Postado por - Newton Duarte

Marquinhos Santos: 'viciado em futebol'

Marquinhos Santos: "Sou um viciado em futebol"


O jovem técnico Marquinhos Santos é um estudioso do futebol


Marquinhos Santos não nega ser um 'viciado' em futebol. Nas suas entrevistas coletivas, procura sempre passar suas ideias táticas de forma didática para os jornalistas, tal qual um professor. Fora de campo, admite que assiste a jogos e até tem uma coleção deles para assistir e estudar no tempo livre. Coisas de um treinador jovem, que virou profissional com apenas 22 anos. Em entrevista exclusiva para o A TARDE, o comandante tricolor fala sobre suas manias e como foi começar a trabalhar com futebol tão cedo.

Há uma curiosidade grande sobre o seu início de carreira. Você foi jogador?

Sim, comecei na base do Santos, onde nasci, e fiquei lá até os 17 anos. De lá, fui para o estado do Paraná, onde joguei até os 21, mas vi que teria muitas dificuldades na carreira. Como sempre tive o sonho de virar treinador, resolvi estudar educação física, fiz pós-graduação em treinamento esportivo e também tive a oportunidade de estudar na Espanha.

E como foi o início como treinador? Foi cedo também?

Ah, eu comecei bem novo... Com 22 anos já estava na base do Atlético-PR (Sub-15). Lá eu passei por todas as categorias, do infantil ao júnior, até chegar a auxiliar do profissional. Mas como não tinha o interesse de ficar como auxiliar, aceitei o convite para treinar a base do Coritiba. Nessa época eu já tinha 29 anos e uma bagagem muito boa profissionalmente, por ter acompanhado treinadores, tanto no Atlético como no Coritiba. Foi aí que surgiu o convite de ir para a Seleção.

Na Seleção Brasileira, você treinou quais categorias?

Como comandante, a Sub-15 e a Sub-17. Como auxiliar, a Sub-20 e a profissional, com o Mano Menezes. Foi uma passagem importante,com títulos do Sul-Americano e da Copa América no Sub-15, vaga no Mundial do Sub-17. Quando estava montando a equipe para o Mundial, veio o convite para o profissional do Coritiba. Mas acredito que deixamos um bom banco de dados, com cerca de 300 jogadores. Aqui no Bahia mesmo, temos o Paulo Henrique (atacante) e o Gabriel (meia), que devem começar em breve no time.

Você tornou-se treinador do Coritiba com 32 anos. Sofreu preconceito por ser jovem?

Com certeza,ainda mais quando você não teve reconhecimento como atleta. Gera uma desconfiança, que eu acho natural. Foi assim no Coritiba e está sendo agora no Bahia, mas com o passar do tempo, a torcida e os profissionais passam a conhecer melhor o Marquinhos como treinador.

Suas entrevistas deixam passar que você é um viciado na parte tática do futebol. É verdade?

Sou um viciado, sim. É uma parte que me interessa muito, desde quando era atleta. Sempre procurava encostar nos treinadores e perguntá-los o porquê de determinada situação de jogo. Isso despertou em mim o interesse de estudar. Mas a literatura nacional ainda é muito pequena, poucos autores, e isso eu só consegui através da literatura portuguesa e na espanhola. Isso me levou à Espanha, onde fiz dois estágios no Barcelona, que foram muito importantes para a minha filosofia e que a gente tenta colocar aqui no Bahia.

Muita gente considera sua ascensão no futebol um tanto precoce. Como você se defende?

Na verdade eu não caí de paraquedas na função. Procurei estudar muito e me preparar para quando tivesse a oportunidade. E assim foi desde a base, com uma carreira até meteórica, mas de muitos títulos e a revelação de jogadores. No profissional foi da mesma maneira, até achei que teria dificuldade maior, mas no primeiro ano a gente já tirou o Coritiba do rebaixamento. Depois, conseguimos o tetra do Paranense e lideramos o Brasileiro, o que nunca tinha acontecido nos pontos corridos. Isso abriu o mercado para mim.

Com 34 anos, você já comandou jogadores mais velhos?

Lincoln, Deivid, Alex, Pereira... Pra mim é uma relação natural, procuro ganhar respeito não só com autoridade, mas principalmente demonstrando conhecimento. Ter conquistado o respeito de um Alex, de um Lincoln, que já saíram do Brasil e que trabalharam com grandes treinadores, pra mim, é motivo enorme de orgulho.

Como você estuda futebol?

Leio muito, principalmente nas viagens, durante a concentração. Busco informações em artigos acadêmicos também, e troco informações com profissionais de equipe e dentro e de fora do Brasil. Tenho também na minha casa, em Curitiba, uma coleção de vídeos de jogos...

Como é essa videoteca?

São jogos antigos, que eu acumulo em DVD e agora em HD. Classifico em jogos técnicos e jogos táticos. Aí, dentro desse status, vou dentro da minha necessidade buscando alguns jogos para estudar o que acontecia na década de 70, 80, 90... Trazer coisas positivas daquele tempo para a atualidade.

São jogos de quais torneios?

Ah, de tudo jogos da Champions League, da Major League Soccer (EUA), onde hoje a profissionalização é muito forte e moderna. Ex-jogadores meus que estão lá me mandam os jogos deles e eu vou arquivando para que eu possa buscar uma situação tática ou técnica e aplicar no dia a dia aqui do Bahia.

Você assiste a muitos jogos?

Assisto muito, é uma mania. De tudo: Séria A, Série B, até mesmo Série C... Europeu, nem se fala. Passo o dia vendo jogos desses torneios.

Qual a importância disso?

Para ficar atualizado. No futebol a evolução é muito grande e acontece rápido. Houve uma evolução física e agora estamos passando por uma evolução tática. Quem não estiver atento, fica para trás. Aqui no Brasil,por exemplo, se diz que tal jogador é volante, fulano é meia... Mas isso no futebol internacional não existe mais. Escala-se mais pela característica dele e pelo que ele faz em campo com a bola e sem a bola.

E como você faz para que os jogadores compreendam essa evolução do futebol?

Ah é um processo que tem que ser muito didático, que tem que acontecer, e que eu procuro apresentar de várias maneiras.Tem o treinamento de posicionamento; tem a descoberta guiada, onde eu deixo o jogador livre para descobrir sozinho a tática utilizada; tem a direcionada, em que passamos para os jogadores vídeos da nossa equipe ou de outras; e também na conversa individual, que é o mais importante. E aqui os atletas já têm começado a entender a filosofia e mostrado nos jogos.

Quais jogadores você acredita que melhor absorveram essa evolução no Bahia?

Eu vejo o Pittoni, um jogador muito inteligente. O Mádson tá se adaptando muito bem à nossa metodologia também. O Titi é um cara de muito potencial, tem muito a crescer ainda, e acho que algumas coisas no passado atrapalharam isso.

E o Talisca?

O Talisca é uma pérola que o Bahia tem, né? Não só ele, mas o Zé Roberto, o Ítalo Melo, o Railan... Mas eles precisam que o cuidado com eles seja grande, também. Da mesma maneira que você lança, você queima, então por isso esse processo que eu tenho que tirar o Talisca, deixar ele no banco, colocar no segundo tempo... E eu tenho que ter esse cuidado fora do campo também para que o Bahia possa colher os frutos e o que o próprio Talisca seja útil para o futebol nacional, porque talento ele tem.

Você disse que coleciona jogos antigos. Viu o Bahia em 88?

Claro que sim. Sensacional aquele Bahia. Tinha o Bobô, que dispensa comentários, mas via o time como uma unidade, com muita luta, jogando sempre pra frente, mas de maneira tática bem aplicada pelo mestre Evaristo. É um Bahia que eu quero implantar aqui, para que o torcedor tenha orgulho e reviva o time daquele tempo.


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Fonte: Vitor Villar | A TARDE  

Foto: Eduardo Martins | Ag. A TARDE