Postado por - Heitor Montes

Marcelo Sant'Ana sobre a Liga do Nordeste: Cada um enxerga um caminho diferente

Na noite de terça-feira (4), o Bahia publicou em seu site oficial uma nota, assinada ao lado de outros nove clubes-fundadores da Liga do Nordeste, na qual declaram apoio à entidade, que organiza a Copa do Nordeste.

Ainda que não queira os méritos, o Bahia se colocou, assim, como o líder de um grupo em defesa da competição, e contrário aos anseios de Sport e Náutico, que declararam na última segunda-feira (3) a saída da Liga do Nordeste. O Santa Cruz é outro clube que pode se juntar ao grupo de rebeldes.

Na esteira dos acontecimentos, o presidente do tricolor, Marcelo Sant'Ana, concedeu uma entrevista exclusiva para o CORREIO. Nela, nega qualquer tipo de liderança do Bahia em defesa da competição, garante que a competição não é deficitária para os grandes clubes, como o Sport declara, e defende o diálogo com o presidente do rubro-negro, Arnaldo Barros.

Pela nota publicada com mais de um clube assinando, o que o Bahia quer demonstrar com isso? Há uma união de um grupo a favor da Copa do Nordeste e não clubes isolados?

Mostrar que os fundadores mantêm uma unidade, uma linha de pensamento que deu origem à Liga do Nordeste e que a gente vai unir forças para batalhar pelo melhor para o futebol da região. O objetivo é esse apenas.

O Bahia se coloca como um líder desse grupo?

Não. O Bahia é um dos 16 clubes fundadores da Liga do Nordeste. O peso de cada um na assembleia é igual, voto unitário, e nossa busca sempre vai ser fortalecer o futebol da região. O Bahia tem relação boa com Náutico e Sport. Quando eles se manifestaram pela desfiliação eu mesmo me comuniquei com o Sport de que no que dependesse do Bahia vou sempre tentar trazê-lo de volta porque a gente reconhece a importância do Náutico e do Sport se deseja manter unidade no Nordeste. Acho que todos os 16 clubes que fundaram a liga querem a mesma coisa, só que em determinados momentos cada um enxerga um caminho diferente para alcançar esse objetivo. Acho que talvez nesse momento esteja acontecendo isso. Um grupo acha que um caminho é melhor, outro acha que outra situação é mais interessante, mas o objetivo é um só: futebol mais forte que consiga rentabilidade para competir a nível nacional.

Como o Bahia recebeu essa saída do Sport?

Meu relacionamento com Arnaldo (Barros, presidente) sempre foi muito direto desde que Arnaldo assumiu a presidência, desde que era vice-presidente houve uma reunião em Salvador com os clubes pernambucanos e os clubes baianos, depois reunião em Recife, onde Ceará também participou. Todos os clubes externaram seus entendimentos sobre esse tema. A gente considera que cada clube tem o direito de ter seus pontos de vista, seus posicionamentos. Não tem nada de errado em relação a isso.

O Bahia reconhece que há uma grande perda do mercado da Copa do Nordeste com a saída desses dois clubes e talvez do Santa Cruz também?

Claro que nosso interesse é ter todos os clubes da região focados em fortalecer a liga e as competições da liga. Claro que quando sai um clube, dois, três, independentemente do número que seja, não é a situação ideal. O que a gente tem buscado é incluir e fortalecer, não perder membros. Falo isso como um dos clubes membros. O Bahia não faz parte da diretoria da liga, não fez parte do mandato anterior, acho que nunca fez parte da diretoria da liga, mas a gente é um clube que faz parte de um colégio eleitoral, tem direito a voz e voto e está tentando manifestar junto com outras equipes porque não adianta ter uma bandeira que é só sua. Tem que defender bandeira que seja compartilhada por outros.

Há prejuízo significativo no valor da competição?

A gente tem que ver de maneira prática como vai ser refletido isso no mercado, mas a competição desde que retornou em 2013 já ficou sem grandes clubes: Vitória não jogou, Ceará não jogou, o próprio Fortaleza não está classificado para 2018. Os pernambucanos também já tiveram essas situações. Já aconteceu de grandes clubes ficarem fora, mas se pegar de 2013 até 2017, o crescimento da Copa do Nordeste é constante. Acredito que em 2018 teremos mais força na parte econômica e na parte técnica a gente tem que ver.

A competição é deficitária mesmo?

Não. Competição tem evoluído. Das cotas da competição em 2013 para as prováveis cotas de 2018 é um aumento significativo. Claro que a gente enxerga possibilidade de melhorar ainda mais o campeonato, fazer fase de grupos com 16 clubes é para aumentar o valor comercial da fase de grupos e qualidade técnica. Minha confiança é trabalhar sempre nessa linha de fortalecimento e vários ganhos. Claro que a liga tem um longo caminho a percorrer para ser a liga ideal que os clubes pensam, mas a gente está num caminho que tem se mostrado acertado pela própria emoção que gera nos torcedores, engajamento, patrocinadores e a grande repercussão da mídia nacional. O campeonato que teve maior repercussão nesse primeiro semestre do futebol brasileiro sem dúvida foi a Copa do Nordeste, embora o primeiro semestre também tenha tido jogos de Copa do Brasil, campeonatos internacionais, mas acredito que nenhum jogo até aqui teve uma repercussão tão grande nacionalmente como a final da Copa do Nordeste.

O Bahia tem reclamações quanto à Copa do Nordeste?

As reclamações do Bahia são sempre debatidas na assembleia, que é o fórum com quem a gente deve debater nossos problemas. O Bahia, eu pelo menos aprendi nesses dois anos e meio que os problemas a gente tem que resolver dentro de casa. Claro que correções são naturais para crescer a competição. Fazer fase de grupos com 16 clubes já é um avanço e outros vão surgir eu não tenho dúvida nenhuma disso. Mantendo sinergia entre clubes, liga e federações em poucos anos vamos ter a Copa do Nordeste muito próxima do que consideramos ideal.

O formato sugerido pelo Sport, de duas divisões, é possível?

No curto prazo acho complicado pela parte econômica, mas no médio e longo prazo vejo como possibilidade interessante.  Tem que discutir com calma dentro da assembleia da liga, convidar federações também porque envolveria mudança política e técnica muito grande na competição. Tem que debater os riscos de fazer uma mudança desse patamar.

Ainda terá diálogo com Sport?

Sempre. A decisão do Sport tem que respeitar. Mas posso falar pelo Bahia, não posso falar pela liga. Acho que as portas têm que estar sempre abertas a todo clube da região.

O Vitória não assinou a nota conjunta. Por quê?

O Vitória publicou uma nota anterior inclusive, reforçando a condição do clube filiado e o valor da competição. Questão de não ter assinado a nota foi porque a possibilidade surgiu durante tarde e eu não consegui contato. Ivã de Almeida tem situações pessoais para resolver, mas acredito que o Vitória está alinhado com o pensamento. Não ter assinado a nota foi uma questão de timing, de burocracia de telefone que não consegui falar durante o dia, mas confio sim, pela própria nota que o Vitória publicou, de maneira até pioneira, que todos nós mais o Vitória estamos na mesma sinergia, com os mesmos objetivos.

Fonte: Correio 24 Horas