Postado por - Newton Duarte

Não é o seu time, é o futebol brasileiro que está mal

Não é o seu time, é o futebol brasileiro que está mal

Há quatro semanas tenho publicado o Power Ranking Brasil. Levantamento muito comum nos esportes americanos e que tem gerado bom debate por aqui. Surpreendentemente, os maiores protestos dos torcedores não é por conta do mau posicionamento de seus clubes, e sim pela boa posição.

Conversei com muitos fãs de esporte nos últimos dias pelo Twitter e também pelos comentários nos posts e agora estendo o assunto: não é só o seu time que está jogando mal, o nível do futebol brasileiro que é baixo mesmo.

Tomemos para começo de discussão o Internacional. Sob o comando de Diego Aguirre, o Colorado soma dez vitórias, cinco empates e duas derrotas entre Campeonato Gaúcho e Libertadores da América. Claramente é um time em evolução, que passa por mudanças táticas e conceituais. Aguirre não conhecia a fundo o elenco e os adversários, por isso teve bastante dificuldade no início.

No entanto, o nível de exigência da torcida e de boa parte da imprensa é altíssimo. Bem maior do que a qualidade do próprio futebol brasileiro.

Para muitos torcedores do Inter, questionei quais times estavam jogando mais do que o Colorado em 2015. Poucos conseguiam listar vários, mas todos diziam que a equipe estava jogando muito mal. Aí está a questão principal.

Devemos, sim, cobrar um futebol melhor dos times brasileiros. A Copa do Mundo no Brasil fez com que a torcida brasileira percebesse que passamos a jogar um futebol burocrático, de chutões e cruzamentos. Nada que lembre o passado brasileiro e que seja condizente com a qualidade do nosso atleta.

No entanto, é necessária compreensão do cenário futebolístico nacional para criticar. O Inter não está jogando maravilhosamente bem, como o Colorado dos anos 1970? Sim! Mas quem está jogando assim hoje em dia no Brasil? A sequência de trabalho pode fazer com que o Internacional de Diego Aguirre evolua bastante.

A unanimidade de qualidade em território brasileiro tem sido o Corinthians. Sob o 4-1-4-1 de Tite, o Timão tem realmente jogado bem e conquistado resultados expressivos - tanto é que permanece invicto no ano. Mesmo assim, não é um time espetacular, encantador. Pode até se tornar, mas assim como no caso anterior, é necessário tempo para essa evolução.

Em sua coluna desta quarta-feira na Folha de S.Paulo, Tostão cita "as pesadas e excessivas críticas ao São Paulo". Para o craque, elas surgem a partir da "falsa expectativa criada por dirigentes, torcedores e parte da imprensa". Perfeito.

O São Paulo tem um time muito bom para o futebol brasileiro, mas longe de ser uma máquina de jogar bola. Essa enorme expectativa de que o time pode atuar como um grande clube europeu gera as críticas ferrenhas e aumenta a pressão sobre o elenco e a comissão técnica.

Mais um exemplo para o debate: Cruzeiro.

O atual bicampeão brasileiro passou por muitas mudanças. Perdeu seus principais jogadores - Lucas Silva, Everton Ribeiro e Ricardo Goulart - e o técnico Marcelo Oliveira precisou montar um time novo.

O nível apresentado pela Raposa no ano passado foi muito bom, e isso certamente aumentou a exigência da torcida. Só que é natural enfrentar dificuldades nesse início de ano. O entrosamento e a qualidade do ano passado foram alcançados depois de muito tempo, assim, acontecerão agora partidas complicadas contra adversários inferiores.

Em todos os casos acima, as reclamações dos torcedores são quase sempre as mesmas: contra times menores o futebol apresentado é pobre.

Quando me refiro ao nível ruim do futebol brasileiro, faço referência principalmente aos grandes times. É muito mais simples jogar com ligação direta, chutão o tempo todo e 500 cruzamentos por jogo do que armar uma equipe para atuar com velocidade, muitos passes e qualidade. Intensidade. E isso não se conquista da noite para o dia.

Além disso, o garoto vem da base já viciado. A cada geração deixamos de lado o talento natural do jogador brasileiro para privilegiar a força. Praticar futebol moderno não significa abandonar o talento! Significa maximizar esse talento dentro de um padrão tático.

Há ainda a questão financeira. O futebol brasileiro passou por um boom absurdo e completamente fora da realidade. Passou-se a pagar por aqui salários astronômicos, que não refletem a qualidade de atletas e treinadores. Assim, o buraco entre grandes e pequenos ficou parecendo gigantesco, mas não é assim na realidade.

A diferença é bem menor. A cada temporada, os confrontos contra times menores ficam mais nivelados do que deveriam ser. E não é por ganho de qualidade.

Citei Internacional, Corinthians, São Paulo e Cruzeiro. Poderia ter escrito sobre o Flamengo, o Atlético Mineiro, o Santos... São muitos exemplos.

Portanto, siga criticando seu time. Exija um futebol melhor, mas entenda que a realidade brasileira é dura. E não é com os velhos métodos de 50 contratações por temporada e troca de treinador a cada três meses que vamos melhorar a situação.