Um jovem do interior vai até a capital e vê pela 1ª vez o Bahia em campo
Eu estive presente em muitos jogos importantes do Esporte Clube Bahia, mas a partida entre Bahia 2x1 Treze de Campina Grande-PB, pelo Campeonato Brasileiro da Série C em 2006, eu considero uma das mais marcantes, por ter sido o primeiro jogo que eu assisti na minha vida num estádio.
Moro no interior, Conceição do Coité, e eu estava em Salvador para um treinamento de admissão por ter sido aprovado em um concurso público. Estava hospedado em um hotel no Jardim de Alah, na Pituba (Claro, pago pela empresa, eu não tinha dinheiro pra isso). E foi justamente nesse hotel que a delegação do Treze ficou hospedada.
Lembro-me que logo cedo no domingo, dia do jogo, estávamos todos tomando o café da manhã, eu e delegação toda do Treze. Eu tinha ido comprar o jornal A Tarde. Estava lendo o caderno de esportes, e os caras me ficavam me perguntando quem iria jogar, ou não. Escondi o jornal e disse que não falaria.
Tudo isso porque Silvio Mendes teria dito que Adelino estava mais para cantor de forró que para jogador de futebol - Silvio Mendes
Então a história começa a ficar mais interessante. Adelino, que foi ex-jogador do Bahia, se aproximou e disse que ia fazer um gol na Fonte e dançar na frente da cabine do narrador Silvio Mendes, que ainda estava na Rádio Sociedade AM. Tudo isso porque Silvio Mendes teria dito que Adelino estava mais para cantor de forró que para jogador de futebol. Versão do próprio Adelino.
Como torcedor ferrenho que sou, retruquei: você pode até fazer um gol, mas o Bahia vai ganhar essa partida.
Juro que me deu vontade de pedir uma carona aos caras, pra ver se colava, se eles me levariam no ônibus dele à Fonte, porque eu estava morrendo de vontade de ir, mas não tinha nem ideia de como o fazer. Sabe como é, né? "Apenas um rapaz, latino americano e sem dinheiro no banco [nem no bolso], sem parentes importantes e vindo do interior." É, mas não tive a "cara de pau" de pedir, a vergonha falou mais alto!
Ah, mas eu não ia deixar a oportunidade de ver meu Bahia, afinal, nem sabia quando estaria na "capitá" de novo! Fui sozinho pra Fonte, com a "cara e a coragem". Pergunta aqui, pergunta ali, consegui pegar um ônibus que passava até perto da Fonte, e andei bastante até chegar.
Assim que consegui entrar, nosssaaa! Que emoção! Eu estava na Fonte! Tinha 35.317 pagantes naquele dia, opa, 35.318 comigo! Gente, e a Bamor? Lembro de Silvio Mendes gritando: "Arrepííííaaaa Bamorrrr". E eu fiquei todo arrepiado! Quanta emoção! Logo de cara, aos 3 minutos, o Bahia abre o placar na fonte. Pulei, gritei, xinguei, me arrepiei, chorei! O jogo terminou 2x1 pra nós.
E pra voltar? Saio do estádio, aquele mundo de gente, como nunca vi na vida. Qual buzu pegar? E já noite, escuro… Perguntei apenas se o buzu passava perto do mar. Pronto. Peguei buzu lotado, sozinho, olhava pra ver o mar e pensava: quando o buzu se distanciar do mar, eu peço pra descer e vou andando. Se eu seguir o mar, não me perco, porque o hotel era em frente ao mar.
Quando eu consegui retornar para o hotel, lá estava Adelino, em pé na recepção. Quando me aproximei, ele me disse: Ha! Não falei que eu faria um gol? Foi então que eu respondi na lata: E eu não falei para você que o Bahia ganhava essa partida?
Foi um dos dias mais marcantes da minha história com o Esporte Clube Bahia. Um jovem do interior, sozinho na "cidade grande" vivenciando a sua primeira aventura para ver o Esquadrão de Aço em campo. Sim, eu senti medo, gritei, xinguei, me arrepiei, chorei, mas eu insisto em dizer que "O importante que emoções eu vivi".