Postado por - Newton Duarte

Mundial de piscina curta: Brasil faz campanha histórica e termina em primeiro

Técnico credita 1º lugar à formação de um "Time Brasil", mas evita oba-oba

Alberto Silva comemora união do grupo na histórica campanha do país em Doha, mas afirma saber bem a diferença entre o Mundial em piscina curta e o em piscina longa

A primeira colocação no quadro de medalhas do Campeonato Mundial em piscina curta, encerrado neste domingo, em Doha, deixou o principal técnico da seleção brasileira, Alberto Silva, muito satisfeito. Foram dez medalhas, sete de ouro, uma de prata e duas de bronze. Mas o que o treinador mais gostou na competição foi a união do time e a presença dos atletas nas arquibancadas, assim como fazem as grandes potências do mundo na modalidade, como Estados Unidos e Austrália.

- O Mundial foi fantástico, sem dúvida nenhuma, deu tudo muito certo para o Brasil. Acho que o que mais mudou foi a união da equipe. A gente viu um time de verdade, uma união em torno do país. É algo que os melhores países do mundo sempre fizeram e a gente começou a fazer. Antes, os atletas iam nadando e dispersavam. Agora, tudo mundo grita na prova - disse o treinador.

Cielo, Felipe França, Marcos Macedo, e Guilherme Guido após a vitória no 4x100m medley (Foto: Satiro Sodre / SSPress)

A competição de Doha foi a mais importante da temporada, já que o ano de 2014 não teve Mundial em piscina longa (50m), sempre disputado em anos ímpares. E o Brasil soube aproveitar muito bem a chance de mostrar a evolução dos últimos anos. Com sete ouros, uma prata e dois bronzes, o país pulou para a ponta do quadro de medalhas no último dia de provas em Doha, com dez no total. A Hungria ficou em segundo, com seis ouros, três pratas e dois bronzes (11 no total); e a Holanda acabou em terceiro, com cinco ouros, uma prata e seis bronzes (12 no total) - o número de ouros é o critério predominante na classificação. Essa foi a melhor campanha brasileira na história da competição.

Apesar de destacar a relevância da campanha brasileira em Doha, Albertinho prefere adotar um discurso cauteloso, uma vez que o Mundial em piscina curta não tem o mesmo peso do que as grandes competições em longa:

- Não está tudo maravilhoso, estamos evoluindo muito, mas falta muita coisa para sermos potência. A gente sabe que é piscina de 25m, que é uma coisa diferente. A gente não quer fazer um oba-oba em cima do resultado. Mas ninguém aqui é bobo, ninguém acha que a medalha olímpica já veio depois do resultado que tivemos aqui. Faltam 18 meses para os Jogos, tem muita coisa para rolar, mas o trabalho está sendo feito - explicou.

O Mundial em piscina curta contou com muitos dos melhores nadadores do planeta. Dos 11 campeões olímpicos em provas individuais nos Jogos de Londres, sete estiveram em Doha. No feminino, a competição foi um pouco mais fraca, contou apenas com duas medalhistas de ouro das últimas Olimpíadas. Mas Albertinho lembra que nem mesmo o Brasil foi completo:

- A gente não obrigou ninguém a vir, teve gente que preferiu não nadar aqui, para seguir os treinos em piscina longa. Não tem problema nenhum. A gente veio igual a todo mundo, viemos fortes, mas não 100% - explicou o treinador, fazendo referência às ausências principalmente de Thiago Pereira, medalhista olímpico nos Jogos de Londres na prova dos 400m medley, Bruno Fratus, terceiro colocado no ranking mundial dos 50m livre, e Leonardo de Deus, top 5 do mundo nos 200m borboleta.

Brasil conquistou dez medalhas no total, sendo sete de ouro (Foto: Satiro Sodre / SSPress)

O ano da natação brasileira ainda não terminou. Todos os atletas que estiveram em Doha, entram em ação de novo dia 16 deste mês, no Open, que será disputado no Rio de Janeiro, e valerá como a primeira seletiva para o Mundial em piscina longa de 2015.

SHOW DE FELIPE

Felipe França terminou Mundial com cinco ouros (Foto: Satiro Sodré / SSpress)

Felipe França saiu do Campeonato Mundial como o maior medalhista de ouro da competição. Foram cinco títulos e a primeira colocação "no quadro de medalhas individual". Ele levou os títulos dos 50m e 100m peito, além de fazer parte dos revezamentos 4x50m medley masculino, 4x50m medley misto e 4x100m medley.

O reconhecimento de todos é tamanho, que Cesar Cielo pediu ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) mudar o prêmio e incluir Felipe na lista dos melhores do ano.

DO INFERNO AO CIELO

Cielo comemora Mundial, com Manaudou atrás (Foto: Satiro Sodré / SSpress)

Cesar Cielo não perdia a prova dos 50m livre em um Mundial desde Melbourne/2007, quando com 20 anos ficou na sexta posição da prova. Desde então, vinha com títulos sucessivos (2009, 2010, 2011 e 2013). Mas, em um dia infeliz, perdeu a prova e ficou com o bronze.

Recuperado, dois dias depois mostrou toda sua força ao vencer os 100m livre, batendo o francês Florent Manaudou, que havia levado os 50m e, na última prova do dia, foi determinante no revezamento 4x100m medley.

Cielo volta do Mundial com cinco medalhas. Além dos 50m e 100m livre e do 4x100m medley, ele foi ouro no 4x50m medley masculino e bronze no 4x50m medley misto.

BRILHO DAS MULHERES

Etiene Medeiros com a medalha de ouro dos 50m costas (Foto: Satiro Sodré / SSpress)

O Mundial de Doha entrou para a história para as mulheres brasileiras. Etiene Medeiros se tornou a primeira medalhista da história do país, ao conquistar o ouro nos 50m costas, com direito a recorde mundial.

Além disso, a mesma Etiene, ao lado de Larissa Martins, fez parte dos revezamentos 4x50m misto e 4x50m livre, que subiram ao pódio em Doha.

A MARATONA DE KATINKA E O SHOW DE MIREIA

Mireia Belmonte não acreditou em seu recorde dos 200m borboleta (Foto: Agência AFP )

Katinka Hosszú entrou no Mundial para nadar dez provas e ganhar dez medalhas. Os trabalhos da húngara foram quase perfeitos. Ela sai de Doha com quatro medalhas de ouro (100m e 200m costas e 100m e 200m medley), três de prata (200m borboleta, 200m livre e 400m medley) e um de bronze (50m costas). O resultado é histórico, já que ela se tornou a primeira mulher a ganhar mais de seis medalhas em uma única edição da competição.

Já a espanhola Mireia Belmonte optou por nadar um número menor de provas. Ela se inscreveu em quatro e levou quatro ouros, com direito a dois recordes mundiais. Os triunfos da loira vieram nos 400m e 800m livre, 400m medley e 200m borboleta.

A PRIMEIRA NEGRA CAMPEÃ MUNDIAL NA PISCINA CURTA

Alia Atkinson quebra recorde mundial (Foto: Francois Nel / Getty Images)

A Jamaica não tem tradição na natação, mas uma atleta fez muito sucesso em Doha. Alia Atkinson conquistou a medalha de ouro nos 100m peito com o tempo de 1m02s36, batendo a campeã olímpica Ruta Meylutite e quebrando o recorde mundial da prova.

Com isso, ela se tornou a primeira negra a ganhar uma medalha de ouro em um Mundial de piscina curta. Ela ainda saiu do Mundial com a prata nos 50m peito.

LOCHTE DECEPCIONA

Ryan Lochte não saiu feliz do Mundial de Doha (Foto: Getty Images)

Maior nome da natação atual, Ryan Lochte chegou ao Campeonato Mundial disposto a ganhar nove medalhas de ouro. Maior medalhista da história da competição, Ryan não fez um bom torneio e acabou com oito medalhas, mas "apenas" um ouro, no revezamento 4x200m livre. Foram ainda quatro pratas e três bronzes.

Após as disputas dos 200m costas e 200m medley, provas em que é campeão olímpico, saiu bastante decepcionado com as medalhas de prata.

LE CLOS HONRA PRÊMIO DE MELHOR DO ANO

Chad Le Clos venceu todas as provas de borboleta(Foto: Satiro Sodré / SSpress)

Na véspera do Mundial de natação, a Federação Internacional de Natação (FINA) deu a Chad Le Clos o prêmio de melhor nadador de 2014. No Mundial, o sul-africano provou merecer o título de grande destaque da temporada. Chad "gabaritou" as provas do borboleta, vencendo os 50m 100m e 200m, além de ter sido o campeão dos 200m livre. Destaque para os 100m borboleta, em que bateu o recorde mundial com 48s44.