Postado por - Heitor Montes

Mutante, Bahia reformula equipe titular por recuperação na Série B

Do atual time tricolor, apenas quatro jogadores começaram a temporada no Fazendão. Muriel, Eduardo, Tiago, Luiz Antônio e Allano chegaram com a Série B em curso

A adaptação é uma condição fundamental para a sobrevivência. Na natureza ou na sociedade, é preciso se ajustar às exigências para tentar chegar ao sucesso. O Bahia descobriu que a lógica também é aplicada ao futebol. Após um primeiro semestre de tropeços na Copa do Nordeste e no Campeonato Baiano, o Tricolor entrou na Série B como um dos favoritos ao acesso. Uma sequência de resultados ruins, contudo, colocou em xeque o planejamento da temporada. Para não deixar a chance de disputar a Série A em 2017 escapar, a diretoria tricolor decidiu ir ao mercado para encorpar o elenco. E os reforços contratados tornaram a equipe treinada por Guto Ferreira bem diferente da que iniciou o ano de 2016.

Apenas quatro jogadores do time titular começaram o ano no Bahia (Foto: Arte / GloboEsporte.com) Bahia reformula equipe para disputar o acesso na Série B (Foto: Arte / GloboEsporte.com)

Do atual time titular, apenas quatro jogadores começaram a temporada no Fazendão. Moisés, Juninho, Edigar Junio e Hernane são os remanescentes dos primeiros meses do ano, quando o time ainda era comandado por Doriva. Renato Cajá acertou com o Tricolor em abril, e Jackson em maio. Os dois chegaram a trabalhar com o antigo treinador, demitido no mês de junho. Muriel, Eduardo, Tiago, Luiz Antônio e Allano foram anunciados com a Série B em curso, e atuaram apenas sob o comando de Guto Ferreira.

O estopim para as mudanças ocorreu no início de julho. O Bahia havia sido derrotado pelo Vila Nova na Arena Fonte Nova e completava uma sequência de sete partidas com apenas um triunfo na Série B. Era a 15ª rodada da competição, e o Tricolor ocupava a preocupante 11ª posição. A reformulação foi anunciada pelo presidente Marcelo Sant’Ana, que na ocasião prometeu saídas e chegadas. O presidente tricolor comunicou, na época.

Tenho sentimento de frustração. Agora o trabalho e a vontade de recuperar tem que ser maior. A gente sabe que a situação é muito ruim. Perder seis jogos na sequência de sete partidas para equipes que tentam crescer no futebol brasileiro, estão se reestruturando, não é admissível. Pelo investimento que a gente tem feito esse ano para o futebol gerar resultados, para o trabalho de campo resgatar a autoestima da torcida... Estamos em débito e temos que fazer correções. Não é hora de citar nome de A ou B. Mas é inegável que, nas próximas 48 horas, jogadores vão sair e outros jogadores têm de ser contratados. Temos que aproveitar esse período que a comissão técnica terá [o Bahia terá dez dias até a próxima partida na Série B]. A gente precisa chegar na segunda pausa [no campeonato] com as modificações feitas. Sejam modificações envolvendo comissão, staff, jogadores, temos que fazer ajustes. O mais importante é o Bahia subir em novembro. Qualquer sacrifício será feito para dar o resultado que essa torcida merece

Apenas quatro jogadores do time titular começaram o ano no Bahia (Foto: Arte / GloboEsporte.com)Apenas quatro jogadores do time titular começaram o ano no Bahia (Foto: Arte / GloboEsporte.com)

Dias depois, as primeiras saídas prometidas por Sant'Ana foram confirmadas. O preparador físico Reverson Pimentel e o gerente de futebol Éder Ferrari deixaram o clube. Danilo Pires, João Paulo Penha, Hayner, Thiago Ribeiro passaram a não figurar nos planos da comissão técnica. Atualmente, apenas Thiago Ribeiro permanece no Fazendão, mas sem ser aproveitado nas partidas oficiais. Ao mesmo tempo, os primeiros reforços começaram a desembarcar no Bahia. Muriel foi o primeiro - em uma negociação que envolveu a ida de Marcelo Lomba para o Internacional, seguido por Eduardo, Luiz Antônio, Allano e Tiago.

Todos os reforços estrearam no triunfo sobre o Luverdense e não perderam mais a condição de titular. Por coincidência ou não, o Bahia subiu de produção. Nos 16 jogos antes da chegada dos novos contratados, o aproveitamento foi de 43%. Com os reforços, foram sete partidas realizadas, e rendimento de 66%. Atualmente, o Tricolor ocupa a sétima posição da Série B, com 35 pontos, três a menos que o CRB, primeiro time do G-4.

Metamorfose ambulante

Antes de contratar metade do atual time titular no meio da temporada, o Bahia já tinha passado por uma reformulação. Após fracassar na busca pelo acesso em 2015, um novo elenco foi montado pela diretoria tricolor. Dos jogadores que atuaram na Série B do ano passado, seguem no Fazendão apenas atletas revelados nas categorias de base do clube, além do zagueiro Gustavo, que se recupera de cirurgia no joelho e tem contrato até o fim deste ano.

Em 2015, o Bahia que disputava a Série B era formado por Douglas Pires; Railan, Robson, Gustavo e João Paulo; Paulinho Dias (Pittoni), Yuri (Souza), Tiago Real e Eduardo; Maxi Biancucchi e Kieza. Poucos ainda possuem vínculo com o clube baiano. Douglas Pires havia se tornado o terceiro reserva tricolor em 2016 e acabou emprestado ao Fortaleza para a disputa da Série C. Robson também perdeu espaço, e agora defende o Esteghlal, do Irã. Yuri se recuperou recentemente de cirurgia no joelho e voltou a ser relacionado, mas ainda não jogou sob o comando de Guto Ferreira.

A mudança havia sido anunciada por Marcelo Sant'Ana ainda no fim do ano passado e não tinha como base apenas critérios técnicos. O presidente buscava jogadores "mais comprometidos", característica que ele considerava essencial para a busca pelo acesso.

Marcelo Sant'Ana falou em novembro:

A gente tem uma ideia de quantos a gente julga viável a permanência. A minoria irá permanecer, dos que têm contratos que terminam agora. Durante a temporada, em algumas situações, a gente enxergou que era preciso um compromisso a mais para o Bahia retornar à Série A. Essa foi uma das principais deficiências que a gente diagnosticou no grupo. Então, quando Nei [Pandolfo, diretor de futebol] cita o perfil de atleta, fala de características de campo, como ser um atleta mais combativo, com velocidade, a gente vai ter também um cuidado maior com a questão da personalidade. Os jogadores que realmente enxerguem a responsabilidade que é vestir a camisa do Esporte Clube Bahia. A gente notou que parte dos jogadores que estavam conosco não tinha o compromisso que a gente exigia. Dos que estão terminando o contrato, uma minoria será procurada pelo Bahia para renovar

Para além do compromisso, a gestão baiana foi ao mercado em busca de jogadores de nível acima da Série B. Enquanto em 2015 o Bahia era formado por jogadores promissores que tinham pouco espaço na elite, a temporada 2016 foi de atletas cobiçados por clubes da Série A, como Hernane, procurado pelo Flamengo, e Renato Cajá, disputado por várias equipes até acertar com o Tricolor. Entre erros e acertos, o Bahia convive com o rótulo de metamorfose ambulante. Uma equipe em constante reformulação, que em busca do resgate da própria identidade, não descarta a possibilidade de começar de novo.

Fonte: Globo Esporte