Postado por - Newton Duarte

'Marin e Del Nero devem renunciar', diz Schmidt

Presidente do Bahia: “Marin e Del Nero devem renunciar”

O presidente do Esporte Clube Bahia, Fernando Schmidt, falou com este blogueiro na manhã desta sexta-feira, 12.

Eleito de maneira direta pelos sócios do Bahia há um ano, em seguida a uma reforma radical do estatuto do clube e depois de uma sucessão de gestões desastrosas, para dizer o mínimo, Schmidt tem muito claro o que deveria acontecer no futebol brasileiro daqui por diante. Quanto à primeira medida, diz ele:

- A hora é de Marin e Del Nero renunciarem, pedir para sair, pegar o boné e ir embora.

Abaixo, a conversa com o presidente do Bahia.

Bob Fernandes: Passados três dias da eliminação do Brasil na Copa do Mundo, o que dizer?

Fernando Schmidt: O que vimos no Mineirão, 7 x 1 da Alemanha no Brasil, significa de maneira profundamente reveladora o fim de uma era.

Era do quê?

Era em que um grupo se apossou do futebol brasileiro, e isso precisa acabar. Vejo com esperança as falas da presidente Dilma e do ministro Aldo Rebelo no sentido de que temos que encontrar uma solução para isso aí.

Qual poderia ser?

Há um projeto no Congresso, parado há um ano e meio, que tem o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) como relator. É o projeto de lei do Proforte, que trata da democratização do futebol em relação à gestão, orçamento, execução… prevê que os clubes perdem pontos, enfim, trata de um "fair play financeiro", clubes seriam excluídos de campeonatos a depender do comportamento nessas questões, dirigentes com gestão temerária seriam responsabilizados e responderiam com o seu patrimônio, o que, aliás, o Código Civil já prevê.

Em que geladeira está esse projeto?

Quem segura, impede que o projeto ande é a "bancada da bola"…. soube que o projeto vai começar a andar, mais uma vez, na semana que vem. As pessoas confundem e entendem que estatal e público são sinônimos, e não são…

Explique, por favor…

… tudo que mexa e diga respeito ao interesse público, seja estatal ou não, deve ter contas prestadas ao público. Até quando continuaremos com capitanias hereditárias, caixas-pretas e dinastias no futebol brasileiro?

Até quando?

O Bahia mudou há um ano depois de tomar duas goleadas, uma de 5 x 1 e outra de 7 x 3.

Mudou porque a torcida exigiu, chegando inclusive e enfim à campanha de não comparecer aos estádios…

Sim, a bandeira final foi a "público zero", como você bem sabe…

De imediato, o que deve ser feito?

Se eu fosse eles, Marin e Del Nero, mas eu jamais seria eles… a hora é de Marin e Del Nero renunciarem, pedir para sair, pegar o boné e ir embora. Eles devem renunciar… [NR: O presidente do Bahia sabe que Del Nero só assume a presidência da CBF em 2015, o pedido é para que ele não assuma].

… porque…

… como acontece algo tão grandioso, algo tão assombroso, como essa derrota em uma semifinal de Copa do Mundo, e ninguém da direção da CBF veio a público até agora, passados três dias, para dizer alguma coisa? Não dizem nada, apenas deixam o técnico Felipão no fogo e pronto? Técnico que, aliás, diz que não imaginava que a Copa teria "seleções tão fortes"? Esse pessoal é louco?

Mas o senhor não votou na eleição de abril que escolheu Marco Polo Del Nero para presidir a CBF?

Eu, pessoalmente, não, e te explico.

Explique, por favor.

Quando fui eleito presidente do Bahia, fui à CBF me apresentar, institucionalmente, como presidente do clube. Já que ele não me conhecia. O Marin me perguntou como estava, e eu disse que a situação do Bahia era muito difícil, e que o clube precisaria de apoio da CBF, ele me disse para procurar antecipação de receita de direitos de transmissão do campeonato brasileiro junto à TV Globo.

E qual foi sua resposta?

Que isso, esse caminho, esse direito, eu já tinha, não precisava da CBF para isso. Estive com Marco Polo Del Nero, a quem não conhecia, e com ele conversei sem assumir compromissos.

Mas votou nele?

Eu não fui à eleição no dia, foi o vice-presidente do Bahia, Dalton Renó, ele me ligou de lá e me disse que o Bahia foi o único que não assinou manifesto apoiando Marco Polo Del Nero, e me perguntou o que deveria fazer.

Você disse o quê?

Disse que, como não havia outra candidatura, não havendo outra alternativa, não deveríamos expor o clube a pressões. Não era hora nem o momento para o Bahia ficar isolado. Depois da eleição, mandei um telegrama, congratulei-o e disse esperar que a gestão dele fosse comprometida com as mudanças que o futebol brasileiro precisava. Nunca mais fui à CBF, não atendi convites para reuniões, para Granja Comary, para camarotes dos jogos do Brasil.

E agora?

Agora, uma outra situação se impõe, não é uma questão pessoal, até porque nem o conheço direito. A saída agora é uma necessidade pelas circunstâncias, pelos novos fatos, pela situação criada como resultado dessa Copa e pela incapacidade deles enfrentarem essa situação. Não incapacidade pessoal, mas a incapacidade de enfrentar um sistema que eles encarnam e representam.

Para além da CBF, não haveria outras interferências e fatores?

Na época que presidi o Bahia pela primeira vez (entre 1975 e 1979), não tinha essas receitas de TV, criamos o Clube dos Treze à semelhança de uma liga. E tudo isso foi destruído em nome dos interesses desses novos atores que surgiram no futebol, o que está personificado pelos interesses midiáticos…

… com consequências…

… muitas… Na Copa de 1950, outro mundo, ainda outras mídias, esse bombardeio midiático e publicitário não atingiu as crianças…

… já agora…

… agora, as crianças sofreram um choque brutal, que ainda não foi medido em toda a sua extensão e nem o que provocou e provocará. A propósito, há regras, determinações que impedem crianças de entrar em campo com jogadores em jogos noturnos. Vimos um bombardeio midiático usando crianças, aquele "joga pra mim" é de arrepiar. Por isso tantas crianças choraram e tantas crianças depressivas nesses últimos dias… e dizem "ora, os traumas passam". Isso não é assim, por isso existem regras, inclusive na publicidade, em relação às crianças.


Fonte: Bob Fernandes – Terra Magazine

Foto: Reprodução