Postado por - Newton Duarte

M$L: O que leva os Brasileiros a investir em clubes nos EUA?

Por que brasileiros preferem investir no futebol dos EUA do que no Brasil?

Empresários brasileiros já controlam três times de futebol nos EUA, sendo dois deles comprados neste ano. O investimento nacional cresce no país norte-americano enquanto minguam recursos por aqui. Qual a explicação dessa migração de capital do Brasil para um futebol menos desenvolvido? Foi atrás dessas repostas que o blog conversou com responsáveis por times e por uma das ligas, e fará duas reportagens sobre o tema.

Primeiro, expliquemos que são duas ligas: a maior a MLS (Major League Soccer) e a mais recente NASL (Northe American Soccer League). A segunda tem como sócio majoritário a Traffic, grupo com sede brasileira, além de participação de empresários nacionais no Fort Laudardale Strikers (no qual Ronaldo se tornou sócio) e no Caroline Railhawk (da própria Traffic). Além disso, há o Orlando Soccer City, que foi comprado pelo brasileiro Flávio Augusto da Silva e contará com Kaká.

É preciso que se diga que o futebol nos EUA ainda não é um grande negócio. O que leva os brasileiros para lá é o potencial de crescimento visto que há um público numeroso fã do esporte e poucos times.

“Ainda não é um negócio rentável. A maioria dos times da MLS perde dinheiro, as equipes da NASL também perdem. Há exceções como Seattle na MLS ou o San Antonio Scorpions na NASL, entre outros motivos porque não têm tanta concorrência local de outros esportes. A questão é que queremos crescer de forma orgânica na nossa liga'', explicou Stefano Hawilla, filho de J. Hawilla e diretor-executivo da Traffic.

Sua empresa detém cerca de 60% das ações da liga, mas esse percentual deve cair para que seja mais dividido entre os clubes. Essa é uma realidade bem diferente de outros países: as equipes são donas de partes da liga, e todas têm participação no conselho onde se tomam decisões sobre os seus caminhos. A Federação Norte Americana (correspondente a CBF) apenas manda os árbitros.

Em suas decisões conjuntas, os clubes costumam se ajudar como conta Ricardo Geromel, que é um dos sócios com Ronaldo do Strikers. Ele contou que antes de tomar a decisão de comprar o time da Traffic se reuniu pelo menos duas vezes com cada um dos donos das outras equipes, que o ajudaram a entender o panorama local. “A liga trabalha para nós, para ajudar os nossos times a crescerem – e não o contrário'', analisou.

Não é só isso. Geromel, que tem um irmão jogando como zagueiro no Grêmio, explicou que o ambiente nos EUA é bem mais propício para fazer negócios. Um aspecto é a questão de legislação trabalhista e tributária, mais cara e complicada em território nacional. Há ainda um problema sério de confiança na honestidade dos participantes do esporte no Brasil.

“Consideramos que o futebol profissional brasileiro não apresenta uma opcão com significativo retorno no investimento – a não ser que você esteja disposto a sujar as mãos e não seguir todas as regras do jogo. Aliás, os clubes brasileiros não são instituições com fins lucrativos. Oficialmente, os clubes nem têm donos, apesar de alguns casos algumas águias se apoderarem e fazerem parecer seu próprio quintal.  O Paulo Cesso (um dos sócios no Strikers) chegou a ser dono de uma equipe em Guarulhos, mas tomou tanto chapéu e não foi um investimento com bom retorno'', contou o economista.

Sua declaração e a de outros donos de time deixam claro que o objetivo do futebol nos EUA é obter lucro e operar como uma empresa. Para isso, é preciso potencializar receitas, e minimizar gastos. E quais são as rendas dos times e ligas americanos?

As receitas dos jogos e de patrocínios são as principais no momento, isto é, ingressos e parceiros, mas não na camisa do time. A MLS tem uma média de público de aproximadamente 20 mil, acima do Brasileiro. Criada em 2011, a NASL tem uma média de 6 mil, parecida da Série B do Brasileiro. Ambas têm crescido a cada ano – elas não têm nenhuma conexão, e os times só jogam entre si na Copa organizada pela federação.

O investimento para se comprar um time é baixo no caso da NASL, e alto na MLS – o Orlando foi comprado por US$ 100 milhões. Mas os custos com salários não são altos se comparados com qualquer lugar do mundo, com exceção dos astros como Raul, que foi jogar no New York Cosmos, ex-time de Pelé e membro da NASL, ou Kaká.

Se tem patrocínio e ingressos, os clubes ainda não têm receita de televisão significativa na nova liga. “Estamos chegando em nossa quarta temporada e os ingressos têm crescido a cada ano. Por enquanto, os clubes têm contratos com televisões locais a cabo. Mas, quando a liga crescer mais em times, vamos procurar contratos com televisão'', contou Bill Peterson, chefe da NASL (o nome do cargo é comissioner).

Os EUA já foi o segundo maior comprador de ingressos para a Copa-2014, atrás apenas do Brasil. O interesse pelo futebol no país é crescente como ficou demonstrado pela mobilização da população durante o Mundial. Há uma organização de negócios em estruturação para explorar esse potencial. Por isso até brasileiros desistiram do “país do futebol'' para botar seu dinheiro por lá.