico ser rotulado como retranqueiro, por exemplo, depende do material humano que tem nas mãos, da qualidade dos jogadores. As equipes dele até agora podem não ter sido de fazer goleadas, mas ele é um técnico que tem um trabalho consistente, tem vibração. E isso é importante.

O Bahia perdeu recentemente dois jogadores da base, Vitor e Railan, que assinaram pré-contratos com outro clube. Como o Bahia poderia ter se prevenido disso?

Essas são situações do mercado. No caso de Vitor, a gente tem relação difícil com Jessé Carvalho e Sandro Vasconcelos, que cuidavam da sua carreira, e isso atrasou a renovação. Tratamos sempre diretamente com o atleta e ele sinalizou que a oferta agradava e que queria renovar, só que dias depois ele passou a não atender às ligações da direção de futebol e recebemos a informação de que ele tinha assinado com o Inter de Lages. Ele deu as costas para o clube que o formou e o tratou de uma lesão grave no joelho. Fez uma coisa dentro da legislação, mas a maneira como conduziu foi desonesta.

E sobre Railan? Vocês também foram pegos de surpresa?

Railan teve uma lesão semelhante à de Vitor e, quando estava contundido, propusemos renovação até dezembro de 2016. O empresário não gostou na época e agora, no final do ano, a gente teve a mesma surpresa ao saber ele tem um pré-contrato com o Inter de Lages. Agora teremos que resolver essa situação, pois ele tem contrato com o Bahia até maio e tem que se reapresentar em janeiro.

Após a o fim da Série B, Ávine e Pittoni foram a público e fizeram críticas à sua gestão. Ávine alegou que faltou um presidente mais cascudo e Pittoni disse que Alexandre Faria (diretor de futebol já demitido) acabou influenciando demais nas decisões da diretoria e do técnico. Como você recebeu essas reclamações?

Eu respeito a manifestação opinativa de qualquer pessoa. A única coisa que pontuo é que o local que o atleta tem que dar resposta é dentro de campo. Lá, alguns não demonstraram o que o Bahia esperava deles e  não vão continuar em 2016.

Mas e quanto às críticas de que faltou trato direto com os jogadores, por exemplo, na hora da renovação?

A gente trabalha com uma hierarquia. Se os jogadores têm algum problema, comunicam ao técnico. Se não conseguem resolver, conversam com o gerente. Daí, podem conversar com o diretor. E, se mesmo assim não conseguirem resolver, falam comigo. Sou um presidente que frequenta vestiário, é possível me ver em todos os jogos em Salvador e viajo quase sempre com a delegação. Só não devo ter ido em cinco ou seis jogos neste ano. Tem atletas que até de férias eu continuo conversando, como Gustavo, Kieza... Até o próprio Railan já me mandou mensagens.

Sobre Faria, de fato você se deixou influenciar por ele?

O diretor tem a responsabilidade de gerir o departamento. Algumas decisões mais particulares ele toma, mas as gerais são tomadas de maneira coletiva. Acredito que, por conta de o diretor ser o porta-voz, alguns atletas entendem que a decisão é tomada exclusivamente por ele, mas elas são debatidas pelo que chamamos de núcleo de futebol, que geralmente é composto por mim,  Pedro (Henriques, vice-presidente), o diretor, Éder (Ferrari, gerente de futebol) e o técnico.

Sobre a permanência de Kieza, vale gastar tanto dinheiro para ficar com ele?

Nossa tentativa de manter Kieza é por entender que, como personalidade, ele encarna a mística do Bahia. Acredito que se tivéssemos tido outros jogadores com a atitude de Kieza durante esse ano, teríamos conquistado o acesso. A oferta que o Bahia fez é uma oferta que temos condições de pagar. A gente ofereceu um valor inicial que eles recusaram e depois apresentamos outro, que foi de US$ 1 milhão. Negociamos um contrato de três anos. E também fizemos uma proposta de empréstimo por mais uma temporada. Estamos negociando com os chineses esses dois caminhos.

Após dois anos de avaliação, Maxi vale o custo-benefício em 2016 (o salário dele custará R$ 185 mil). Já existem propostas por ele?

Maxi tem contrato com o Bahia até dezembro de 2016. Teve bons momentos nesta temporada, mas também tiveram momentos em que a gente esperava um retorno maior dele e não veio. A gente ainda não teve nenhuma proposta de transferência por ele. Vindo, vamos analisar.

Sobre Marcelo Lomba, o Bahia já recebeu uma proposta da Ponte Preta. De quanto?

Foi um valor entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão, mas a gente recusou. A gente não tem interesse de negociá-lo. Lomba é um ídolo do Bahia, a maioria absoluta da torcida o valoriza como grande goleiro. Ele, além do nível técnico excelente, é um cara competitivo, responsável e equilibrado. Para o Bahia pensar em negociação tem que ser uma proposta realmente muito interessante.

O empresário dele, Eduardo Uram, diz que Lomba não quer voltar para o Bahia...

Já conversei com Lomba e com o seu empresário. Estive no escritório de Uram no Rio nesta semana. O que passei para eles é que o Bahia não tem interesse de ter Lomba apenas até 2017, como é o seu contrato. Eu ofereci a seu empresário mais um ano de vínculo.

E qual foi a posição de Lomba depois disso? Ele te garantiu que quer ficar no Bahia?

Sim.

Qual vai ser o futuro de Charles no clube? Ele será demitido?

Charles é funcionário do Bahia, contratado como auxiliar, e está de férias. Quando retornar, vamos conversar com calma. Ele tem, ou tinha, a vontade de ser técnico profissional e não ficar mais na posição de auxiliar ou técnico do sub-20.

Na assinatura do contrato com a Fonte Nova, foi explicado que havia uma meta, um público médio, que tornaria o novo acordo tão vantajoso ou até mais lucrativo que o contrato anterior. O Bahia alcançou essa média?

O contrato da Fonte Nova tem um detalhe, o 'ano' dele tem início em abril e término em abril do ano seguinte. Então temos que aguardar até abril de 2016 para avaliar. Mas a gente faz um acompanhamento mensal dessa questão e a nossa previsão é que em abril do ano que vem a gente consiga fazer entre R$ 11 milhões ou R$ 12 milhões com ele (o contrato anterior era de R$ 9 milhões fixo). Isso caso a torcida mantenha a média  atual. Mas temos certeza que vamos manter ou melhorar, pois alguns dos melhores públicos que tivemos em 2015 foram justamente no primeiro semestre.

A cada resultado ruim nessa temporada, os críticos levantavam a bandeira da sua inexperiência. Como recebe isso?

Crítica a gente tem que respeitar. Eu estou como presidente do Bahia, daqui a pouco virá outro e essa é uma conquista que o Bahia teve. O Bahia das trevas não existe mais, para desespero de alguns. Alguns críticos são justos, eu acredito que são maioria. Mas a gente sabe que tem alguns mal-intencionados no meio. Por esses, eu lamento.

Que lição você tira desse um ano de presidência?

Chego nesse primeiro ano de aniversário muito mais preparado que há um ano. De ter uma relação mais próxima com jogadores, empresários, os diversos atores do futebol. Fui absorvendo experiências que no futuro me darão mais segurança nas decisões. Algumas pessoas têm a capacidade de admitir que erraram, como admito que errei em alguns momentos neste ano.