Postado por - Newton Duarte

Messi resolve para a Argentina contra a Bósnia: Raio-X e os Gols

Provocado, Messi acorda e salva estreia da Argentina no Maracanã

Bicampeã mundial e sempre candidata ao título, a Argentina atraiu milhares de torcedores ao Brasil para sua estreia na Copa do Mundo, diante da Bósnia e Herzegovina, neste domingo. Mas nem Lionel Messi garantiu um bom primeiro tempo no Maracanã, ainda que tenha saído de seu pé esquerdo a cobrança de falta que deu origem ao gol contra de Kolasinac, aos dois minutos. Messi acordaria depois do intervalo, marcando um golaço, logo depois de ser provocado por brasileiros. No final, Ibisevic ainda descontou para a Bósnia, mas o placar não passou de 2 a 1.

Foi aos 19 minutos, segundos depois de ouvir o nome de Neymar, seu companheiro de Barcelona e principal jogador da Seleção Brasileira, que Messi desencantou. Já vinha dando bons passes no começo da segunda etapa, mas, principalmente naquele instante, provou o porquê de ter sido eleito quatro vezes o melhor do mundo e de ser a principal esperança de sua torcida para levar o país ao terceiro título mundial. Ele fez uma tabela envolvente, deixou dois marcadores para trás e contou com ajuda da trave para balançar a rede.

No próximo sábado, o time treinado por Alejandro Sabella enfrenta o Irã, no Mineirão, em Belo Horizonte. No mesmo dia, a Bósnia disputará sua segunda partida em Copas do Mundo, enfrentando a Nigéria, na Arena Pantanal, em Cuiabá.

Neste domingo, logo aos dois minutos, uma falta cobrada por Messi pelo canto esquerdo do campo teve desvio de cabeça do lateral esquerdo argentino Marcos Rojo, no meio da área, e tocou em seguida nas pernas do zagueiro bósnio Kolasinac, tirando qualquer reação do goleiro Begovic no lance. Aberto tão cedo o placar, a expectativa não seria outra senão a de uma goleada histórica.

Não foi isso o que se viu antes do intervalo. Com três zagueiros (Campagnaro, Fernández e Garay), uma formação extramente cautelosa para enfrentar um adversário estreante e de pouca expressão internacional, a Argentina jogou bem abaixo do que se imaginava, muito em função da dificuldade na saída de jogo, cuja segunda etapa ficava a cargo de Mascherano. Mais marcador do que técnico, o volante errou passes perigosos na tentativa de achar Messi, e a marcação bósnia se aproveitou.

Escalações iniciais de Argentina e Bósnia-Herzegovina

No primeiro tempo, Messi foi muito marcado e não conseguiu brilhar dentro de campo.

Aos 12 minutos, em um dos bons momentos de Misimovic, camisa 10 da Bósnia, Hajrovic recebeu lançamento por cima da defesa e saiu cara a cara com Romero. Para sorte do goleiro argentino, o atacante dominou mal a bola e permitiu que ele chegasse a tempo de afastá-la da pequena área. A jogada inflamou a torcida, sustentada principalmente por brasileiros, que viram outra boa chance de gol no minuto seguinte. Pjani, porém, acertou a cobrança de uma falta frontal diretamente na barreira.

A afobação inicial dos bósnios, ampliada no começo do jogo devido ao gol contra de Kolasinac, foi passando aos poucos. Na metade do primeiro tempo, uma longa troca de passes rendeu gritos de "olé" e enervou os argentinos da arquibancada e talvez os que estavam em campo - pouco depois da provocação, uma entrada dura de Rojo em Mujdza rendeu cartão amarelo ao lateral. Batida a falta, a Bósnia assustou o goleiro Romero, que viu a bola ser afastada da área com dificuldade por seus zagueiros.

Messi tentava responder individualmente, mas quase sempre se via obrigado a recuar a bola novamente para Mascherano, dada a distância entre ele e seus companheiros do sistema ofensivo, Di María e Aguero. Nas poucas vezes em que carregou a bola ao seu estilo em direção à área, o ex-melhor do mundo passava por alguns marcadores até, isolado, ser desarmado. A saída era arriscar de longe, como fez Mascherano, aos 31 minutos. Begovic espalmou para frente, e a zaga completou o serviço.

Principal aposta do lado bósnio, Dzeko tentou o mesmo um minuto depois. Ele disputou bola na meia-lua, de costas para o gol, girou e chutou por cima. O empate quase saiu aos 40 minutos. Após cobrança de escanteio pelo lado direito, Lulic cabeceou no canto esquerdo baixo, e Romero se esticou para mandar a bola de volta pela linha de fundo. Na nova cobrança, o goleiro argentino fez boa defesa após arremate rasteiro de longa distância.

No segundo tempo, em jogada muito veloz, Messi anotou um golaço após deixar dois jogadores no chão.

No retorno do intervalo, apesar de o técnico Alejandro Sabella ter sacado Campagnaro e Maxi Rodríguez para colocar Gago e Higuaín, foram mais oito minutos de equilíbrio ou superioridade europeia. Até Messi acordar. A partir dali, em um desenho tático mais ofensivo, o camisa 10 chamou o jogo para si e distribuiu ótimos passes para seus companheiros de ataque. Mas, como nem Di María nem Aguero aproveitaram suas assistências, ele próprio tentou decidir. Aos 18 minutos, bateu uma falta da meia direita, muito longe do gol, e ouviu a torcida brasileira insultá-lo e gritar "Olê, olê, olê, olá. Neymar! Neymar".

Não deu um minuto para Messi responder à provocação vinda da arquibancada, a qual fazia alusão ao seu companheiro de Barcelona e principal jogador da Seleção Brasileira. Ele recebeu passe na meia direita, avançou com liberdade e tabelou. Ao receber de volta, driblou dois marcadores e, da entrada da área, chutou rasteiro e forte. A bola tocou a trave direita e entrou, para delírio dele próprio, que correu ensandecido para comemorar junto à bandeirinha de escanteio, e para igual delírio da torcida argentina, que imediatamente devolveu a provocação dos brasileiros, cantando "Olê, olê, olê, olê. Messi! Messi!".

A empolgação pela vantagem quase trouxe prejuízo aos argentinos. Aos 38 minutos, Ibisevic recebeu pelo lado esquerdo da área e tocou a bola entre as pernas de Romero. Mas não houve tempo suficiente para o empate, a despeito do apoio incansável - e irritante, para os argentinos - dos brasileiros até o apito final.


Argentina 2 x 1 Bósnia e Herzegovina

Copa do Mundo – Grupo F


Local: Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)

Data: 15 de junho de 2014, domingo

Horário: 19 horas (de Brasília)

Árbitro: Joel Aguilar (SLV)

Assistentes: William Torres (SLV) e Juan Zumba (SLV)

Cartões amarelos: Argentina: Rojo; Bósnia e Herzegovina: Spahic

Gols: Argentina: Kolasinac (c) 2’ 1ºT e Messi 19’ 2ºT; Bósnia e Herzegovina: Ibisevic 39 2ºT

Argentina: Romero; Zabaleta, Campagnaro (Gago), Fernández, Garay e Fernández; Mascherano, Maxi Rodríguez (Higuaín) e Di María; Messi; Agüero (Biglia)

Técnico: Alejandro Sabella

Bósnia e Herzegovina: Begovic; Mujdza (Ibisevic), Bicakcic, Spahic e Kolasinac; Besic e Pjanic; Hajrovic (Visca), Misimovic (Medunjanin) e Lulic; Dzeko

Técnico: Safet Susic

O CARA

Lionel Messi vibra ao marcar contra a Bósnia, no Maracanã (AP Photo/Victor R. Caivano)

Lionel Messi, no geral, fez uma partida muito abaixo do esperado, mas, por falta de outros destaques individuais, é o destacado aqui. Por isso e, é claro, por ter mudado o panorama na partida com seu gol, dando à Argentina maior confiança. Apesar de errar algumas jogadas, foi o que mais tentou algo diferente enquanto a Albiceleste estava estagnada, mesmo sem tanto sucesso. A explosão depois de ampliar para 2 a 0 foi o ponto alto do jogo, uma mudança de paradigma na partida.

A TÁTICA

Escalações iniciais de Argentina e Bósnia-Herzegovina

Escalações iniciais de Argentina e Bósnia-Herzegovina

Surpreendentemente, Sabella preferiu começar o jogo com um 3-5-2 em vez do 4-3-3 que vinha usando nos últimos tempos. Com isso, o time perdeu a referência no ataque, Gonzalo Higuaín, o que influenciou na falta de criatividade no primeiro tempo. Eventualmente, com a entrada de Gago e Higuaín e o retorno ao esquema mais utilizado, a Albiceleste melhorou. Já a Bósnia começou no 4-5-1, encolhida, mas com o passar do tempo se soltou mais e dominou parte do jogo, normalmente buscando Dzeko no último passe.

A ESTATÍSTICA

623

Minutos que Messi ficou em campo em Copas do Mundo sem marcar nenhum gol. O  último (e único gol em Copas até então) havia sido na vitória por 6 a 0 sobre Sérvia e Montenegro, na Copa de 2006.

Jogador por jogador, as avaliações de Argentina 2×1 Bósnia-Herzegovina

Argentina

Romero – 6,5

Fez defesas imprescindíveis quando a Argentina sofria mais pressão. Falhou no gol, é verdade, mas também estava vendido no lance por culpa de seus defensores.

Zabaleta – 5,5

Teve dificuldades no apoio, longe do lateral incisivo que costuma ser. E não conseguiu acompanhar Lulic, ativo pela esquerda.

Campagnaro – 5,5

Apareceu pouco defensivamente, sem ser tão exigido. Acabou sacrificado no segundo tempo para a mudança tática.

(Gago) – 5,5

Ajudou a controlar a bola no meio-campo durante o segundo tempo, mas não foi muito além.

Fernández – 5

Falhou no gol de Ibisevic, embora tenha se mostrado importante para conter a pressão dos bósnios entre o final do primeiro tempo e o início do segundo.

Garay – 6

O melhor da defesa argentina, foi muito bem pelo alto e não deixou Dzeko aparecer. O homem que manteve a segurança do setor.

Rojo – 6

Mesmo tão criticado, Rojo foi bem. Apareceu no apoio e foi importante para anular as subidas da Bósnia pela ponta direita. Às vezes enfeitou muito.

Mascherano – 7,5

Melhor em campo na Albiceleste. Foi excepcional na proteção da defesa, isolando os bósnios da área durante a maior parte do tempo. Também ditou o ritmo da equipe, com mais de 100 passes, e foi muito bem nas bolas longas.

Maxi Rodríguez – 5

Sumiu durante quase todo o primeiro tempo, exceção quando tentava algum lance individual. Acabou substituído no intervalo.

(Higuaín) – 6,5

Sua saída do banco de reservas fez toda a diferença. Deu mais presença ao ataque e trabalhou bem a bola com os companheiros. Foi ele quem tabelou com Messi no segundo gol.

Di María – 6

Esteve muito mal no primeiro tempo, quando teve que dividir espaço na lateral do campo com Rojo. Cresceu no segundo, especialmente pela velocidade e pelos dribles.

Messi – 7

Nulo no primeiro tempo, craque quando quis ser no segundo. O lance do belo gol foi acompanhado por outros lampejos. Pouco do Messi que foi por quatro anos seguidos o melhor do mundo.

Agüero – 5

Muito apagado, errou demais quando teve oportunidade de aparecer. Não acertou nenhum chute no gol e perdeu muitas bolas para a defesa rival.

(Biglia) – sem nota

Entrou em campo para dar mais tranquilidade ao time, mas só nos minutos finais.

Bósnia-Herzegovina

Begovic – 6

Não teve culpa nos gols, mas só fez uma defesa na partida. Demonstrou segurança nas bolas alçadas.

Mujdza – 5

Teve dificuldades para marcar os argentinos na lateral direita, sobretudo no segundo tempo. Foi nulo no apoio.

(Ibisevic) – 6,5

Entrou e mostrou por que foi o artilheiro da Bósnia nas Eliminatórias. Fez o que se esperava de Dzeko, oportunista para marcar o único gol de sua equipe.

Bicakcic – 5

Não demonstrou tanta confiabilidade e esteve lento demais para acompanhar o ataque argentino.

Spahic – 6

O experiente capitão foi quem mais deu combate na defesa bósnia. Por isso mesmo, acumulou roubadas de bola e compensou as fraquezas do setor.

Kolasinac – 6,5

O gol contra foi um pesar para o melhor da defesa da Bósnia. Trancou muitíssimo bem o lado esquerdo da linha de zaga e foi líder em desarmes.

Besic – 5

O volante foi discreto na marcação e não conseguiu acompanhar Messi em seu gol. Já no apoio, deu uma engrossada em alguns lances.

Hajrovic – 5,5

O meio-campista foi individualista demais e, por isso mesmo, foi quem mais ameaçou a meta argentina. O problema é que errou demais na saída de bola.

(Visca) – 5,5

Entrou no segundo tempo, em um momento que já não era tão favorável à Bósnia. Mesmo assim, conseguiu ser participativo.

Pjanic – 6,5

O motor do time na partida. Foi quem mais distribuiu o jogo, sempre com precisão. Também apareceu para concluir algumas vezes, mas não teve sucesso.

Misimovic – 5,5

O camisa 10 da Bósnia não foi tão bem no apoio e errou muitos passes, mas ainda assim teve seus lampejos e se dedicou na recuperação da bola. De qualquer forma, não fez muita diferença para os bósnios.

(Medunjanin) – sem nota

Jogou apenas alguns minutos, sem tempo para avaliação

Lulic – 6,5

Se movimentou bem pelo lado esquerdo do ataque, bem no apoio e na criação de oportunidades para os seus companheiros. A assistência para o gol de Ibisevic saiu de seus pés e quase marcou de cabeça, exigindo grande defesa de Romero.

Dzeko – 5

Longe do craque que se espera. O nome mais tarimbado da Bósnia esteve abaixo da crítica, aparecendo um pouco mais só no início do segundo tempo. Chutou apenas uma vez a gol o jogo todo.

Árbitro

Joel Aguilar – 6,5

Em uma partida fácil, não precisou aparecer muito. Foi sempre correto.


Fonte: Tossiro Neto/GENET - Leonardo de Escudeiro - Trivela    

Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press